ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Atividade antioxidante de Myrcia splendens por três diferentes métodos.

AUTORES: MORESCO, H.H. (UFSC) ; COLLA, G. (UFSC) ; OLIVEIRA, A.S. (UFSC) ; BRIGHENTE, I.M.C. (UFSC)

RESUMO: A atividade antioxidante do extrato bruto e frações de M. splendens foi avaliada por três métodos analíticos de diferentes fundamentos, tais como o método que determina a ação seqüestradora do radical livre DPPH, o método que determina a atividade quelante de íons ferrosos e aquele que determina a capacidade antioxidante total através de reações do oxido-redução de íons molibdênio. Através dos dois primeiros métodos, observou-se que o extrato bruto e frações acetato de etila e butanol apresentaram maior atividade, porém a fração insolúvel, obtida antes do fracionamento líquido-líquido foi a mais ativa diante do teste que utiliza o reagente de fosfomolibdênio. Portanto, M. splendens destaca-se como uma planta com potencial para atividade antioxidante.

PALAVRAS CHAVES: antioxidantes, métodos analíticos, myrcia splendens.

INTRODUÇÃO: É crescente o interesse da comunidade científica por antioxidantes naturais, principalmente os encontrados em frutas e vegetais, uma vez que estudos farmacológicos demonstram a associação entre o seu consumo e o baixo risco à doenças degenerativas (RENAUD et al., 1998). O gênero Myrcia pertence à subtribo Myrciinae e é um dos maiores gêneros da Família Myrtaceae, com mais de 300 espécies distribuídas entre o México até o sul do Brasil (MARCHIORI & SOBRAL, 1997). Estudos fitoquímicos preliminares com espécies do gênero Myrcia revelam a presença de triterpenos, flavanonas, acetofenonas e flavonóis (YOSHIKAWA et al., 1998; GOTTLIEB et al., 1972). Algumas espécies de Myrcia são utilizadas na medicina popular, destacando-se M. multiflora (pedra-ume-caá), utilizada como hipoglicemiante na forma de infusão ou decocto (BRITO & LANETTI, 1996). A espécies Myrcia splendens (Sw.) DC., conhecida como guamirim e folha-miúda é uma espécie nativa de importância ecológica, porém sem relatos de estudos fitoquímicos e biológicos MORAIS & LOMBARDI, 2006). Considerando estes fatos, foi avaliada a atividade antioxidante do extrato bruto e frações de M. splendens, utlilizando-se para isso três metodologias diferentes: determinação da ação seqüestradora do radical livre DPPH, determinação da atividade metal-quelante e capacidade antioxidante total.

MATERIAL E MÉTODOS: As folhas de M. splendens foram secas em estufa e maceradas com etanol 70% a temperatura ambiente, durante sete dias. Após a remoção do solvente, o extrato bruto hidroalcoólico (EBH) foi dissolvido em MeOH 20% e deixado em geladeira onde precipitou uma fração insolúvel (FIn). O filtrado restante foi sequencialmente extraído com solventes de polaridade crescente, originando as frações hexânica (FH), acetato de etila (FAe), butanólica (FB) e aquosa (Aq).
O ensaio para a determinação da atividade antioxidante utilizando o radical livre 2,2-difenil-1-picril-hidrazil ou DPPH (CAVIN et al.1998) baseia-se no descoramento de uma solução composta pelo radical estável, de cor violeta a 517 nm, quando da adição de substâncias que podem ceder um átomo de hidrogênio, (Figura 1). Os resultados são expressos em concentração necessária para causar 50% da atividade-CE50.
No ensaio para a determinação da atividade quelante de íons Fe(II) (DINIS et al., 1994), a ferrozina, um reagente cromogênico, torna a solução rósea ao se quelar com o Fe(II) disponível. Assim, quanto menor a quelação de íons ferrosos pela amostra (200 ug/mL), maior o número de íons ferrosos disponíveis para reação com a ferrozina e maior será a absorvância que pode ser acompanhado a 562 nm (Figura 1). O resultado é expresso em porcentagem de quelação metal-amostra vegetal.
O método para a determinação da capacidade antioxidante total utiliza fosfomolibdênio, cuja redução do reagente Mo+6 a fosfato de Mo+5, é observado em espectrofotômetro a 695 nm (PRIETO et al. 1999). Os resultados são expressos em mg de ácido ascórbico por grama de amostra vegetal (Eq AA).


RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com a Tabela 1 observa-se que a fração que apresentou a maior capacidade de seqüestro de radicais livres foi a FAe, com CE50 = 8,44 ug/mL, seguida da fração FB com CE50 = 9,35 ug/mL. Pode-se sugerir então, que a elevada atividade antioxidante das frações mais polares seja, provavelmente, devida à presença de substâncias com grupamentos hidroxila, disponíveis para doar um radical hidrogênio à molécula oxidante.
A presença de excesso de metais de transição pode levar à peroxidação lipídica, com conseqüente lesão às membranas plasmáticas e à oxidação do DNA. O Fe(II) em solução, mesmo em concentração muito baixa, induz a geração de HO•, através da reação de Fenton, causando injúria ou morte celular (LOUREIRO et al., 2002). M. splendens apresentou significativa atividade quelante com destaque para EBH, FAe e FB. Essa atividade é devida, provavelmente, à presença de compostos fenólicos capazes de quelar os íons ferrosos presentes nestas amostras.
Para o teste que avalia a atividade antioxidante total segundo o modelo fosfomolibdênio, a melhor atividade foi observada na fração insolúvel (FIn). Esta fração é produto de uma filtração do EBH, mantido em repouso em solução, durante 24 horas na geladeira, podendo conter tanto polímeros polifenólicos quanto compostos menos polares.






CONCLUSÕES: Deve-se considerar que não existe um método satisfatório que consiga avaliar a atividade antioxidante total de uma amostra, pois métodos distintos apresentam diferentes princípios. No entanto, um estudo fitoquímico com as frações mais polares de M. splendens, principalmente as frações acetato de etila e butanol, deve ser incentivado em busca de compostos que atuem como antioxidantes, principalmente no sentido de quelar íons metálicos e capturar radicais livres envolvidos nos processos bioquímicos de oxidação celular.

AGRADECIMENTOS: CNPq e Capes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRITO, N. R.; LANETTI, R. A. A saúde pelas plantas e ervas do mundo inteiro, Ed. Ouro: Rio de Janeiro, 1996.

CAVIN, A.; HOSTETTMANN, K.; DYATMYKO, W.; POTTERAT, O. 1998. Antioxidant and lipophilic constituents of Tinospora crispa. Planta Medica, 64: 393-396.

DINIS, T.C.P., MADEIRA, V.M.C., & ALMEIDA, L. M. 1994.Action of phenolic derivales (acetoaminophen, salyeilate and 5-aminosalyeilate) as inhibitors of membrane lipid peroxidation and peroxyl radical scavengers. Archives of Biochemistry and Biophysics, 315 161-169.

GOTTLIEB, O. R.; SILVA, M. L.; MAIA, J. G. S. 1972. Eucalyptin from Eugenia and Myrcia species. Phytochemistry, 11, 1185.

LOUREIRO, A. P. M.; DI MASCIO, P.; MEDEIROS, M. H. G. 2002. Formação de Adutos Exocíclicos com Bases de DNA: Implicações em Mutagênese e Carcinogênese Quim. Nova, 25: 777.

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MORAIS, P. O.; LOMBARDI, J. A. A família Myrtaceae na reserva particular do patrimônio natural da Serra do Caraça, Catas Altas, Minas Gerais, Brasil. Lundiana, Belo Horizonte, 7: 3-32, 2006.

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RENAUD, S.C., GUEGUEN, R., SHENKER, J., D HOUTAUD, A. 1998. Alcohol and mortality in middle-aged men from eastern France. Epidemiology, 9: 184-188.

YOSHIKAWA, M.; SHIMADA, H.; NISHIDA, N. LI, Y., TOGUCHIDA, I.; YAMAHARA, J.; MATSUDA, H. 1998. Antidiabetic principles of natural medicines. II. aldose reductase and alpha-glucosidase inhibitors from Brazilian natural medicine, the leaves of Myrcia multiflora DC. (Myrtaceae): structures of myrciacitrins I and II and myrciaphenones A and B., Chem. Pharm. Bull. 46: 113.