ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia
TÍTULO: DETERMINAÇÃO DE PROTEINA, VITAMINA C E COMPOSTOS FENÓLICOS DA CASCA E SEMENTE DE MAMÃO
AUTORES: Santos, C.M. (UFLA) ; Alves, A.P.C. (UFLA) ; Ramos, V.O. (UFLA) ; Duarte, M.H. (UFLA) ; Lage, F.F. (UFLA) ; Abreu, C.M.P. (UFLA)
RESUMO: O mamão é produzido na maior parte do Brasil e o produto é consumido por grande parte da população preferencialmente in natura, apesar de oferecer muitos produtos pela industrialização. Cascas e sementes não são aproveitadas, sendo descartadas pelas indústrias após o processamento. O trabalho teve como objetivo determinar o teor de proteína, vitamina C e compostos fenólicos de cascas e sementes de duas variedades de mamão. As amostras de mamão foram provenientes do CEASA/MG, e o experimento foi realizado no Laboratório de Bioquímica do Departamento de Química da UFLA. As análises realizadas mostraram que o teor de compostos fenólicos, vitamina C e proteína na casca e semente de mamão, podem ser considerados significativos e utilizados como fonte alternativa de nutrientes benéficos à saúde.
PALAVRAS CHAVES: mamão; vitamina C; fenólicos
INTRODUÇÃO: O processamento dos frutos resulta em grandes quantidades de resíduos, tais como cascas, sementes e farinhas. A eliminação destes materiais geralmente representa um problema que é agravado por restrições legais. Muitos alimentos descartados podem ser aproveitados, diminuindo os gastos com alimentação e melhorando a qualidade nutricional do cardápio, reduzindo o desperdício e tornando possível a criação de novas receitas, como sucos, doces, geléias e bolos.
É sabido que os subprodutos representam uma importante fonte de proteínas, açúcares, vitamina C, sais minerais, ácidos orgânicos, fibras e compostos fenólicos que têm uma ampla gama de ação que inclui atividades antitumoral, antiviral, antibacteriana, cardioprotetora e antimutagênica (DJILAS; CANADANOVIC-BRUNET; CETKOVIC, 2009).
Inúmeros estudos afirmam que assim como os alimentos in natura, os subprodutos obtidos a partir de resíduos de indústrias alimentícias apresentam quantidades significativas de compostos com características antioxidantes (PELIZER; PONTIERI; MORAES, 2007).
O mamão é produzido na maior parte do Brasil, é consumido por grande parte da população preferencialmente in natura, apesar de oferecer diversificados produtos industrializados.
Sendo somente a polpa do mamão consumida, o restante do fruto, cascas e sementes podem ser uma alternativa, tendo como base as características nutricionais e químicas deste resíduo. Com isso este trabalho teve como objetivo determinar o teor de proteína, vitamina C e compostos fenólicos da casca e semente de duas variedades de mamão.
MATERIAL E MÉTODOS: Os frutos de mamão das cultivares Calimosa e Havai foram adquiridos no CEASA/MG e transportados para o Laboratório de Bioquímica do DQI/UFLA. Estes foram descascados, as cascas fragmentadas e as sementes retiradas e lavadas com água corrente para retirada de mucilagem. As cascas e sementes foram espalhadas em bandejas e secas em estufa a 45º C. Após a secagem as amostras foram trituradas em moinho e colocadas em recipientes lacrados para análises posteriores.
A proteína bruta foi determinada com base no conteúdo de nitrogênio total, dosado pelo método Kjeldahl, que consiste em aquecer a substância nitrogenada em ácido sulfúrico concentrado, em presença de catalisador, de maneira que o nitrogênio e o hidrogênio presentes sejam convertidos em sal amoniacal. O nitrogênio é deslocado sob a forma de amônia, na etapa de destilação. O destilado foi então titulado e conhecido o teor de nitrogênio da amostra analisada. O fator 6,25 foi utilizado para a obtenção do teor de proteína bruta (AOAC, 2005).
A extração dos compostos fenólicos das farinhas foi realizada com metanol 50%, em refluxo por três vezes consecutivas, a 80 °C e os extratos reunidos, evaporados até 25 mL e submetidos à dosagem de compostos fenólicos utilizando-se o reagente de Folin-Denis, o qual é reduzido pelos fenóis a um complexo de coloração azul em solução alcalina. (AOAC, 2005).
