ÁREA: Química Analítica
TÍTULO: Avaliação do teor de ferro total e ferro total bioacessível em amostras de carne bovina.
AUTORES: Fonseca, L. (UFPI) ; Silva, I.J.G. (UFPI) ; Moita, G.C. (UFPI)
RESUMO: A carne é uma das melhores fontes de ferro para o organismo humano, no entanto nem
todo ferro presente está disponível para a absorção. As amostras de carne
estudadas foram submetidas à simulação de digestão gastrointestinal e o teor de
ferro foi analisado na fração solúvel e comparado com a quantidade total desse
elemento presente nas amostras. Apenas uma pequena fração de ferro (8 a 15%) é
passível de absorção, sendo que a carne cozida apresenta maior teor de ferro
bioacessível que a carne in natura.
PALAVRAS CHAVES: Carne bovina; Ferro; Bioacessibilidade
INTRODUÇÃO: Estima-se que quase 40% da população mundial apresenta carência de ferro ou
níveis baixos de hemoglobina (SCHEIDER et al., 2005). A deficiência de ferro
está relacionada a um baixo nível de hemoglobina no sangue, o que se deve a
pouca absorção desse mineral pelo organismo devido às suas diferentes formas
químicas, sendo estas o ferro heme e não heme (Fe II e Fe III) (LOPES, 2003). A
biodisponibilidade de ferro mineral depende da composição e forma como os
alimentos são consumidos e da sua combinação nas dietas (ALMEIDA et al., 2004) e
só pode ser determinada in vivo. Através da simulação da digestão
gastrointestinal in vitro é possível quantificar os minerais bioacessíveis, ou
seja, aqueles que, nessas condições, possam para fase solúvel e estão passíveis
de serem absorvidos pelo organismo (CÁMARA et al., 2005). A carne bovina é uma
das melhores fontes de ferro na sua forma de mais fácil de absorção, o ferro
heme (VALLE, 2000). Para a obtenção dos minerais em solução para medidas
espectrométricas no visível, deve ser realizada uma abertura de amostra, podendo
ser a digestão por via úmida, que é utilizada para a determinação de baixas
concentrações de metais em vários tipos de amostra, porque muitos elementos de
interesse são convertidos em cátions inorgânicos simples não voláteis, que
permanecem no meio ácido (HARRIS, 2005). Assim, o objetivo deste trabalho foi
estimar o teor de ferro total e total bioacessível em carnes, obtendo a
bioacessibilidade de ferro por meio de uma simulação da digestão
gastrointestinal, em carne bovina pelo método da 1,10 fenantrolina por
espectrofotometria no visível.
MATERIAL E MÉTODOS: Amostras: As amostras de carnes analisadas foram adquiridas em frigorífico local
da cidade de Teresina-PI. Procedimento experimental: Determinação de ferro
total: 0,5 g de amostra, em triplicata, seca e moída foram pesadas em tubos de
digestão e adicionados 4 mL de HNO3. Após repouso por uma noite, os tubos foram
aquecidos em bloco digestor (100°C) por 4 horas. Depois, foi adicionado 1 mL de
HClO4 e a temperatura aumentada para 200°C, completando a digestão. Transferiu-
se o digerido para um balão volumétrico de 50 mL, adicionou-se 2,5 mL de
cloridrato de hidroxilamina 1%, 2,5 mL de 1,10-fenantrolina 0,25% e 5 mL de
acetato de sódio 1,0 mol L-1 e o volume completado com água destilada. Depois
foi determinada a concentração de ferro total a partir de uma curva analítica.
