ÁREA: Ambiental
TÍTULO: Avaliação de elementos-traço em camarões (Farfantepenaeus paulensis) na Baia de Camamu, BA, Brasil
AUTORES: Migues, V.H. (UESB) ; Francisco, A.K. (UESB) ; Guerrazzi, M.C. (UESB) ; Bezerra, M.A. (UESB) ; Affonso, P.R.A.M. (UESB)
RESUMO: A Baía de Camamu é um importante estuário do litoral sul da Bahia em termos de
biodiversidade e como recurso econômico (pesca e turismo). Considerando as
perturbações ambientais da região, esse trabalho visou quantificar elementos-
traço (Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn e Cd) em camarões da espécie Farfantepenaeus
paulensis com ocorrência na região. As amostras de tecido foram analisadas
usando ICP OES. Foram detectados altos níveis de Cr, Mn, Fe e Zn em todos os
indivíduos e altos níveis de Cd e Cu em algumas amostras. Esses resultados
mostram que a fauna da região apresenta contaminantes ambientais que oferecem
risco à manutenção da biodiversidade e para a saúde pública. Estudos envolvendo
amostragens em diferentes épocas do ano são necessários para o monitoramento
ambiental desse estuário.
PALAVRAS CHAVES: Baia de Camamu; Camarão; Metais-traço
INTRODUÇÃO: Os frutos do mar são fontes de alimentos nutritivas, constituindo rica fonte
protéica e de micronutrientes que fazem parte da dieta das populações litorâneas
em todo o mundo (CAVALVANTE, 2003).
As avaliações dos níveis de metais traços em alimentos consumidos localmente é o
primeiro passo para se avaliar os riscos à população humana e à biodiversidade
marinha (NIENCHESKI et al., 2001). Em altas concentrações, tanto os elementos
essenciais quanto os não-essenciais são tóxicos aos organismos. Muitos metais
traço podem ser acumulados em espécies marinhas (peixes, crustáceos e moluscos)
em níveis prejudiciais à saúde dos consumidores (GOLDBERG et al., 1983; JONES et
al., 2000).
A Baía de Camamu, uma Área de Proteção Ambiental no litoral sul da Bahia,
cobrindo uma área de aproximadamente 384 km2. Na zona norte, há a costa do
Serinhaém, um sistema estuarino raso; a parte central recebe água dos rios
Igarapiúna, Pinaré e Sorajó, compondo uma zona superficial, com profundidade
média de 3 m e máxima de 7 m. O sistema Marau, localizado na parte sul da Baía,
tem uma área de 120 km2 com profundidade máxima de 37 m no canal principal da
Baía, uma área de 6,4 km de largura (PAIXÃO et al, 2010).
Essa baía funciona como área de refúgio, alimentação e viveiro para muitas
espécies, ameaçada pela exploração de petróleo e gás em campos localizados
apenas alguns quilômetros em direção ao mar. Alguns estudos têm focado no
potencial de mineração de barita em pelo menos duas ilhas no interior da Baía
(HATJE et al, 2008).
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a distribuição e a concentração
de metais-traço em camarões da espécie Farfantepenaeus paulensis em dois pontos
amostrais na Baía de Camamu.
MATERIAL E MÉTODOS: As amostras de F. paulensis foram coletadas na Baia de Camamu nas coordenadas
13o47’39,3”S/38o58’53,8”O (Costa do Serinhaém) e 13o51’21,6”S/39o00’12,3”O
(Costa do Tubarão) com redes de arrasto durante o verão (Fig. 1). O material foi
congelado e levado ao laboratório para triagem e quantificação de contaminantes.
Para tal, o material foi seco em estufa a 60ºC por 24 h, pulverizado e
peneirado. Posteriormente, foram adicionados 5,0 mL de HNO3 concentrado e 2,00
mL de H2O2 em uma massa de 100 mg da amostra contida em um béquer de 25,0 mL. A
amostra foi digerida em chapa aquecedora Tecnal por 4 h a 120ºC. O resíduo foi
dissolvido em HNO3 1,00 mol.L-1, transferido para balão volumétrico de 10,00 mL
e armazenado até análise dos elementos-traço (Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn e Cd).
Os elementos foram analisados usando espectrômetro de emissão óptica com plasma
acoplado indutivamente (ICP OES), modelo Optima 3000DV sequencial (Perkin-Elmer
–Norwalk, USA) com argônio a 99,996% (White Martins). As condições operacionais
estão descritas na Tabela 1. A determinação da concentração total dos metais foi
baseada em um método de decomposição das amostras que evitasse contaminação,
mudança na composição química da amostra e perda por volatilização dos metais.
