ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia
TÍTULO: AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE ENZIMAS ENVOLVIDAS NA LIPOGÊNESE HEPÁTICA DOS PEIXES CAVERNÍCOLAS Ancistrus cryptophthalmus E NÃO CAVERNÍCOLAS Ancistrus sp.
AUTORES: Bastos, V.A.A. (UFLA) ; Cruz, L.S. (UFLA) ; Ferreira, R.L. (UFLA) ; Pinto, L.M.A. (UFLA)
RESUMO: O presente estudo teve como objetivo realizar uma comparação entre a lipogênese
hepática de duas espécies de peixes: a espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus
e a não cavernícola Ancistrus sp. por meio da análise da atividade das enzimas
málica e glicose-6 fosfato desidrogenase. Os resultados obtidos mostram diferenças
significativas na atividade das enzimas hepáticas, entre as espécies sendo
observadas atividades maiores nos animais epígeos. Observou-se ainda que os peixes
coletados próximos a entrada da caverna apresentam características intermediárias
entre a espécie cavernícola e a de superfície.Conclui-se que as características do
meio cavernícola influenciam significativamente a lilipogênese nos peixes da
espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus.
PALAVRAS CHAVES: lipogênese; enzimas hepáticas; Peixe cavernícola
INTRODUÇÃO: Nos peixes a síntese de ácidos graxos ocorre, preferencialmente, nos tecidos
hepáticos, e a principal fonte metabólica de NAPH é a via das pentoses
fosfatadas (WANG et al., 2005). Trata-se de um processo bioquímico composto por
duas fases: uma fase oxidativa irreversível e uma fase não-oxidativa reversível.
O suprimento de NADPH, na fase oxidativa, ocorre pela ação da enzima glicose 6-
fosfato desidrogenase. Outra fonte com capacidade de providenciar NADPH para a
síntese de ácidos graxos é o ciclo do piruvato/malato, pela ação direta da
enzima málica (NELSON; COX, 2010).
Os peixes são importantes componentes das comunidades aquáticas subterrâneas
onde constituem o topo da cadeia alimentar, no entanto, poucas informações estão
disponíveis sobre seu metabolismo, mesmo sendo de extrema importância por
fornecer dados sobre características biológicas, fisiológicas e ecológicas
desses animais.
A lipogênese pode ser afetada pela composição da dieta e pela frequência da
alimentação (Visentainer et al., 2007). Assim, ambientes subterrâneos, com forte
tendência à oligotrofia, podem promover alterações no metabolismo lipídico dos
peixes, em especial os troglóbios, que são encontrados exclusivamente no
ambiente subterrâneo (Culver, 1982).
Buscou-se com este trabalho, investigar alterações nas atividades das enzimas
málica e glicose-6 fosfato desidrogenase, de uma espécie de peixe troglóbia
(Ancistrus Cryptophthalmus) utilizando como comparação o peixe não cavernícola
do mesmo gênero Ancistrus sp. Estima-se que dessa forma, possa se contribuir
para a compreensão da evolução dos grupos estritamente cavernícolas.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram coletados dez indivíduos de cada uma das espécies (Figura 1). Os peixes
troglóbios(Ancistrus cryptophtalmus) foram coletados em dois pontos da caverna
da Lapa do Angélica situada no município de São Domingos – GO. Cinco peixes
foram coletados na proximidade da entrada da caverna (P1) e os demais em um
ponto mais distante da entrada (P2), no mês de maio de 2011. A espécie não
troglóbia foi coletada na superfície do rio Angélica.
Todos os peixes foram sacrificados e dissecados. Os tecidos hepáticos foram
retirados, armazenados e mantidos em freezer até o início das análises
enzimáticas.
Foi realizado o teste de atividade enzimática utilizando a enzima málica segundo
a metodologia descrita por Spina e colaboradores (1966). As amostras do tecido
hepático foram pesadas, homogeneizadas em tampão HEPES-KOH, com pH 7,2,
colocadas em banho ultrassônico e, posteriormente, centrifugadas, a 5.600g, a
4ºC, por 30 minutos. O sobrenadante foi coletado no final.
A cinética enzimática foi realizada, por meio do método de espectrofotometria
ultravioleta, a 340nm e por 5 minutos. A atividade enzimática foi expressa em
unidades por mg de proteína solúvel hepática (atividade específica).
