ÁREA: Alimentos

TÍTULO: PRODUTOS APÍCOLAS COMO MARCADORES AMBIENTAIS NO CEARÁ

AUTORES: Liberato, M.C.T.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Magalhães, C.E.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Silva, M.M.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Alves, P.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Garcia, M.M.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, A.S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar a poluição ambiental do Ceará através de produtos da Apis mellifera. Foram analisadas 22 amostras de mel, 4 de própolis e 3 de pólen. Cr, Se, As, Cd e Pb foram quantificados por Espectrometria de Absorção Atômica em forno de grafite. Na, K, Ca, Mg, Fe, Cu, Zn e Mn por Espectrometria de Absorção Atômica de Chama e o Hg por Espectrômetro de Absorção Atômica com gerador de hidretos. Foram calculadas as médias para os elementos Cu, Mn, Zn, Cr, Se, e Fe nos méis analisados sendo 0.43±0.27; 0.80±0.58; 0.56±0.44; 77.17±40.25; 4.31±5.28 e 1.58±1.93 mg/kg respectivamente. A própolis de Mombaça apresentou maior valor para o Cu com a média de 5,990 mg/kg, enquanto para as amostras de pólen de Trairi analisadas foi o Se que apresentou maior teor 0,335±0,331 mg/kg.

PALAVRAS CHAVES: produtos apícolas; Apis mellifera; poluição ambiental

INTRODUÇÃO: O mel é produzido a partir do néctar coletado pelas abelhas nas flores. O mel da abelha Apis mellifera é regulamentado pelo Codex Alimentarius, pelo Mercosul e pela legislação brasileira que estabelecem níveis máximos de contaminantes metálicos em função da toxicidade e tolerância cumulativa no organismo humano (CODEX, 1995; ANVISA, 1998). O pólen apícola é rico em minerais essenciais à dieta humana sofrendo variações dependendo da origem botânica ou localização geográfica. A própolis é uma substância resinosa elaborada pelas abelhas através da mistura de resinas da flora regional, enzimas salivares, cera, pólen e materiais inorgânicos. É útil na proteção da colmeia contra entrada de correntes de ar e invasores. Bioindicadores são organismos que informam as condições ambientais de um determinado local. Os produtos apícolas são exemplos de bioindicadores sendo muito utilizados para estudos envolvendo monitoramento de poluição ambiental (CONTI, 2001). Muitos apiários estão em áreas próximas às cidades ou industriais havendo exposição dos organismos a poluentes atmosféricos vindos de automóveis, fábricas, siderúrgicas, minerações, depósitos de lixo etc. Através de estudos sobre constituintes minerais em produtos apícolas é possível avaliar efeitos da poluição ambiental e usá-los como marcadores da poluição. Os metais pesados responsáveis pela contaminação dos produtos apícolas são principalmente: Chumbo, Cobre, Cromo, Manganês, Níquel, Zinco, Prata, Ferro, Cádmio, Alumínio, Cobalto e Estrôncio. Quando em níveis acima do estabelecido pela legislação, esses metais representam séria ameaça pelos efeitos cumulativos de contaminantes no organismo. O objetivo desse trabalho foi avaliar a poluição ambiental de regiões do Ceará através de seus produtos apícolas.