As análises foram baseadas no peso da amostra seca, sempre acompanhadas de um
branco.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram calculados como a
concentração igual a 3x e 10x o desvio padrão, respectivamente, em 10 medidas do
branco, dividida pela inclinação da curva analítica para cada elemento-traço.
Esses limites representam a mais baixa concentração dos elementos traços em
amostras de camarão (mg.Kg-1) que pode ser quantificada por ICP OES.
Os resultados apresentados na tabela 2 correspondem à média aritmética das
análises em triplicata ± desvio padrão. As concentrações médias para os
elementos-traço foram comparadas com os limites máximos de tolerância para
metais em camarão (classificado como “outros alimentos”), de acordo com a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Todas as amostras analisadas apresentaram altos níveis de Cr, Mn, Fe e Zn.
Algumas amostras ainda apresentaram também altos níveis de Cd, no limite
tolerado pela ANVISA ou acima deste. Duas amostras foram caracterizadas também
pelos altos níveis de Cu em associação aos altos níveis de Cd (Tabela 2). Dessa
forma, demonstra-se que as populações de camarões estudadas estão sofrendo os
efeitos da acumulação de elementos-traço, alguns reconhecidos pela alta
toxicidade como Cr e Cd. Esses dados são importantes para o monitoramento
ambiental da região, validando a espécie F. paulensis como bioindicadora de
contaminação ambiental. Ainda, como essa espécie representa um importante
recurso pesqueiro para a região e constitui uma espécie chave do ecossistema
costeiro, medidas de controle da contaminação ambiental devem ser elaboradas a
fim de preservar a qualidade dos ecossistemas e evitar os riscos à saúde
pública.
Tabela 1
Tabela 1. Parâmetros operacionais do ICP OES para a
determinação dos elementos traços, Cr, Mn, Fe, Co,
Ni, Cu, Zn e Cd.
Tabela 2
Composição química, em µg.g-1, dos metais traço das
amostras F. paulensis. Os valores em negrito estão
acima do recomendado pela ANVISA.
CONCLUSÕES: Esses resultados mostram que a fauna da região apresenta contaminantes ambientais
que oferecem risco à manutenção da biodiversidade e para a saúde pública. Estudos
envolvendo amostragens em diferentes épocas do ano são necessários para o
monitoramento ambiental desse estuário.
AGRADECIMENTOS: À FAPESB pelo auxílio financeiro (PET0035/2010) e ao Instituto Chico Mendes-
ICMBio pela autorização para as coletas (SISBIO 27027-1).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA, Portaria nº 222, de 24 de março de 1998.
CAVALCANTI, A. D. 2003. Monitoramento da contaminação por elementos traço em ostras comercializadas em Recife, Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, 19(5): 1545-1551.
GOLDBERG, E. D.; KOYDE, M; HODGE, V.; FLEGAL, A. R. & MARTIN, J., 1983. U.S. Mussel Watch 1977- 1978: Results on trace metals and radio nuclides. Estuarine Coastal and Shelf Science, 16:69-83.
HATJE, V.; BARROS, F.; MAGALHÃES, W.; RIATTO, V. B.; AMORIM, F. N.; FIGUEIREDO, M. B.; SPANÓ, S. & CIRANO, M. 2008.Trace metals and benthic macrofauna distributions in Camamu Bay, Brazil: Sediment quality prior oil and gas exploration. Baseline / Marine Pollution Bulletin, 56:348–379.
JONES, G. B.; MERCURIO, P. & OLIVIER, F. 2000. Zinc in fish, crabs, oysters, and mangrove flora and fauna from Cleveland Bay. Marine Pollution Bulletin, 41: 345-352.
NIENCHESKI, L. F.; WINDOM, H. L.; BARAJ, B.; WELLS, D. & SMITH, R. 2001.Mercury in fish from Patos and Mirim lagoons, Southern Brazil. Marine Pollution Bulletin, 42: 1403-1406.
PAIXÃO, J. F.; OLIVEIRA, O. M. C; DOMINGUEZ, J. M. L.; COELHO, A. C. D.; GARCIA, K. S.; CARVALHO, G. C. & MAGALHÃES, W. F. 2010.Relationship of metal content and bioavailability with benthic macrofauna in Camamu Bay (Bahia, Brazil). Marine Pollution Bulletin, 60: 474-481.