ÁREA: Materiais
TÍTULO: AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE FASE DE MACROMOLÉCULAS ASFALTÊNICAS NA PRESENÇA DE ADITIVOS COMERCIAIS
AUTORES: Loureiro, T. (IMA/UFRJ) ; Spinelli, L. (IMA/UFRJ) ; Lucas, E. (IMA/UFRJ) ; Ferreira, S. (IMA/UFRJ)
RESUMO: Os asfaltenos são sólidos orgânicos de alta massa molar e polaridade, consistindo
em várias estruturas poliaromáticas com cadeias alifáticas contendo heteroátomos
como enxofre, oxigênio e nitrogênio, e metais como níquel e vanádio. Neste
trabalho, avaliou-se o comportamento de fase dos asfaltenos na presença de sete
aditivos comerciais, os quais foram codificados neste trabalho de AI1 a AI7,
avaliados por meio de ensaio de precipitação com auxílio de um espectrofotômetro
de infravermelho próximo. Avaliaram-se sistemas contendo amostra de asfaltenos
obtidas a partir do RASF. As concentrações dos aditivos foram 0,01; 0,025; 0,05;
0,1 e 0,5 % v/v. Os resultados mostraram que não existe uma relação direta da
concentração com o onset de precipitação dos asfaltenos, para todos os sistemas.
PALAVRAS CHAVES: asfaltenos; estabilização; onset de precipitação
INTRODUÇÃO: O petróleo consiste em um sistema coloidal cuja fase dispersante é composta por
asfaltenos e resinas os quais estão em equilíbrio no reservatório. A
precipitação dos asfaltenos depende da estabilidade coloidal desses sistemas.
Quando o equilíbrio é perturbado, os asfaltenos podem formar agregados e se
adsorverem em diferentes superfícies que, durante o processamento, o óleo entra
em contato, o que pode causar problemas significativos relacionados as etapas de
processamento. (LÉON et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2003).
Os asfaltenos são sólidos orgânicos de massa molar e polaridade relativamente
elevadas, consistindo em várias estruturas poliaromáticas com cadeias alifáticas
contendo heteroátomos como enxofre, oxigênio e nitrogênio, e metais
como níquel e vanádio. Os asfaltenos podem ser definidos em termos de
solubilidade, os quais são solúveis em solventes aromáticos, e insolúveis em
solventes parafínicos leves. (IBRAHIM; IDEM, 2004; VARGAS et al.,
2009; YIN; YEN, 2000, OLIVEIRA et al., 2003).
A determinação do onset de precipitação dos asfaltenos é um método útil para
avaliar a estabilidade destas macromoléculas em um dado petróleo, e pode
ser determinado por duas técnicas distintas, a espectrometria no ultravioleta
visível (UV) e a espectroscopia no infravermelho próximo (NIR). Estas técnicas
estão baseadas no princípio do espalhamento de luz pelos agregados asfaltênicos.
(OLIVEIRA, 2006).
A fim de avaliar a estabilidade de macromoléculas asfaltênicas na presença de
alguns aditivos comerciais, neste trabalho foram realizados estudos em sistemas
modelo (asfaltenos dissolvidos em tolueno) utilizando-se n-heptano como agente
floculante, por meio de ensaio de precipitação.
MATERIAL E MÉTODOS: A amostra de asfaltenos utilizada foi obtida a partir de um resíduo
asfáltico (RASF) cedido pela REDUC, segundo a norma IP 143. Este método de
separação baseia-se na precipitação dos asfaltenos da amostra de resíduo
asfáltico em um solvente parafínico leve, o n-pentano.
Após a extração, foi feita uma análise elementar CHN e uma análise de
espectrometria de fluorescência de raios-X por energia dispersiva (EDX) da
amostra de asfaltenos, em filme de Mayla a temperatura ambiente e a vácuo com
leitura de sódio a urânio, a fim de determinar quais os elementos presentes na
amostra. Realizou-se também uma caracterização por espectroscopia de
infravermelho com transformada de Fourrier (FTIR), utilizando a técnica de filme
vazado em célula de KBr. O espectro foi varrido de 4000 a 400 cm-1 com resolução
de 4 cm-1 a temperatura ambiente.
