ÁREA: Alimentos
TÍTULO: AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E PERMEABILIDADE AO VAPOR DE ÁGUA EM FILMES BIOPOLIMÉRICOS DE GELATINA INCORPORANDO QUITOSANA
AUTORES: Pozzada dos Santos, J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG) ; Henrique Hoffmann, P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG) ; Fernandes Bandeira, S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG) ; Motta de Moura, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG) ; Antonio de Almeida Pinto, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG)
RESUMO: O objetivo do trabalho foi estudar o efeito da adição de quitosana em filmes
biopoliméricos de gelatina. A quitosana com massa molar de 150 kDa e grau de
desacetilação 86±1% e foi testada nas concentrações de 25 e 50%. A solução
filmogênica foi produzida a partir das etapas de dissolução, agitação mecânica e
secagem, o pH da solução foi ajustado à 3 e 4. O filme de gelatina com pH 4
apresentou uma resistência á tração cerca de 32% maior do que os com pH 3, já os
filmes onde adicionou-se quitosana apresentaram valores semelhantes em ambos os
pHs. Em relação ao alongamento os filmes com pH 3 e 4 não apresentaram diferença
significativa. A permeabilidade ao vapor de água mostrou diferença significativa
nos filmes com pH 3 e 4 entre os tipos de filmes sem e com adição de quitosana.
PALAVRAS CHAVES: biopolímero; propriedades mecânicas; permeab. ao vapor de água
INTRODUÇÃO: Proteínas, lipídios e polissacarídeos são os principais biopolímeros utilizados
para produzir filmes comestíveis. Embora estes filmes tenham reconhecidas
propriedades a serem aplicadas na área alimentícia como filmes de revestimento
comestíveis, eles também possuem alguns inconvenientes que restringem sua
utilização em condições específicas, devido à sua inerente sensibilidade à água,
baixa rigidez e resistência, especialmente em ambientes úmidos (DEBEAUFORT et
al., 1998). Uma das alternativas promissoras para melhorar as propriedades dos
filmes é através da combinação de biopolímeros. Vários tipos de filmes têm sido
desenvolvidos, combinando-se polissacarídeos e proteínas, e filmes produzidos a
partir de quitosana e gelatina têm mostrado ser homogêneos devido à
miscibilidade entre os dois biopolímeros. O uso adequado de embalagens
comestíveis depende fortemente de suas propriedades de barreira e mecânicas. A
perda destas características reduz sua eficácia (CHENG et al., 2003). A
quitosana é um polissacarídeo atóxico que possui diversas propriedades
biológicas, físico-químicas e antimicrobianas, obtida principalmente pela
desacetilação alcalina da quitina (NO et al., 2007). A gelatina é uma proteína
obtida pela hidrólise do colágeno derivado da pele, tecido conjuntivo branco, e
ossos de animais. Ela contém grupos carboxílicos na sua cadeia principal e tem o
potencial de se misturar com a quitosana, devido à sua capacidade de formar
ligações de hidrogênio com a quitosana (TARAVEL e DOMARD, 1993). Além disso, a
gelatina também é um polímero biodegradável, com muitas propriedades atrativas,
tais como excelente biocompatibilidde, plasticidade e aderência, sem antígenos,
e é amplamente utilizada na área da biomedicina e no campo de produtos
farmacêuticos (WEBB et al., 1998).
MATERIAL E MÉTODOS: A gelatina (GL) foi obtida de Vettec Brasil Ltda. (São Paulo, Brasil). A
quitosana (QT) foi obtida a partir de rejeitos de camarão (Penaeus
brasiliensis) através do
processo descrito por Moura et al. (2011), obtendo-se então a pasta de quitosana
com 150 kDa e 86±1,0% de massa molar e grau de desacetilação, respectivamente. A
pasta foi seca em leito de jorro conforme metodologia descrita por Dotto et al.