O teste para determinação da atividade da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase
foi realizado de acordo com o protocolo proposto por Graeve (1994) e o aumento
da absorbância foi medido em 340nm em um ensaio de 5 minutos.
O conteúdo total de proteína no hepatopâncreas foi determinado pela metodologia
de Bradford (1976).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 apresenta os valores médios das atividades específicas da enzima
málica e glicose-6 fosfato desidrogenase para as duas espécies de peixe foco
desse estudo.
Os resultados obtidos estão de acordo com os dados da literatura segundo os
quais a atividade específica para a glicose-6-fosfato desidrogenase encontra-se
numa faixa de 0,109 a 0,920 U/mg de proteína e 0,013 a 0,082 U/mg de proteína
para a enzima málica (DIAS et al., 2004; WANG et al., 2005).
Sabe-se que as atividades das enzimas que participam dos processos de lipogênese
e armazenamento lipídico nos peixes são afetadas pelo conteúdo da dieta à qual o
animal é submetido. Estudos mostram que a lipogênese pode ser estimulada por
dietas ricas em carboidratos (DIAS et al., 2004) e suprimida por dietas com
elevado conteúdo lipídico (WANG et al., 2005).
Os peixes troglóbios (Ancistrus cryptophthalmus) apresentaram atividades menores
para as duas enzimas estudadas. Este resultado pode ser relacionado com a
alimentação pobre, característica dos ambientes cavernícolas, a qual eles são
submetidos (DIAS et al., 2004).
Ao analisar as atividades enzimáticas obtidas para os peixes cavernícolas
coletados em P1, que consiste em uma zona de transição entre o ambiente
cavernícola e o ambiente externo, verifica-se, a atividade da enzima glicose-6
fosfato desidrogenase é estatisticamente igual ao valor observado nos peixes da
mesma espécie coletados em P2 o que sugere que esses animais mantiveram
constante a principal rota de produção de NADPH (via das pentoses fosfatadas).
Por outro lado, a maior disponibilidade de alimentos nessa região da caverna
propiciou uma maior atividade da enzima málica que compõe a rota alternativa de
produção de NADPH.
Figura 1
Ancistrus cryptophthalmus e Ancistrus sp.
Tabela 1
Atividade específica das enzimas hepáticas nos
peixes de origem cavernícola e não cavernícola
CONCLUSÕES: Conclui-se que as características próprias do meio cavernícola, principalmente a
quantidade de alimento disponível, influenciam de maneira significativa as
atividades das enzimas málica e glicose-6 fosfato desidrogenase nos peixes da
espécie troglóbia Ancistrus cryptophthalmus, contribuindo para que a lipogênese
nestes animais se diferenciem da observada nos peixes não cavernícolas da espécie
Ancistrus sp.
AGRADECIMENTOS: Os autores são gratos a CAPES e a FAPEMIG pelo apoio financeiro, ao IBAMA e a
SEMARH pela concessão das licenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRADFORD, M. M. 1976. A rapid sensitive method for quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical Biochemistry, 72: 248-254.
CULVER D. C. 1982. Cave life: evolution and ecology. Harvard University Press, Cambridge, 189 p.
DIAS, J. et al. 2004. Effect of dietary carbohydrate-to-lipid ratios on growth, lipid deposition and metabolic hepatic enzymes in juvenile Senegalese sole (Solea senegalensis, Kaup). Aquaculture Research, 35:1122-1130.
GRAEVE, K. 1994. Purification, characterization and cDNA sequence of glucose -6- phosphate dehydrogenase from potato (Solanum tuberosum L.). Plant Journal, 5: 353-361.
NELSON, D. L.; COX, M. M. 2010. Lehninger princípios de bioquímica. 5. ed. São Paulo: Sarvier, 1304 p.
SPINA, J.; BRIGHT, H. J.; ROSENBLOOM, J. 1966. Purification and proprieties of L-malic enzyme from Escherichia coli. Biochemistry, 9: 29-39.
VISENTAINER, J. V. et al. 2007. Lipid content and fatty acid composition of 15 marine fish species from the southeast coast of Brazil. Journal of the American Oil Chemists’ Society, 84: 543-547.
WANG, J. T. et al. 2005. Effect of dietary lipid level on growth performance, lipid deposition, hepatic lipogenesis in juvenile cobia (Rachycentron canadum). Aquaculture, 249: 439-447.