ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS ÁCIDOS GRAXOS DOS PEIXES CAVERNÍCOLAS Ancistrus cryptophthalmus E NÃO CAVERNÍCOLAS Ancistrus sp. POR CROMATOGRAFIA GASOSA E PCA

AUTORES: Bastos, V.A.A. (UFLA) ; Ramos, V.O. (UFLA) ; Ferreira, R.L. (UFLA) ; Pinto, L.M.A. (UFLA)

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo realizar uma comparação entre o perfil lipídico de duas espécies de peixes: a espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus e a epígea Ancistrus sp.. A PCA permitiu evidenciar que houve distinção entre as duas espécies em função da composição dos ácidos graxos. No perfil lipídico do Ancistrus cryptophthalmus foi verificada maior proporção de ácidos graxos saturados; já o Ancistrus sp. apresentou predominância de ácidos graxos monoinsaturados. Conclui-se, dessa forma, que as características próprias ao meio cavernícola influenciam de maneira significativa a composição muscular de ácidos graxos nos peixes da espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus.

PALAVRAS CHAVES: Ácidos graxos; Cromatografia gasosa; Peixe cavernícola

INTRODUÇÃO: Os lipídios constituem uma classe de biomoléculas que desempenham diversas funções, dentre as quais podem-se citar: função energética, sendo armazenados nos organismos como triacilgliceróis até sua utilização; função estrutural, pois são os principais componentes de membranas celulares e responsáveis por manter a integridade, forma e permeabilidade celular; atuação em processos fisiológicos, uma vez que os lipídios da dieta são decisivos para o funcionamento de cada órgão e tecido por estarem diretamente relacionados com a produção de eicosanóides (NELSON; COX, 2010). Dessa forma, a determinação da composição química, incluindo a fração lipídica, pode representar um parâmetro de grande importância no estudo de uma espécie animal, uma vez que existe uma correlação entre o conteúdo lipídico e as características biológicas, fisiológicas e ecológicas de determinada espécie. O perfil lipídico e a composição de ácidos graxos de um peixe são variáveis entre espécies e sofrem influências de diversos fatores como a dieta adotada, sexo e idade do animal, temperatura, sazonalidade, entre outros (VISENTEINER et al., 2005). Assim, ambientes subterrâneos, com forte tendência à oligotrofia, podem promover alterações no metabolismo lipídico dos peixes, em especial os troglóbios, que são encontrados exclusivamente no ambiente subterrâneo (CULVER, 1982). Porém, não se sabe, até o presente momento, qual a extensão dessa influência. O objetivo deste trabalho foi, portanto, investigar a influência do meio subterrâneo sobre o perfil lipídico dos peixes troglóbios Ancistrus cryptophthalmus. Para tal, utilizaram-se como parâmetro para comparação, peixes epígeos (não cavernícolas) do mesmo gênero, que habitam o trecho externo da mesma drenagem que penetra a gruta Angélica.

MATERIAL E MÉTODOS: Foram coletados dez indivíduos de cada uma das espécies: Ancistrus cryptophtalmus (troglóbio) e Ancistrus sp. (epígeo) no mês de maio de 2011. A coleta dos peixes troglóbios foi realizada em dois pontos da caverna Angélica, localizada no município de São Domingos em Goiás, sendo que cinco peixes foram coletados na proximidade da entrada (P1) e os demais em um ponto mais distante, cerca de 1000 metros da entrada (P2). A espécie não troglóbia foi coletada no trecho epígeo do rio Angélica, nas proximidades da entrada da caverna (cerca de 300 metros da entrada). Os animais foram abatidos, desprovidos de cabeça e filetados. As amostras de tecido muscular foram submetidas à extração e esterificação lipídica pelo método de Folch e colaboradores (1957). Os metil ésteres de ácidos graxos foram submetidos à cromatografia gasosa utilizando-se equipamento GC-2010 (Shimadzu), equipado com detector de ionização de chama e coluna capilar de sílica fundida DB-WAX (100 m × 0,25 mm). A identificação dos picos cromatográficos foi realizada por comparação com os tempos de retenção corrigidos do padrão (SupelcoTM 37 Component FAME Mix - Sigma-Aldrich). A variação dos ácidos graxos foi determinada por meio de uma análise de agrupamento do tipo análise de componentes principais. A PCA foi realizada com matriz de dados constituída dos teores dos ácidos graxos para cada amostra. Antes da análise, os dados foram autoescalonados e a mesma foi realizada no programa GUI Octave 3.4.3 (EATON, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise dos cromatogramas indicou que os peixes cavernícolas Ancistrus cryptophthalmus submetidos a uma dieta mais restrita, apresentaram menor variedade de ácidos graxos no tecido muscular do que os de origem epígea (Ancistrus sp.). este resultado está de acordo com a literatura que indica que a variedade de ácidos graxos nos peixes refletem a variabilidade destes na dieta dos animais (VALENTE et al., 2007; VIEIRA et al., 2011). Os escores derivados da PCA são apresentados na Figura 1. Eles indicam que houve distinção entre as espécies Ancistrus sp. e Ancistrus cryptophtalmus, em função da composição dos ácidos graxos. O gráfico de pesos (Figura 2) indicou que enquanto os peixes troglóbios apresentam elevados teores de ácidos graxos saturados, os peixes epígeos exibiram no seu conteúdo lipídico maior concentração de ácidos graxos insaturados. Esta diferenciação pode estar relacionada com a temperatura da água, que dentro da caverna, no momento da coleta era superior à observada na parte epígea do rio, onde foram coletados os Ancistrus sp.. A redução na temperatura representa um fator de estresse para os peixes e provoca alterações metabólicas no animal no sentido de manter a permeabilidade das membranas celulares, condição esta determinada pela proporção de ácidos graxos poliinsaturados. (RIBEIRO et al., 2011; VISENTAINER et al., 2007). A região próxima à entrada da caverna demonstra gradientes de modificações estruturais, biológicas e físicas, criando uma zona de transição entre os sistemas epígeo e hipógeo (PROUS et al., 2004). Assim, os peixes coletados em P1 apresentam a variedade de ácidos graxos no tecido muscular intermediária entre os indivíduos epígeos e os coletados em P2.

Figura 1

Escores PCA

Figura 2

Pesos PCA

CONCLUSÕES: Conclui-se que as características próprias do meio cavernícola, principalmente a quantidade de alimento disponível e a temperatura da água, influenciam de maneira significativa a composição muscular de ácidos graxos nos peixes da espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus, contribuindo para que estes animais se diferenciem dos peixes não cavernícolas da espécie Ancistrus sp.

AGRADECIMENTOS: Os autores são gratos a CAPES e a FAPEMIG pelo apoio financeiro, ao IBAMA e a SEMARH pela concessão das licenças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CULVER D. C. 1982. Cave life: evolution and ecology. Harvard University Press, Cambridge, 189 p.

EATON, J. W. GNU Octave. Versão 3.4.3. Disponível em: <http://www.gnu.org/software/octave/donwload.html>. Acesso em: 12 jun. 2012.

FOLCH, J.; LEES, M.; STANLEY, G. H. S. 1957. Simple method for the isolatio and purification of total lipides from animal tissues. Journal of Biological Chemistry, 226: 497-509.

NELSON, D. L.; COX, M. M. 2010. Lehninger princípios de bioquímica. 5. ed. São Paulo: Sarvier, 1304 p.

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RIBEIRO, P. A. P. et al. 2011. Perfil lipídico e composição química de tilápias nilóticas em diferentes condições de cultivo. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, Salvador, 12: 199-208.

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