A estabilidade dos asfaltenos extraído foi avaliada com sete aditivos
diferentes. Os aditivos utilizados são amostras comercialmente utilizadas para
este fim os quais foram codificados neste trabalho como AI1, AI2, AI3, AI4, AI5,
AI6 e AI7. O onset de precipitação dos asfaltenos na presença destes aditivos
foi determinado usando um espectrofotômetro de infravermelho próximo – NIR,
acoplado a uma bomba que titula o agente floculante (n-heptano) a uma vazão de 2
mL/min, durante 40 minutos. O equipamento apresenta uma sonda externa e o
comprimento de onda utilizado para a realização das análises foi de 1600nm. A
amostra de asfaltenos foi dispersa em solvente tolueno, a 1% m/v e foram
utilizadas cinco concentrações diferentes dos aditivos 0,01; 0,025; 0,05; 0,1 e
0,5 % v/v. As soluções foram deixadas em repouso por 24h. Um teste em branco,
sem aditivo, também foi realizado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos para a análise elementar, teor de carbono (86,72%),
hidrogênio (8,35%) e nitrogênio (1,76%), eram esperados, o que ratifica a
hipótese proposta na literatura a qual afirmou que os asfaltenos possuem uma
composição química definida. A baixa relação H/C (0,096) pode ser associada a um
teor de aromaticidade mais baixo e, consequentemente, uma estrutura menos polar.
(SPEIGHT, 2006).
Segundo a literatura, o enxofre é, usualmente, o átomo de maior concentração, o
que foi confirmado com o resultado da espectrometria de fluorescência de raios-x
por energia dispersiva (EDX), com teor de 12,713%. Os demais componentes
aparecem em quantidades bem menores, cálcio (0,012%m/m), ferro (0,006%m/m),
fósforo (0,322%m/m), níquel (0,01%m/m) e vanádio (0,045%m/m) (ANDERSEN, 1994).
A fração asfaltênica utilizada neste trabalho também foi caracterizada por FTIR
(Figura 1). Este espectro obtido foi semelhante ao espectro referente aos
asfaltenos encontrado na literatura (SILVERSTEIN; WEBSTER 2000; YEN; ERDMAN,
1962; HERNANDÉZ et al., 2003; DONAGGIO et al., 2001; OLIVEIRA, 2006).
Em relação ao teste de onset de precipitação da fração asfaltênica extraída em
meio aos aditivos comerciais, a Tabela 1 mostra que o onset de precipitação de
todos os aditivos, nas concentrações de 0,01; 0,025; 0,05 e 0,1% v/v, sofreu um
deslocamento para volumes maiores em comparação ao sistema sem aditivo, o qual
apresentou o onset de precipitação em 16,6mL, com exceção do AI1 e AI3 (0,01%
v/v), AI2 (0,1% v/v). Na concentração de 0,5% v/v somente dois aditivos
apresentaram comportamento esperado, o AI1 e o AI5.Os resultados mostraram que
não existe uma relação direta da concentração com o onset de precipitação dos
asfaltenos, para todos os sistemas.
Figura 1
Espectro de FTIR da amostra de asfaltenos extraída
de resíduo asfáltico proveniente da REDUC.
Tabela 1
Onset de precipitação (mL) dos aditivos comerciais.
CONCLUSÕES: A caracterização da amostra de asfaltenos apresentou resultados semelhantes aos
resultados encontrados na literatura. Em relação aos aditivos comerciais, a
maioria dos aditivos apresentou comportamento esperado, ou seja, deslocaram o
onset de precipitação do sistema modelo para volumes maiores de agente floculante.
Observou-se uma melhor eficiência para o aditivo AI4 na concentração de 0,05% v/v.
Na maior concentração, 0,5% v/v, apenas dois aditivos deslocaram o onset de
precipitação. Pode-se dizer que estes aditivos utilizados neste trabalho atuam
como inibidor de deposição asfaltênica.
AGRADECIMENTOS: À CAPES e à REDUC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANDERSEN, S. Concentration Effects in HPLC-SEC Analysis of Petroleum Asphaltenes. J. Liq, Chrom. Relat. Tech, v. 17, p. 4065-4079, 1994.
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