ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL EM DIFERENTES PARTES DA PLANTA: O CASO DA ESPÉCIE Lippia origanoides Kunth (Verbenaceae) DA SERRA DE CARAJÁS, ESTADO DO PARÁ

AUTORES: BITTENCOURT. J. A. (UFPA) ; RIBEIRO, A. F. (UFPA) ; ANDRADE, E. H. A. (UFPA) ; MAIA, J. G. (UFPA) ; RIBEIRO, F. P. (UFPA)

RESUMO: Considerando a riqueza da biodiversidade amazônica e a necessidade de promover o uso sustentável dessa diversidade, foi proposta a implantação de uma Rede de Óleos Graxos, Essenciais e Produtos da Meliponicultura da Amazônia Oriental, composta por pesquisadores de instituições federais e estaduais dos Estados do Tocantins, Maranhão e Pará, como parte integrante da Rede Amazônica de Pesquisa e Desenvolvimento de Biocosméticos–REDEBIO, estimulando o intercâmbio entre instituições, a interação entre pesquisadores e disponibilidade de infra-estrutura para a pesquisa nos três estados que compõem a rede. O presente trabalho tem por objetivo analisar a composição química dos óleos essenciais que ocorrem em diferentes partes da espécie Lippia avaliar e comparar o rendimento e a composição química.

PALAVRAS CHAVES: biodiversidade, óleos essenciais, lippia

INTRODUÇÃO: O gênero Lippia pertence à família Verbenaceae, a qual é distribuída nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo. No Brasil existem cerca de 120 espécies dessa família (MENDONÇA, 1997) e são caracterizadas como ervas eretas, procumbentes ou receptantes, até subarbustos e arbustos perenes e anuais. As folhas apresentam sua corola com colorido que varia de branco até rubescente, são pequenas e até mesmo diminutas, reunidas em inflorescências de diversos tipos, predominando as racemosas (MENDONÇA, 1997).
Além de se destacar pela grande diversidade botânica e ampla distribuição, este gênero vem recebendo importante atenção por apresentar espécies que podem ser utilizadas para os mais diversos fins. Dentre estes, um grande número de espécies se destaca por apresentar propriedades medicinais comprovadas, possuindo efeitos contra a malária (GASQUET et al., 1993), efeito antiviral (ABAD et al., 2000), atividade citostática (LÓPEZ et al., 1979, SLOWING BARILLAS, 1992, KLUEGER et al., 1997), assim como ação sedativa, diurética, anti-reumática, anti-inflamatória, miorrelaxante e outras (MORTON, 1981, VALE et al., 1999; RAO et al., 2000; VIANA et al., 2000; PASCUAL et al., 2001). Algumas espécies também têm sido usadas na indústria alimentícia na produção de aromatizantes, temperos e na produção de cosméticos e perfumes (STASHENKO et al., 2003).
Diversas espécies do gênero Lippia apresentam propriedades medicinais comprovadas. Os constituintes químicos de L. alba (Mill.) N.E. Br., por exemplo, têm ação sedativa, antiespasmódica e estomáquica (GOMES et al., 1993). O extrato aquoso de L. sidoides é dotado de acentuado efeito antisséptico, antiinflamatório e cicatrizante (PASCUAL et al., 2001).

MATERIAL E MÉTODOS: O material botânico foi coletado no mês de maio de 2011, na Floresta Nacional de Carajás, Estado do Pará. O acesso à área foi autorizado pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente, sob o número 26020-1. O local de coleta é conhecido como Estrada do N1, área de atuação da empresa Vale, a qual deu apoio logístico. O local possui vegetação predominantemente de canga hemática e latosolo vermelho.
Foram utilizadas técnicas consagradas em botânica no que diz respeito à coleta, registro, armazenamento, preparação de exsicata e transporte.
O processo de identificação botânica da espécie foi realizado por taxonomista especialista do gênero Lippia, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Uma exsicata foi depositada com registro MG 201029 no Herbário João Murça Pires, do Museu Goeldi/MCT, em Belém.
O óleo essencial foi obtido por hidrodestilação utilizando sistema de vidro tipo Clevenger modificado, acoplado a sistema de refrigeração com temperatura da água de condensação por 15º C.A composição química foi obtida através da técnica CG/EM em sistema Thermo, modelo DSQII, equipado com coluna capilar de sílica DB-5MS (30m x 0,25 mm; 0,25 μm de espessura de filma) nas condições operacionais de temperatura: 60ºC – 240ºC, com gradiente de 3ºC/min; temperatura do injetor de 240ºC; gás de arraste hélio, em velocidade de arraste linear de 32 cm/s; tipo de injeção splitless (1,0 μL de uma solução na proporção de 2,0 μL de óleo para 1,0 mL de n-hexano); espectrômetro de massas: impacto eletrônico, energia do elétron a 70 eV; temperatura da fonte de íons a 200ºC.
A análise quantitativa do óleo essencial foi feita por cromatografia de gás-ioniação de chama (CG/IC), usando GC FOCUS com coluna capilar de sílica DB5-MS e nitrogênio como gás de arraste

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O processo de identificação botânica da espécie coletada foi realizado por taxonomista especialista do gênero Lippia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dra. Fátima Salimena, que identificou o exemplar como Lippia origanoides Kunth. Uma exsicata foi depositada com registro MG 201029 no Herbário João Murça Pires, do Museu Goeldi, em Belém.
A exsicata (MG 201029) enviada para a especialista pode ser confundida com Lippia gracilis Schauer, espécie muito próxima a L. origanoides Kunth. Isto deve ao fato de L. gracilis apresentar as brácteas apicais livres enquanto em L. origanoides são unidas.
Com os resultados obtidos, foi possível observar que a concentração dos óleos está localizada principalmente em flores e folhas, o que está de acordo com a literatura. A Tabela 01 apresenta os resultados dos rendimentos dos óleos voláteis em cada parte da planta estudada.
As flores possuem um rendimento em óleo essencial duas vezes maior quando comparado com as folhas. Os rendimentos em galhos finos e raízes foram mínimos, portanto, não foi possível efetuar a leitura, tendo sido desconsiderado para o cálculo.
Após análise dos espectros obtidos, foi construída a tabela 02 de acordo com tipos químicos majoritários. Para efeito de discussão, foram inseridos na tabela 02 somente os constituintes com percentual acima de 3%.
Os principais constituintes voláteis que ocorrem em L. origanoides da serra de Carajás são 1,8-cineol e E-nerolidol. Nas folhas o composto majoritário (1,8-cineol) se apresenta em mais de 30%, enquanto que nos galhos finos o majoritário (E-nerolidol) é observado com mais 25%.





CONCLUSÕES: O presente trabalho foi importante para definir a espécie estudada, visto que muitos estudos estavam sendo desenvolvidos sem a certeza da espécie. Como trata-se de um trabalho preliminar, estudos futuros devem comparar os resultados deste trabalho com os da literatura para verificação dos tipos químicos ocorrentes em espécies coletadas também na Serra de Carajás.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao ICMBio, pela autorização e apoio, à Vale pelo apoio ao trabalho de campo; e à Dra. Fátima Salimena, da UFJF, pela identificação da espéc

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