A extração para a análise de vitamina C foi feita com 1 g de amostra em 30 mL de ácido oxálico para a casca e 1 g de amostra em 15 mL para a semente, e cerca de 0,1 g de Kieselguhr, sob agitação, por 15 minutos, em agitador horizontal. Posteriormente, filtrada em papel Whatman nº 40. O conteúdo de ácido ascórbico foi determinado pelo método colorimétrico, com 2,4-denitrofenilhidrazina, segundo Strohecker e Henning (1967).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com a tabela 1, apenas para o teor de fenólicos na semente, o mamão Havai apresentou resultado inferior ao mamão Calimosa. Para os demais parâmetros, tanto para semente com para a casca, os resultados do mamão Havai foram superiores aos do mamão Calimosa.
Santos et. al (2006), estudaram o potencial proteico de resíduos do processamento de frutos do Ceará e obtiveram um valor médio de 24,82 g de proteínas na semente de mamão. Esse resultado está próximo ao encontrado neste trabalho (28,82 e 28,49 g).
Em um estudo da avaliação química do mamão em diferentes estádios de maturação, Silva, Diniz e Silva (2007), encontraram valores para a proteína de 4,96 g (estádio 1) e 4,52 g (estádio 2) na polpa. Os resultados encontrados para a casca foram de 6,48 g (estádio 1) e 9,58 g (estádio 2). Já para a semente os valores obtidos foram 19,22 g (estádio 1) e 17,90 g (estádio 2). Os resultados obtidos no trabalho desses autores estão inferiores ao encontrados neste estudo onde o teor de proteína está próximo de 28 g para semente e 18 g e 15 g para a casca.
Oliveira et. al (2011) observou o valor médio de 88,1 mg 100 g-1 de compostos fenólicos na polpa de mamão Formosa. Os resultados obtidos para a casca e a semente de mamão Havai e Calimosa são superiores a este (Tabela 1).
Shinagawa (2009) analisando as características físico-químicas da polpa de três cultivares de mamão, encontrou teores de vitamina C de 57,97; 76,30; 64,60 mg 100 g-1. Oliveira et. al (2011) encontrou para a polpa da cultivar de mamão Formosa, o conteúdo médio de 80,2 mg g-1. Esses valores estão abaixo dos valores para casca encontrados nesse presente trabalho.
Tabela 1
Médias dos teores em matéria seca (MS) de proteína, compostos fenólicos e vitamina C da casca e semente de mamão Havai (H) e Calimosa (C)
CONCLUSÕES: De acordo com as análises realizadas, os teores de compostos fenólicos, vitamina C e proteínas na casca e semente de mamão apresentaram valores significativos. Os valores obtidos estiveram de acordo com os resultados encontrados na literatura e foram superiores aos reportados para a polpa do fruto. Sendo assim, cascas e sementes analisadas podem ser consideradas como fonte alternativa de nutrientes, podendo participar na alimentação, com a consequente diminuição do desperdício de alimentos.
AGRADECIMENTOS: À FAPEMIG, CNPq, Capes e Ufla.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICALCHEMISTS. Official methods of analysis of Association of Official Analytical Chemists. 18 ed. Maryland: AOAC, 2005. 1094 p.
DJILAS, S.; CANADANOVIC-BRUNET, J.; CETKOVIC, G. By-products of fruits processing as a source of phytochemicals. Chemical Industry and Chemical Engineering Quarterly, v.15, n. 4, p. 191-202, 2009.
OLIVEIRA, et al. Vitamina C, carotenoides, fenólicos totais e atividade antioxidante de goiaba, manga e mamão procedentes da Ceasa do Estado de Minas Gerais. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 33, n. 1, p. 89-98, 2011.
PELIZER, H.L.; PONTIERI, H.M.; MORAES, O.I. Utilização de resíduos agroindustriais em processos biotecnológicos como perspectiva de redução do impacto ambiental. Journal of Technology Management & Innovation. v.1, n.2, p.118-127, 2007.
SANTOS, A. S. et al. Avaliação do Potencial Proteico, Mineral e Antioxidante de Resíduos de Indústrias de Processamento de Frutas do Estado do Ceará. 29a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2006. Disponível em: <http://sec.sbq.org.br/cd29ra/resumos/T1709-2.pdf>. Acesso em 2 de julho de 2012.
SHINAGAWA, F. B. Avaliação das características bioquímicas da polpa de mamão (Carica papaya L.) processada por alta pressão hidrostática. 2009. 125 p. Dissertação (Mestrado em Tecnologias alternativas para conservação de alimentos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
SILVA, G. G.; DINIZ, R. G.; SILVA, M. E. Avaliação química do mamão papaia (Carica papaya L.) em diferentes estádios de maturação. Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p. 1-7, 2007.
STROHECKER, R.; HENNING, H. M. Analisis de vitaminas: métodos comprobados. Madrid: Paz Montalvo, 1967. 428 p.