ÁREA: Ambiental

TÍTULO: BIORREMEDIAÇÃO DO INSETICIDA CARBOFURAN MEDIADO POR LINHAGENS FÚNGICAS DO SOLO

AUTORES: Lira, R.K.S. (UEMA) ; Jácome, A.L. (UEMA) ; Orlanda, J.F.F. (UEMA)

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo isolar e identificar fungos com potencial degradação do inseticida carbofuran em amostras de solo. Os resultados mostraram que 11 linhagens fúngicas apresentaram crescimento satisfatório no período de 0 a 72 horas de observação em meio mineral sólido suplementado com carbofuran nas diferentes concentrações 0, 10, 20, 50 e 100µg ml-1. Na análise dos resíduos do carbofuran, a linhagem AM-01 apresentou a maior atividade de degradação (42,86%), seguidas das linhagens MA-05 (39,3%) e MA-06(35,7%).%). Através da identificação das linhagens em estudo foi possível descrever quais espécies de fungos foram capazes de degradar o carbofuran. O gênero Aspergillus mostrou-se em maior ocorrência.

PALAVRAS CHAVES: Fungos; Carbofuran; Biorremediação

INTRODUÇÃO: Na última década, têm sido identificadas e caracterizadas diferentes espécies de fungos filamentosos, utilizados nos processos de biorremediação. Os fungos são conhecidos pela sua diversidade e habilidade notável para degradar materiais naturais complexos e persistentes, e pela sua capacidade de crescer sob condições ambientais de estresse como meios com baixos valores de pH, pobres em nutrientes e com baixa atividade de água, favorecendo o seu desenvolvimento diante de outros microrganismos (ATAGANA, 2006; MOLLEA et al., 2005). No solo, a participação dos fungos na degradação de agroquímicos em geral envolve a utilização de sistemas enzimáticos que, bioquimicamente, transformam o agrotóxico em nutriente e fonte de energia (SOARES et al., 2011). Isolamento, caracterização e identificação de microrganismos com a habilidade em metabolizar matérias químicas potencialmente tóxicas é essencial para a biorremediação como medida mitigadora nos problemas decorrentes de uso irracional de agrotóxicos (MOREIRA e SIRQUEIRA, 2002). O Carbofuran (2,3-diidro-2,2-dimetil-7- benzofuranil-N-metil carbamato) é um inseticida do grupo dos carbamatos, que apresenta curta persistência no ambiente e pequeno deslocamento para regiões adjacentes, sendo efetivo por contato, ingestão e por ação sistêmica (ILSI BRASIL, 1995). A participação dos fungos na degradação do carbofuran é realizada por processos bioquímicos: transformam o agrotóxico em nutriente e fonte de energia. Estudos envolvendo a biorremediação mediado por fungos se fazem necessários, pois encadeiam uma série de benefícios para o meio ambiente(SOARES et al., 2011). Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar linhagens de fungos com potencial de degradação do inseticida Carbofuran.

MATERIAL E MÉTODOS: Para a realização dos testes de biodegradação foram selecionadas vinte linhagens fúngicas preservadas na micoteca do Laboratório de Biotecnologia Ambiental (LABITEC), sendo denominadas de acordo com os códigos: MA01, MA02, MA03, MA04, MA05, MA06, MA07, MA08, MA09 (Culturas do solo de mandioca); MI01, MI02, MI03, MI04, MI05, MI06 (Culturas do solo de milho); AM01, AM02, AM03, AM04, AM05(Culturas do solo de amendoim).O inseticida utilizado foi o carbofuran (2,3-diidro-2,2-dimetil-7-enzofuranil-N-metil carbamato), inseticida comercializada como Furadan®. As concentrações de campo de ingrediente ativo serão determinadas através da consulta de Manual Técnico: The Pesticide Manual (WHOTING, 1991.A seleção de fungos com potencial de degradação do inseticida carbofuran foi realizada da através da inoculação em triplicata das linhagens fúngicas em meio de cultura Katayama proposto por Silva, Melo e Oliveira (2004). As linhagens fúngicas que apresentaram melhor crescimento em meio com carbofuran como única fonte de carbono, foram repicadas em placas de Petri contendo meio de (BDA), suplementado com diferentes concentrações de carbofuran (0, 10, 20, 50 e 100 µg ml-1). O desenvolvimento das colônias foi avaliado nos três primeiros dias. Após essa etapa foram realizados os ensaios de biodegradação do inseticida em laboratório. As análises dos resíduos de carbofuran foram dividas em etapas e avaliados por um método espectrofotométrico de acordo com Jan et al.,(2008) e Tamrakar et al.,2007) onde os resíduos do carbofuran foram transformados em composto colorido que pode ser facilmente detectado pela absorção de radiação(460nm). A identificação das linhagens fúngicas em nível de espécie foi realizada através da classificação taxonômica(BARNETT e HUNTER,1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: No estudo do crescimento micelial (Tabela 01) os resultados mostraram que os níveis de crescimento fúngico variaram em função das concentrações de cabofuran (10, 20, 50 e 100 μg mL-1) utilizadas em cada experimento, sendo que dez linhagens (AM 01, MA 01, MA 02, MA 03, MA 04, MA 05, MA 06, MI 01, MI 02 e MI 03) apresentaram melhores resultados, apresentando um crescimento micelial e taxa de inibição satisfatória. A análise da biodegradação do inseticida carbofuran em laboratório os resultados mostraram que no 1º de incubação, os fungos se mostraram sensíveis a presença do carbofuran como única fonte de carbono. Esse efeito promoveu uma absorção mais lenta do inseticida. Esse comportamento é semelhante ao relatado por outros pesquisadores, que avaliaram a toxidade do carbofuran em sistemas biológicos. Depois das análises de crescimento, foi quantificada a porcentagem de degradação de carbofuran em cada uma das linhagens fúngicas em estudo. Deste modo foi analisada a quantidade remanescente de resíduos do inseticida que estariam disponíveis nos frascos, durante a realização da análise em laboratório. A linhagem AM 01 apresentou a maior atividade de degradação (42,86%), seguidas das linhagens MA 05(39,3%) e MA 06(35,7%). A degradação do carbofuran por essas linhagens pode ser considerada como eficiente, principalmente se comparar este valores de degradação com as obtidas por Salama (1998), com fungos do solo. Os resultados obtidos pela autora demonstraram a degradação do carbofuran em 7,77 % após 21 dias de tratamento.Os resultados da identificação mostraram particularmente quais espécies de fungos foram capazes de degradar o carbofuran confome relatado na Tabela 02. O gênero Aspergillus mostrou-se em maior ocorrência.

Tabela 01

Tabela 01 - Crescimento de linhagens Fúngicas em meio katayama sólido suplementado com Carbofuran nas diversas concentrações (µg mL-1), após 72 horas.

TABELA 02

TABELA 02. Identificação das espécies fúngicas com potencial de degradação do inseticida carbofuran.

CONCLUSÕES: Os resultados obtidos no decorrer das análises indicaram que as espécies de fungos isoladas do solo sob as diversas culturas apresentaram características de degradação do carbofuran, conseguindo em meio mínimo, manter o metabolismo celular e a transformação bioquímica da molécula alvo e de seus substratos em energia. O comportamento dos fungos identificados neste trabalho leva ao entendimento que os mesmos podem ser utilizados em processos de biorremediação do inseticida carbofuran, representando uma alternativa bastante atrativa e promissora para essa aplicação.

AGRADECIMENTOS: UEMA, Laboratório de Biotecnologia Ambiental (LABTEC)

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