ÁREA: Química Analítica
TÍTULO: Otimização das Condições de Adsorção de Cromato pelo Pseudofruto do Cajueiro Através de Planejamento Fatorial
AUTORES: Medeiros, T.C. (UFC) ; Gomes, M.G. (UFC)
RESUMO: Realizou-se otimização do processo de adsorção de cromato pela fibra do caju
através de planejamentos fatoriais e uso de gráficos de contorno. As variáveis
estudadas foram: pH, secagem do caju, tamanho de partícula, massa de caju,
concentração de cromo, tempo e velocidade de agitação. Os experimentos foram
feitos em batelada com 15 mL de solução padrão de K2CrO4. Foi feito planejamento
27-4 para estudar o efeito das variáveis e fazer a triagem das mais
influentes. Através de um segundo planejamento 24-1 com ponto central
foi construído um modelo de otimização. O ponto ótimo foi o ponto central do
planejamento 24-1 apresentando adsorção média de 82,47±0,33% do cromo
total. O cromo restante que não foi adsorvido se apresentou como Cr III, menos
tóxico.
PALAVRAS CHAVES: Adsorção; Cromo; Planejamento fatorial
INTRODUÇÃO: O cromo é um metal tóxico utilizado na fabricação de aço e outras ligas
metálicas, preservação de madeira, curtimento de couro, eletrodeposição,
pigmentos, corantes, fluidos de perfuração, inibidores de corrosão e produtos
têxteis (RIFKIN et al., 2004). Este metal se apresenta comumente em solução
aquosa nos estados de oxidação III e VI. Sendo o cromo VI a forma mais tóxica,
responsável por uma série de enfermidades e problemas provenientes do seu
contato (JANEGITZ et al., 2007). O uso de adsorventes naturais é uma alternativa
no tratamento de resíduos contendo metais, pois geralmente são utilizados como
adsorventes resíduos agroindustriais de baixo valor agregado (BLAIS et al.,
2003). O planejamento fatorial é uma ferramenta estatística que permite se
estudar um sistema de forma mais rápida evitando a abordagem tradicional que
consiste em estudar uma variável por vez. Nele a abordagem utilizada é variar
todas variáveis ao mesmo tempo. Dessa forma é possível se estudar o sistema com
menor número de experimentos e ainda entender como as variáveis se influenciam
mutuamente (MONTGOMERY, 1997). O objetivo deste trabalho foi estudar as
condições ideais de adsorção do ânion cromato pela fibra do bagaço do caju seco.
O bagaço do caju é um resíduo agroindustrial de baixo valor agregado gerado
pelas indústrias de sucos em grandes quantidades.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram realizados experimentos de adsorção em batelada colocando-se a fibra do
caju em contato com 15 mL de solução padrão de K2CrO4. Os
ensaios foram conduzidos conforme planejamento fatorial fracionário 27-
4 (NETO et al., 2010) tendo como resposta a porcentagem de adsorção de
cromo pela fibra do caju. Os níveis das variáveis foram: pH: 5,0 (-), 7,0 (+);
secagem do caju: estufa 65°C (-), liofilizado (+); tamanho de partícula (mesh):
60-150 (-), 20-60 (+); massa de caju (g): 1,0 (-), 1,5 (+); concentração de
cromo (mg/L): 500 (-), 1000 (+); tempo (h): 1 (-), 3 (+); velocidade de agitação
(rpm): 0 (-), 150 (+). Cada ensaio foi realizado em duplicata. Após triagem das
variáveis foi realizado planejamento fatorial fracionário com ponto central
24-1 para alcançar o ponto ótimo do sistema. Os níveis das variáveis
foram: massa de caju (g): 1,0 (-), 2,0 (0), 3,0 (+); concentração de cromo
(mg/L): 500 (-), 750 (0), 1000 (+); tempo (h): 1 (-), 2 (0), 3 (+); velocidade
de agitação (rpm): 0 (-), 150 (0), 300 (+). As variáveis fixas foram: pH: 7,0;
secagem do caju: estufa 65ºC; tamanho de partícula: 20-60 mesh. Cada ensaio foi
realizado em duplicata. Foram feitas quatro repetições no ponto central. O teor
de cromo total foi determinado a 357,9 nm em espectrômetro de absorção atômica
Varian AA240FS. O preparo da amostra para análise foi feito tomando-se uma
alíquota da mesma e 1,0 mL de HNO3 e feita a digestão a 120 ºC por 2
h em bloco digestor. O teor de cromo VI foi determinado por método
espectrofotométrico da difenilcarbazida (APHA, 2005) em 540 nm utilizando
espectrofotômetro Varian Cary 50. Os cálculos e gráficos foram feitos com o
software estatístico Minitab®.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os dados do planejamento 27-4 mostraram o efeito de cada variável na
resposta. O tamanho de partícula e a concentração de cromo apresentaram efeito
negativo, já o tipo de secagem, massa de caju, tempo e velocidade de agitação
apresentaram efeito positivo na resposta. O pH apresentou efeito negativo pouco
significativo. Para triagem de variáveis, foi levado em conta o valor de cada
efeito na resposta e alguns fatores de ordem prática. As variáveis mantidas no
segundo planejamento foram velocidade de agitação, massa de caju, concentração
de cromo e tempo, sendo as demais variáveis mantidas em valor fixo. Os gráficos
de contorno do planejamento 24-1 mostram o comportamento da resposta
nas diversas combinações de valores das variáveis (Figura 1). O sistema atingiu
um máximo no ponto central, com porcentagem de adsorção de 82,47±0,33%. Os
níveis de cada variável no ponto ótimo do sistema foram: (pH: 7,0; secagem do
caju: estufa 65ºC; tamanho de partícula: 20-60 mesh; massa de caju: 2,0 g;
concentração de cromo: 750 mg/L; tempo: 2 h; velocidade de agitação: 150 rpm).