MATERIAL E MÉTODOS: Amostras: Amostras de mel, própolis e pólen coletadas no Ceará. Análise de Minerais: Méis: As cinzas foram dissolvidas em meio ácido (HCl 0,1M), e aferidas em balões de 10 mL. Cr e Se foram quantificados por Espectrometria de Absorção Atômica em forno de grafite (SpectrAA220 ZL, Varian, Australia) e Na, K, Ca, Mg, Fe, Cu, Zn e Mn por Espectrometria de Absorção Atômica de Chama (SpectrAA55, Varian, Australia) em comprimento de onda específico para cada mineral. Pólens: 1g de cada amostra de pólen apícola foi moído e pesado em tubos de Teflon. Foram adicionados 5mL de Ácido Nítrico P. A., aquecidos para digestão da matéria orgânica. As amostras foram transferidas para balão volumétrico e centrifugadas. Os minerais Se, As, Cd e Pb foram quantificados por Espectrometria de Absorção Atômica em forno de grafite (SpectrAA220 ZL Varian, Mulgrave, Australia) e Na, K, Ca, Mg, Fe, Cu, e Zn por Espectrometria de Absorção Atômica de Chama (SpectrAA55, Varian, Australia) em comprimento de onda específico para cada mineral. Um Espectrômetro de Absorção Atômica Varian, SpectrAA55 com gerador de hidretos foi usado na determinação de Hg. Própolis: Foram pesados, em tubos de teflon 1g de própolis. Foram adicionados 5mL de ácido nítrico P.A., levados à chapa aquecedora para digestão da matéria orgânica. Após completa digestão, foram transferidas para balões de 25 mL e aferidas com água reagente. Após centrifugação, as determinações foram feitas por Espectrometria de Absorção Atômica de Chama em comprimento de onda específico para cada mineral (Na, K, Fe, Ca, Mg, Zn e Cu). O Hg foi determinado por Espectrometria de absorção atômica com gerador de hidretos e Se, As, Cd por Espectrometria de Absorção Atômica com forno de grafite.As análises foram feitas em triplicatas (MAGALHÃES,2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para o pólen estudado o valor máximo de Cd encontrado (0,066 mg/kg) ficou abaixo de 1mg/kg, determinado pelo Codex Alimentarius como limite de tolerância de contaminantes inorgânicos em alimentos humanos. De acordo com o Codex Alimentarius os valores máximos de Cu encontrados em açúcares e mel não devem exceder a 5,0 mg/kg. Os valores obtidos nesse trabalho excetuando-se a própolis de Mombaça não excederam este limite. Os valores máximos padronizados para o Fe pelo CODEX para alimentos, doces e mel, não deve exceder 15 mg/kg. As concentrações de ferro nas amostras de mel estiveram abaixo do determinado pelo CODEX. O Mn é considerado um metal essencial a saúde humana, porém em níveis elevados torna-se tóxico. Os teores nos méis variaram de 0,06 a 1,96 mg/kg. A maioria das amostras apresentou valores superiores ao estabelecido pela ANVISA (2004) para água (0,1 mg/kg). A causa pode ser devido a contaminação industrial, emprego de fertilizantes e outros. As principais fontes de contaminação de Zinco na atmosfera são devidas a poluição por combustíveis fósseis e produção de ligas metálicas. Os valores encontrados para todas as amostras estão abaixo do limite estabelecido pelo CODEX para mel (5 mg/kg) sendo semelhantes aos encontrados na literatura (CONTI, 2001).

TABELA 1 - CONCENTRAÇÃO DE METAIS EM MEIS DO CEARÁ

A tabela apresenta as médias das análises em triplicata de metais em meis do Ceará. Ao final foi feita a média geral com desvio padrão.

TABELA 2

A tabela apresenta a média de análises em triplicata para cada metal na região de coleta de própolis e pólen.

CONCLUSÕES: As abelhas entram em contato com agua, solo, grãos de pólen, néctar, exsudatos de plantas e excreções de insetos que podem estar contaminados com metais pesados provenientes da atmosfera. Devido a isso seus produtos são bons indicadores de poluição ambiental. Excetuando-se a própolis oriunda de Mombaça que ultrapassou o limite indicado pelo Codex Alimentarius de até 5,0 mg/kg para o Cu, a maioria das amostras apresentou-se dentro dos limites preconizados pela ANVISA e pelo Codex Alimentarius concluindo-se que a poluição ambiental das regiões produtoras das amostras analisadas não é relevante

AGRADECIMENTOS: Ao Laboratório Clementino Fraga

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA. SVS/MS. Regulamento Técnico: “Princípios Gerais para o Estabelecimento de Níveis Máximos de Contaminantes Químicos em Alimentos” e seu Anexo: ‘Limites máximos de tolerância para Contaminantes Inorgânicos”. Portaria nº 685, de 27 de Agosto de 1998.
CODEX ALIMENTARIUS. JOINT FAO/WHO. Norma General del Codex para los contaminantes y toxinas en los alimentos y piensos. 1995
CONTI, M. E.; BOTRE, F. Honey bees and their products as potential bioindicators of honey metals contamination. Environm. Monitoring and As. 69: 267-282, 2001.
MAGALHÃES, M. S. Mel e Pólen de Abelhas Apis mellifera como Bioindicadores de Poluição Ambiental por metais pesados. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Ouro Preto. MG. 2010. 68p.