(2011). Foram preparados filmes a partir da combinação de GL/QT
(100:0/75:25/50:50). A solução filme formadora (SFF) de QT foi obtida através da
dissolução do pó de QT (1% p/p) em uma solução de ácido acético 1% (v/v). A SFF
de GL foi obtida através da dissolução do pó de GL (1% p/p) em água destilada.
Após as soluções serem misturadas estas permaneceram sob agitação mecânica por 4
min á 10000 rpm. O pH foi ajustado em 3,0 e 4,0 (pHmetro MB-10, Marte, BRA). Os
filmes foram obtidos por evaporação do solvente em estufa com circulação forçada
de ar a 40ºC por 24 h. Posteriormente, os filmes foram retirados das placas e
acondicionados em dessecadores mantidos a 25ºC e 75% de umidade relativa (UR),
durante pelo menos 48 h antes das análises. A umidade foi determinada pelo
método 934.06 da AOAC (1995). A espessura dos filmes foi obtida utilizando-se um
micrômetro digital (INSIZE IP54, Series 3103-25, BRA) resolução 0,001
mm/0,00005”. Testes de permeabilidade ao vapor de água (PVA) foram realizados
gravimetricamente a 25ºC, segundo o método E96/E96M-05 da ASTM (2001b). Para
determinação das propriedades mecânicas (resistência à tração - RT e alongamento
- A) utilizou-se um texturômetro (TA.XP2i, Stable Microsystems SMD, UK)
utilizando o método D882-02 da ASTM (2001a).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 mostra os resultados dos biofilmes quanto à PVA, RT e A.
Filmes compostos de GL e QT foram obtidos e todos mostraram diferença
significativa entre si em relação a RT, porém o filme somente de GL no pH 4 foi
o que apresentou RT, em torno de 32% em relação ao filme no pH 3. A comparação
com os dados da literatura para ensaio de RT é difícil devido à composição CH
diferente, o método de solubilização e película de preparação (RIVERO et al.,
2009). Em relação à PVA no pH 3 o filme composto por GL/QT (50:50, 75:25)
apresentaram um valor cerca de 148% superior em relação ao filme de GL. Já em
relação ao pH 4 esse valor foi em torno de 43%. Toda a propriedade dessas
melhorias foram atribuídas às interações entre quitosana catiônica e a gelatina
aniônica, dando origem ao complexo eletrostática. Assim, para avaliar película
propriedades de barreira à base de gelatina ou de quitosana deve exigir que o
conhecimento da dependência de película de espessura de cada formulação
hidrocolóide particular. Quanto ao alongamento tanto os filmes em pH 3 quanto em
pH 4 não apresentaram diferença significativa entre si. Bourtoom e Chinnan,
(2008), relataram que a PVA dos filmes de mistura de carboidratos, entre estes a
quitosana, aumenta quando às proporções desta são maiores. Essa tendência foi
atribuída a maior hidrofilicidade (grupos NH3+) dos biofilmes com o
aumento do teor de quitosana. Segundo Debeaufort et al. (1998), um filme com
estrutura heterogênea apresenta descontinuidades na rede, que aumentam a
fragilidade do filme, devido a pontos preferenciais de quebra.
Tabela 1
Características dos filmes biopoliméricos com
relação à permeabilidade ao vapor de água,
resistência à tração e alongamento.
CONCLUSÕES: O filme de GL com pH 4 apresentou uma RT cerca de 32% maior do que os com pH 3,
já
os filmes onde adicionou QT apresentaram valores semelhantes em ambos os pHs. Em
relação ao A os filmes com pH 3 e 4 não apresentaram diferença significativa
(p>0,05). A PVA mostrou diferença significativa nos filmes com pH 3 e 4 entre os
tipos de filmes sem e com adição de QT, porém o menor valor foi em pH 3 no filme
de GL (2,21 g.mm.kPa-1.dia-1.m-2).
AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem a CAPES e a FURG.
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