Na figura 2 estão mostrados os gráficos de contorno em função do cromo total e
cromo VI. Analisando ambos os gráficos é possível se conhecer a especiação do
sistema em cada ponto. Os teores de cromo VI ficaram abaixo do limite de
detecção do método espectrofotométrico (0,002 mg/L Cr VI) no ponto central onde
a adsorção foi máxima. Na mesma região experimental aparecem valores de cromo
total entre 100 e 250 mg/L, estando presente totalmente na forma de Cr III,
devido à ausência de Cr VI no mesmo ponto. O Cr III é formado por redução do
CrO42- na superfície do adsorvente (BABEL; KURNIAWAN,
2004; LAKATOS et al., 2002) e também por reação com os taninos do caju.
Figura 1
Gráficos de contorno para o planejamento fatorial
fracionário 2^4-1 com ponto central.
Figura 2
Gráficos de contorno em função de concentração de
cromo total e cromo (VI)
CONCLUSÕES: Através do uso de planejamento fatorial foi possível determinar as condições
ótimas de adsorção de cromato pela fibra do caju. Foi possível compreender como as
variáveis afetam o processo de adsorção através de gráficos de superfície e uso de
ferramentas estatísticas. Os níveis de cada variável foram definidos no ponto
ótimo do sistema que apresentou mais 80% de adsorção. Todo o cromo restante que
não foi adsorvido se apresentou na forma de Cr III, bem menos tóxico que o ânion
cromato, o que mostra o caju como um adsorvente promissor no tratamento de
resíduos que contêm cromato.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Universidade Federal do Ceará, ao CNPq pela bolsa concedida e à
Embrapa pelas amostras de caju.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 2005. Standard methods for examination of water and wasterwater. 21. ed. Washington: American Public Health Association.
BABEL, S.; KURNIAWAN, T. A. 2004. Cr(VI) removal from synthetic wastewater using coconut shell charcoal and commercial activated carbon modified with oxidizing agents and/or chitosan. Chemosphere, 54: 951-967.
BLAIS, J. F.; SHEN, S.; MEUNIER, N.; TYAGI, R. D. 2003. Comparison of natural adsorbents for metals removal from acidic effluent. Environ. Technol., 24: 205-215.
JANEGITZ, B. C.; LOURENÇÃO, B. C.; LUPETTI, K. O.; FATIBELLO-FILHO, O. 2007. Desenvolvimento de um método empregando quitosana para remoção de íons metálicos de águas residuárias. Quim. Nova, 30: 879-884.
LAKATOS, J.; BROWN, S. D.; SNAPE, C. E. 2002. Coals as sorbents for the removal and reduction of hexavalent chromium from aqueous waste streams. Fuel, 81: 691-698.
MONTGOMERY, D. C. 1997. Design and analysis of experiments. 4th ed. New York: John Wiley and Sons.
NETO, B. B.; SCARMINIO, I. S.; BRUNS, R. E. 2010. Como fazer experimentos: pesquisa e desenvolvimento na ciência e na indústria. 4ª ed. Porto Alegre: Bookman.
RIFKIN, E.; GWINN, P.; BOUWER, E. 2004. Chromium and sediment toxicity. Environ. Sci. Technol., 38: 267A-271A.