ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia
TÍTULO: Prospecção de novas moléculas inibidoras da α-amilase digestiva a partir da carambola verde
AUTORES: Aparecida Braga, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; de Oliveira Ramos, V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; Arriel Torres, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; Donizete dos Santos, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS)
RESUMO: A utilização de extratos de plantas com fins medicinais representa um vasto
campo de pesquisas. Dessa forma, os frutos verdes de carambola foram avaliados
como fonte de inibidor da enzima α-amilase. Os extratos etanólicos de carambola
foram preparados na proporção de 1:150 (p/v) sendo utilizados como inibidores
nos ensaios enzimáticos. Os ensaios foram realizados a 37ºC por quatro
diferentes períodos de tempo. A porcentagem (%) de inibição foi calculada a
partir das inclinações das retas do gráfico (absorbância x tempo), obtidas na
presença e na ausência do inibidor. Os extratos mostraram-se estáveis ao
armazenamento a -20ºC durante os oito dias analisados, mas apresentaram
instabilidade durante o ensaio de inibição da α-amilase tendendo a zero de
inibição em 156 minutos de ensaio.
PALAVRAS CHAVES: Inibição enzimática; Obesidade; Diabetes mellitus
INTRODUÇÃO: A alta prevalência e a importância das co-morbidades fazem com que a obesidade
seja considerada uma das mais importantes doenças nutricionais do mundo
ocidental (MOKDAD, 1999).
A obesidade é motivo de preocupação para as entidades de saúde, pois,
normalmente, o excesso de peso está associado a graves complicações, demandando
elevados gastos no tratamento das enfermidades associadas que muitas vezes estão
relacionadas com a invalidez precoce dos indivíduos (SILVA, 2008).
O diabetes mellitus é uma condição na qual o organismo perdeu, parcialmente, o
poder de metabolizar os açúcares fornecidos pelos alimentos ingeridos. Como
resultado, o açúcar não metabolizado acumula-se no sangue e não se transforma em
energia (NEGRI, 2005).
A utilização de extratos de plantas com fins medicinais vem contribuindo como um
vasto campo de pesquisas que fornecerá importantes subsídios geradores de
mudanças na sistematização da assistência à saúde. Novas propostas terapêuticas
deverão refletir em pesquisas para avaliar o uso apropriado quanto à posologia,
indicação, limitações e riscos de utilização. Um exemplo disto é à busca de
novos fitoterápicos, para minimizar os efeitos colaterais e os altos custos do
tratamento medicamentoso tradicional da obesidade e do diabetes tipo II.
A carambola (Averrhoa carambola L.) é pertencente à família Oxalidaceae, seu
suco é refrigerante e tem uso medicinal no tratamento de febre, escorbuto e
diarreia, sendo recomendado para dietas de emagrecimento.
Tendo em vista a possível utilização da carambola verde, como fonte de compostos
na prevenção de doenças como obesidade e diabetes mellitus tipo II, objetivou-se
neste trabalho avaliar a atividade inibitória dos extratos obtidos de carambolas
verdes sobre a α-amilase.
MATERIAL E MÉTODOS: As carambolas utilizadas (Averrhoa carambola L.) foram coletadas no pomar da
Universidade Federal de Lavras. Para obtenção do extrato, os frutos maturos
foram lavados com água destilada e secos com papel toalha. A polpa foi triturada
até completa homogeneização e em seguida armazenada em freezer a 20 graus
negativos até a sua utilização.
Para avaliar a estabilidade dos extratos etanólicos de carambola verde durante o
armazenamento a -20ºC e durante o ensaio cinético, os extratos foram preparados
em triplicata, utilizando-se etanol na proporção de 1:150 p/v. O extrato foi
agitado por 30 minutos a 4ºC, e centrifugado a 5000 x g por 5 minutos. O
sobrenadante, denominado inibidor da α-amilase, foi utilizado nos ensaios de
inibição enzimática.
Para determinação da atividade de α-amilase na presença e ausência do extrato de
carambola, foi utilizado o método proposto por Noelting e Bernfeld, (1948).
