ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: Produção de enzimas carboidrolíticas por Trichoderma reesei em casca de arroz

AUTORES: Kupski, L. (FURG) ; Silvello, M.A.C. (FURG) ; Fontes, M.R.V. (FURG) ; Lima, T.S. (FURG) ; Garda-buffon, J. (FURG) ; Badiale-furlong, E. (FURG)

RESUMO: A cinética de produção carboidrolitica por Trichoderma reesei QM 9414 durante fermentação em estado sólido de casca de arroz foi avaliada, obtendo-se atividades máximas em 55 h de 0,605 U.mgproteína-1, 0,335 U.mgproteína-1 e 0,036 U.mgproteína-1 para endoglucanase, pectinase e amilase, respectivamente. A partir desses resultados verificamos que esse micro-organismo pode ser empregado para degradar resíduos da agroindústria de forma sustentável ao propiciar a geração de enzimas de alto valor agregado e promissor do ponto de vista industrial.

PALAVRAS CHAVES: casca de arroz; enzimas; FES

INTRODUÇÃO: A fermentação em estado sólido (FES) é um processo onde um substrato insolúvel é fermentado com umidade suficiente, mas sem água livre. O uso da FES como método de produção de enzimas pode oferecer algumas vantagens em relação à fermentação submersa, como por exemplo, uma maior concentração do produto e equipamentos simples para fermentação, bem como baixos requerimentos de agitação, aeração e geração de efluente durante a produção de enzima. Além disso, esse método emprega co-produtos agroindustriais na sua forma natural como substrato, como a casca de arroz, amplamente encontrada na Região Sul do Rio Grande do Sul, contribuindo assim para a sustentabilidade do agronegócio (CAMASSOLA e DILLON, 2010). Entre as enzimas produzidas por FES, encontram-se as carboidrolases, destacando-se celulases, amilases e pectinases, que podem ser aplicadas em diferentes setores industriais, tais como indústrias alimentícias, de ração animal, têxtil, detergente e cervejeira (SINGANHIA et al., 2010). Estas enzimas possuem aplicação restrita em processos de larga escala em função da grande quantidade requerida para a digestão dos subtratos e do seu alto custo de produção (DAS e GHOSH, 2009). Portanto, a utilização de resíduos de baixo custo como fonte de carbono ou nitrogênio, é uma alternativa que precisa ser encontrada a curto prazo para a redução dos custos de produção. Neste trabalho foi avaliada a cinética de produção enzimática durante FES com Trichoderma reesei QM 9414, empregando casca de arroz como fonte de carbono.

MATERIAL E MÉTODOS: A FES foi realizada em erlenmeyers contendo casca de arroz como substrato. Estes foram autoclavados a 121ºC durante 15 minutos e posteriormente suplementados com solução nutriente contendo (g.L-1): KH2PO4 (20), (NH4)2SO4 (13), CO(NH2)2 (3), MgSO4.7H2O (3), CaCl2 (3), FeSO4.7H2O (0,05), MnSO4.H2O (0,0156), CoCl2 (0,002), ZnSO4.7H2O (0,014). A concentração inicial de esporos de Trichoderma reesei utilizada no processo foi de 4 milhões de esporos a cada grama de substrato, adicionando-se água estéril para obtenção de um teor de umidade inicial de 50%. Estes biorreatores foram incubados a 30 ºC durante 75h, com retirada de amostra a cada 5 horas nas primeiras 25h de processo e após a cada 10h paras determinações analíticas. A extração enzimática dos fermentados foi realizada com NaCl 0,5%, proporção 1:5 (p:v) a 25ºC durante 30 minutos. O extrato bruto obtido foi quantificado quanto ao teor proteico solúvel (LOWRY et al., 1951) e atividade enzimática de endoglucanase (GHOSE, 1987), pectinase (RODRIGUEZ- FERNANDEZ, 2009) e amilase (BARAJ et al.,2010). Uma unidade (U) de endoglucanase e pectinase foi definida como a quantidade de glicose (µmol) e ácido galacturônico (mg), respectivamente, liberados e a de amilase a quantidade de amido hidrolisado (mg) por minuto nas condições do ensaio. O acompanhamento da liberação de açúcares redutores para o meio foi avaliado pelo método do 3,5 DNS (MILLER, 1959). A multiplicação fúngica foi estimada através da determinação de glicosamina (AIDOO et al., 1981) e os resultados foram ajustados ao modelo logístico para determinação dos parâmetros velocidade máxima de crescimento e tempo da fase lag (HAMIDI-ESFAHANI et al., 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Durante a fermentação ocorreu um aumento da produção enzimática, obtendo-se a maior atividade em 55h para endoglucanase 0,605 U.mgproteína-1 (15,26 U.gbiomassa seca-1), 0,335 U.mgproteína-1 (8,5 U.gbiomassa seca-1) para pectinase e 0,036 U.mgproteína-1 (0,9 U.gbiomassa seca-1) para amilase (Figura 1). ZHAO et al. (2010) avaliaram o efeito do pré-tratamento alcalino e com micro-ondas nos substratos utilizados (farelo de trigo e casca de arroz) na FES com Trichoderma sp e obtiveram atividade de endoglucanase da ordem de 6 U.gbiomassa seca-1. HEERD et al. (2011) obtiveram para pectinase produzida por Aspergillus sojae durante FES de farelo de trigo e casca de laranja (7:3) a atividade de 3,15 U.gbiomassa seca-1. GUANDALINI (2007) avaliou a produção amilolítica de Metarhizium anisopliae em resíduos amiláceos e obteve uma produção de 0,2 U.gbiomassa seca-1 para α-amilase da cepa CG 291. Os valores encontrados na literatura para endoglucanase, pectina e amilase foram 2,5, 2,7 vezes e 4,5 vezes inferiores ao produzido neste trabalho, respectivamente. Os açúcares liberados pela ação enzimática foram determinados no meio durante o processo fermentativo, sendo a maior liberação correspondente ao pico de produção dessas enzimas. De acordo com BON et al. (2008), a produção de enzimas durante a fermentação pode ou não estar relacionada com o crescimento do micro- organismo, ocorrendo neste trabalho uma produção não associada ao crescimento de Trichoderma reesei, pois ocorre produção das carboidrases inclusive na fase estacionária da fermentação (Figura 2). A velocidade máxima de crescimento foi µmáx= 0,04h-1, e tempo da fase lag (tl=9,4h), indicando que até 9,4 h o micro- organismo está se adaptando ao meio utilizado, justificando a menor produção nos períodos iniciais de fermentação

Figura 1.

cinética de produção enzimática

FIGURA 2

Curva de crescimento durante fermentação

CONCLUSÕES: A produção de enzimas carboidrolíticas em casca de arroz apresentou máxima atividade celulolítica, pectinolítica e amilolítica em 55h de processo. Portanto a casca de arroz pode ser empregada para produção de carboidrases para aplicação industrial para fins de produção de biocompostos ou tratamento de resíduos sólidos.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AIDOO, K.E.; HENDRY, R.; WOOD, B.J.B. 1981. Estimation of fungal growth in a solid state fermentation system. Applied Microbiology and Biotechnology, 12: 6-9.
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