ÁREA: Iniciação Científica
TÍTULO: Avaliação da desmineralização de conchas em banho ácido após tratamento com pasta dental
AUTORES: Silva, L.A.J. (UFU) ; Macedo, B.P. (UFU) ; Cunha, R.R. (UFU) ; Muñoz, R.A.A. (UFU)
RESUMO: Uma característica presente em moluscos é seu exoesqueleto formado essencialmente
de carbonato de cálcio. Os humanos possuem dentes que são formados entre outros
compostos de uma porção mineral de fosfato de cálcio. Com o tempo os dentes vão
sofrendo o processo de desmineralização e com doses de flúor acontece a
remineralização. Conciliando então os dois temas, realizou-se neste trabalho um
tratamento com pasta dental em conchas, para evitar o processo de
desmineralização em banho ácido. Para verificar a eficiência da pasta dental, os
métodos gravimétrico e volumétrico de titulação complexométrica foram empregados
para a quantificação de cálcio nas soluções ácidas e perda de massa das conchas.
PALAVRAS CHAVES: conchas; banho ácido; desmineralização
INTRODUÇÃO: Moluscos Bivalvia, popularmente conhecidos pelas conchinhas encontradas nas
praias, desenvolvem exoesqueleto rígido formado pela deposição de nácar (camadas
de conchiolina, intercalada por camadas de carbonato de cálcio, CaCO3) [1]. O
cálcio é o íon metálico com maior porcentagem na estrutura das conchas, mas
vários outros elementos podem ser incorporados na estrutura destes animais,
podendo ser usados como bioindicadores entre outras finalidades.
Os dentes do ser humano são compostos essencialmente de esmalte, dentina, polpa
e cemento. O esmalte uma camada externa de 2 mm é constituído de uma porção
mineral de hidroxiapatita [Ca5(PO4)3(OH)] 96%, e 4% de água e proteínas. Em
condições ácidas ocorre a desmineralização dos dentes, ou seja, perda de
hidroxiapatita [2]. Em condições de pH mais neutro íons flúor, proveniente da
água potável, escovação diária e mais, são incorporados na estrutura cristalina
da apatita formando flúorapatita [Ca5(PO4)3(F)] [3], deixando os dentes mais
resistentes a próxima fase de desmineralização.
Neste contexto o trabalho tem como objetivo avaliar uma possível relação entre a
escovação de dentes com a escovação de conchas usando pasta dental. A ideia
inicial é verificar se as amostras expostas a escovação terão maior resistência
quando postas em soluções ácidas, quando comparadas com amostras não tratadas.
Utilizou-se como metodologia método gravimétrico para determinação total de
perda de amostra para a solução e método volumétrico para determinar o teor de
cálcio em solução ácida.
MATERIAL E MÉTODOS: As amostras de conchas de ostras e mexilhões foram coletadas em duas praias da
região litorânea próxima de Fortaleza - CE, situados nos municípios de Cascavel-
CE (praia de Águas Belas) e Aracati-CE (praia de Canoa Quebrada). Os reagentes
HCl (37% Impex), NaOH (Dinâmica), EDTA (C10H14N2O8.2H2O - Synth) e Murexida
(C8H8N6O6 - Synth) foram diluídos ou solubilizados em Água Deionizada
(Millipore Sistema Direct-Q 3) e as amostras foram lavadas em Água Destilada.
Uma amostragem de seis conchas foi escovada uma vez por semana por um período de
dois meses com pasta dental durante dois minutos (para cada concha) e depois
enxaguada com água destilada. Uma segunda amostragem, também com seis conchas,
não recebeu o tratamento (controle). Após o período de tratamento, cada
amostragem foi dividida em três grupos, contendo cada grupo duas conchas. Cada
grupo que teve tratamento com escovação foi colocada em diferentes soluções de
ácido clorídrico. Este procedimento foi repetido para as amostras que não
tiverem tratamento, reunindo um grupo com escovação outro sem em mesmos pH’s,
para efeito de comparação. Após uma hora em digestão ácida, a parte das amostras
que não foi digerida, foi retirada do ácido, seca e pesada. Uma alíquota de cada
solução foi titulada com EDTA (0,02 mol L-1) usando como indicador murexida em
pH 12.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para um possível aproveitamento analítico de amostras de carbonato de cálcio,
provindo de moluscos bivalves, digeridos em ácido com diferente pH’s, com ou sem
tratamento de pasta de dente. Realizou-se a pesagem destas antes, e depois da
digestão, calculando assim a perda em % (porcentagem) de massa total e que se
encontra na Figura 1. Usando valores de SILVA e DEBACHER [4] para teor de cálcio
em amostras de conchas de moluscos bivalves (34%), temos uma aproximação de
quanto que se tinha deste íon nas amostras deste trabalho, podendo assim
calcular a perda de cálcio para a solução, titulando uma alíquota desta solução
com EDTA em pH 12, com indicador murexida., figura 2.
A partir da análise dos dados das tabelas um e dois, os valores encontrados para
perda de massa total e de cálcio, não condizem com o esperado no início do
projeto, pois as amostras que não foram tratadas sofreram menos com a ação de
ácido. Isso pode indicar que a escovação semanal catalisou a efeito de
desmineralização. Uma possibilidade é que através do atrito exercido das cerdas
de náilon nos exoesqueletos, fez com que, aos poucos essa foi ficando mais
suscetíveis a ataque de ácidos, do que as que não foram escovadas.
Para continuidade do trabalho deve-se realizar o método de Espectroscopia de
absorção atômica em chama (AAS – Chama), quantificar cálcio, além do método de
difração de Raios-X, estrutura cristalina. Como relatado em SILVA e DEBACHER
[4].
Figura 1
Dados de antes e depois da digestão em ácido (em
massa).
Figura 2
Dados da perda de cálcio em amostras de conchas
após digestão ácida por titulação complexométrica.
CONCLUSÕES: Conclui-se que os dados para perda de massa total, pesando as amostras antes e
depois da digestão ácida, não são compatíveis com os dados obtidos para perda de
massa de cálcio encontrada na titulação complexométrica. Isto nos dá um indício
que em diferentes regiões o teor de cálcio em conchas pode alterar-se. Mas para
se ter uma precisão destes valores e entender o que acontece na estrutura
cristalina dessas com e sem o tratamento, sugere-se que o trabalho tenha
prosseguimento, com análises em AAS – Chama e difração de Raios-X, para melhor
quantificação dos dados.
AGRADECIMENTOS: à FAPEMIG, ao IQ-UFU, à CAPES, ao CNPq e ao NUPE (Núcleo de Pesquisas em
Eletroanalítica da UFU) pela ajuda e conhecimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: [1] Wheeler, A. P. Em Hard tissue mineralization and determination;Suga, S.; Watabe, N.; eds.; Springer-Verlag: Tokyo, 1992
[2] www.uel.br/pessoal/buzato/pages/arquivos/pratica2ano/Aula02.do, acessado em Julho de 2012
[3] http://anapauladias.wordpress.com/2008/10/21/importancia-do-fluor-para-os-dentes/, acessada em Julho de 2012
[4] SILVA, Denyo; DEBACHER, Nito Angelo; CASTILHOS JUNIOR, Armando Borges de and ROHERS, Fabio. Caracterização físico-química e microestrutural de conchas de moluscos bivalves provenientes de cultivos da região litorânea da ilha de Santa Catarina. Quím. Nova[online]. 2010, vol.33, n.5, pp. 1053-1058.