A atividade de amilase inibida (UIA/g de carambola) foi determinada a partir da
diferença entre a atividade na ausência e na presença do inibidor, após pré-
incubação por 20 minutos a 37°C. Simultaneamente foi preparado um branco de
enzima (substituindo o substrato por seu respectivo solvente), branco de
substrato (substituindo a enzima por seu respectivo solvente) e um branco
amostra (substituindo o substrato e a enzima por seus respectivos solventes).
Salienta-se que uma UIA/g equivale a um milimol de glicose que deixa de ser
produzido em um minuto de reação devido à presença do inibidor contido em um
grama de polpa de carambola.
Foram realizados dois ensaios cinéticos, no ensaio 1 a mistura reacional foi
incubada por quatro períodos de tempo, 10, 20, 30 e 40 minutos, no ensaio 2 a
mistura reacional foi incubada por oito períodos de tempo em intervalos de 15
minutos por 120 minuto
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A inibição da α-amilase pelo mesmo extrato etanólico de carambola no decorrer
dos dias e a unidade de inibição da amilase por grama de extrato seco (UIA/g)
estão mostrados na Tabela 1. Na Tabela 1, pode-se observar que a inibição da
amilase pelo extrato de carambola durante os dias analisados não sofreu variação
significativa na porcentagem de inibição e na UIA, mostrando-se estável ao
armazenamento a -20°C.
Embora o extrato etanólico da carambola seja estável ao armazenamento durante os
oito dias testados, a análise cinética da inibição realizada com quatro tempos
de incubação (10, 20, 30 e 40 minutos) apresentou tendência à diminuição da
inibição nos tempos maiores do ensaio. Isto sugere que o extrato de carambola
nas condições do ensaio enzimático sofre alguma alteração que diminui sua
atividade inibitória. Para comprovar essa observação, foi realizado um ensaio de
inibição com oito tempos de reação e duração total de duas horas de ensaio
(Gráfico 1). Os resultados confirmaram a perda da capacidade inibitória durante
o ensaio enzimático, mostrando que após aproximadamente 156 minutos a capacidade
inibitória seria nula.
Tabela 1
Efeito do armazenamento do extrato etanólico de
carambola verde na inibição da α-amilase
Gráfico 1
Perda da atividade inibitória do extrato de
carambola verde durante o ensaio cinético
CONCLUSÕES: Os extratos etanólicos de carambola verde apresentam potencial como adjuvante no
tratamento da obesidade e do diabetes mellitus tipo II por diminuírem a absorção
de carboidratos provenientes da dieta, uma vez que inibem a α-amilase, mas
mostraram-se instáveis durante o ensaio cinético, indicando que estes inibidores
sofrem degradação quando em solução. Com isso, novos trabalhos deverão ser
realizados no intuito de estabilizar estas moléculas ou ainda avaliar o potencial
de outras fontes destes inibidores de α-amilase.
AGRADECIMENTOS: Agradeço à FAPEMIG, CNPq e CAPES pelo apoio financeiro e a UFLA por todo suporte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MOKDAD, A. H. et al. The spread of the obesity epidemic in the United States, 1991-1998. Journal of American Medical Association, v. 282, n. 16, p.1519-1522, 1999.NEGRI, G. Diabetes mellitus: plantas e princípios ativos naturais hipoglicemiantes. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, Rio de Janeiro, v.41, n.2, p. 121-142, abr./jun., 2005.NOELTING, G.; BERNFELD, P. Sur les enzymes amylolytiques III. La âamilase: dosage d’ activate et controle de I’ absence I’ á-amilase. Helvetica Chimica Acta, Basel, v.31, n.1, p.286-290, 1948.SILVA, F. V. P. Avaliação metabólica sistêmica do tratamento dietético hipocalórico com predominância de alimentos de alto e baixo índice glicêmico associado à terapêutica com metformina em indíviduo com excesso de peso com ou sem alteração insulinêmica. 2008. 131p. Dissertação (mestrado em Ciências da Saúde) - Universidade de Brasília, Brasília, DF.