Determinação de ferro total bioacessível: Pesou-se, em triplicata, em frascos de
polipropileno, 30 g da amostra às quais foram adicionados 45 mL de água
destilada e pH ajustado para 2 com HCl 6 mol L-1. A digestão gástrica se iniciou
com a adição de 500 μL solução de pepsina, depois foi encubada (agitação e
banho-maria) por 2 h a 37 °C. Após a incubação, o pH foi ajustado para 5 com
solução de NaHCO3 1 mol L-1. Para a digestão intestinal adicionou-se 3,2 mL da
solução pancreatina-sal biliar e encubado por 2 h a 37 °C. Ao término da
digestão, o pH foi ajustado para 7,2 com uma solução 0,5 mol L-1 de NaOH. Depois
a amostra digerida foi centrifugada a 3500 rpm por 1 h, e o sobrenadante (fração
solúvel) foi transferido para um balão de 50 mL e completado o volume com água
destilada. Para determinação de ferro total bioacessível foi retirada uma
alíquota de 5 mL da fração solúvel e submetida ao mesmo procedimento utilizado
para determinar ferro total.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Como os teores de ferro bioacessível são muito pequenos e as amostras foram
submetidas à simulação de digestão gastrointestinal e à digestão por via ácida,
foram obtidos desvios maiores que para a quantificação de ferro total, para a
qual se empregou apenas a etapa de digestão ácida, além de a amostra apresentar
maior quantidade de ferro (Tabela 1).
A determinação do teor de ferro total em carnes não expressa a real contribuição
desse nutriente para suprir as necessidades do organismo humano, no entanto a
quantidade de ferro bioacessível é uma informação mais realista, pois mostra o
quanto do ferro presente na amostra pode ser absorvida. Na Tabela 1 pode-se
observar que apenas de 8 a 15% do ferro total presente nas amostras de carne
pode ser absorvido. O teor de ferro total foi determinado na carne in natura e
também na carne cozida em água, sob aquecimento em placa elétrica, até a secura,
dessa forma, a umidade da carne cozida era menor que a da carne in natura,
caracterizando uma concentração do ferro (PEDROSA; COZZOLINO, 2001). Já para o
coração, observou-se comportamento contrário, provavelmente devido a maior perda
de sangue durante a manipulação da mesma. No entanto, para todas as amostras,
observa-se que houve aumento da fração bioacessível com o cozimento, o que é
interessante, já que a carne é, normalmente, consumida após cozimento.
TABELA 1 - Teores de ferro total e ferro total bioacessível, e percent
Resultados alcançados nas determinações dos teores
de ferro total e ferro total bioacessível em
amostras de carne bovina
CONCLUSÕES: Apenas uma fração do total de ferro presente nas carnes estudadas pode ser
absorvida pelo organismo humano, sendo o teor bioacessível uma informação mais
realista. O cozimento aumenta a bioacessibilidade de ferro nas amostras.
AGRADECIMENTOS: Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e à
Coodernação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALMEIDA, C. A. N. de et al. 2004. Fatores associados a anemia por deficiência de ferro em crianças pré-escolares brasileiras. J Pediatr. (Rio J.), v. 80, n. 3.
CÁMARA, F.; AMARO, M. A.; BARBERA, R.; LAGARDA, M. J. Speciation of bioaccessible (heme, ferrous and ferric) iron from school menus. Eur. Food Res. Technol. v. 221, n. 6, 768-773. 2005.
HARRIS, D. C. Análise química quantitativa. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 862 p. 2005.
LOPES, C. G. Deficiência de ferro na alimentação humana. Disponível em http://www.acessa.com/viver/arquivo/nutricao/2003/03/7-Cristina/. 2003. Acesso em: 8 mai 2010.
PAIVA, A. A; RONDO, P. H. C.; GUERRA-SHINOHARA, E. M. 2000. Parâmetros para avaliação do estado nutricional de ferro. Rev. Saúde Pública, v. 34, n. 4.
PEDROSA, L. F.C; COZZOLINO, S. M. F. Composição centesimal de minerais de mariscos crus e cozidos da cidade de Natal/RN. Ciênc. Tecnol. Aliment. Campinas, 154-157, 2001.
SHEIDER, J. M., et al. 2005. Anemia, iron deficiency, and iron deficiency anemia in 12–36-mo-old children from low-income families. Am. J. Clin. Nutr., v. 82: p. 1269.
VALENZUELA, C. et al. 2009. Total Iron and Heme Iron Content and their Distribution in Beef Meat and Viscera. Biol. Trace Elem. Res.132, p. 103–111.
VALLE, E. R. Carne bovina: alimento nobre indispensável. Campo Grande, 2000. Disponível em: http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/divulga/GCD41.html> Acesso em: 25 outubro 2010.