ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: POTENCIAL TÓXICO DOS EXTRATOS DE Eugenia catharinae
AUTORES: COLLA, G. (UFSC) ; BRIGHENTE, I.M.C. (UFSC)
RESUMO: Extratos e frações de E. catharinae foram avaliados através do teste de toxicidade frente à Artemia salina (TAS) e do teste de fitotoxicidade, analisando a germinação de sementes de Lactuca sativa (alface) e o desenvolvimento da plântula. Os testes foram realizados nos extratos e frações. O teste de TAS mostrou que a fração insolúvel, obtida antes da partição líquido-líquido, foi a fração mais ativa, seguida pela fração hexano. No teste de fitotoxicidade observou-se que as frações acetato de etila e hexano inibiram a germinação de sementes, enquanto que a fração hexano seguida pela fração insolúvel apresentou maior inibição das plântulas de alface. E. catharinae demonstrou uma atividade tóxica considerável, incentivando-se a busca pelos compostos responsáveis por essa atividade.
PALAVRAS CHAVES: eugenia catharinae, artemia salina e fitotoxicidade.
INTRODUÇÃO: O Brasil é o país com a maior diversidade genética vegetal do mundo. No entanto, apenas uma pequena parte destas espécies foi estudada do ponto de vista fitoquímico e farmacológico. Neste contexto, a família Myrtaceae desperta bastante interesse e muitas espécies desta família são utilizadas na medicina popular. As espécies do gênero Eugenia, um dos maiores desta família, chamam a atenção pelo seu potencial terapêutico, mostrando atividade antiinflamatória (HONG., 2003), antibacteriana, citotóxica (HAJLAOUI et al., 2010), antitumoral (KIM et al., 2003), hipoglicemiante (VIKRANT et al., 2001), entre outros. E. catharinae, espécie da flora catarinense, está restrita a restinga litorânea, que vem sendo destruída cada vez mais pela ação do homem. São poucos os relatos na literatura sobre esta espécie. Os únicos estudos encontrados relatam a morfologia botânica da espécie e sua utilização como madeira com função de fixar as dunas (MELO et al, 2008).
O ensaio de toxicidade frente a A. salina foi proposto como um substituto, mais barato e simples, para os ensaios citotóxicos com células. Este teste detecta também um amplo espectro de atividades biológicas, pois parte-se do principio que extratos ou substâncias que são tóxicos a pequenos organismos como A. salina, podem ser potencialmente ativos. Um bioensaio útil para estabelecer a fitotoxicidade de um composto ou extrato de planta é a observação da influência sobre a germinação de sementes e do desenvolvimento posterior da plântula. Levando em consideração o amplo e diversificado leque de atividades biológicas observado para espécies do gênero Eugenia, pretende-se neste trabalho realizar o estudo de toxicidade dos extratos e frações de E .catharinae sobre as larvas de A. salina e sobre a germinação de sementes de L. sativa.
MATERIAL E MÉTODOS: Folhas e caules de E. catharinae foram secos e maceradas com etanol 96% a temperatura ambiente. Logo após os extratos das folhas e caules (EBC) foram filtrados e rota-evaporados separadamente. O EBF foi suspenso em metanol e deixado em geladeira para decantar o material insolúvel (FIn). Este resíduo foi filtrado e adicionado água destilada ao filtrado para posterior extração líquido–líquido com solventes orgânicos de polaridade crescente. Foram obtidas assim, as respectivas frações hexano (FHe), acetato de etila (FAe), butanol (FBu) e aquosa (FAq). Para o teste de TAS as amostras foram diluídas em diferentes concentrações (100 – 1000 µgmL-1), colocadas na presença das larvas, sendo que a mortalidade das mesmas foi observada após 24 horas de exposição (MEYER et al.,1982), tendo como controle negativo o solvente utilizado na dissolução do extrato e como controle positivo K2Cr2O7. O resultado foi expresso como a dose necessária para matar 50% das larvas (DL50). No teste de fitotoxicidade (NISHIMURA et al., 1994), as soluções dos extratos e frações nas concentrações de 0,25 a 2,0 g%, foram aplicadas sobre filtro de papel e colocados em placa de Petri. Após, foram distribuídas 25 sementes de alface, sendo os papéis filtro posteriormente umedecidos com tween 80. As sementes foram regadas diariamente e observadas por um período de 5 dias, com contagens diárias. O bioensaio foi desenvolvido em um fotoperíodo de 12 horas claro/escuro a 25°C e acompanhado por uma testemunha na ausência de extrato vegetal e em triplicata. Avaliou-se o índice de velocidade de germinação (IVG). Os resultados são dados como inibição da germinação (100-IVG). O desenvolvimento da plântula foi avaliado pela medida do cumprimento da radícula e do hipocótilo, após 5 dias da semeadura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os ensaios de letalidade utilizando o microcrustáceo Artemia salina são amplamente usados como técnica de triagem para verificar a atividade biológica de extratos vegetais (LUNA et al., 2006). São considerados ativos diante deste teste os extratos ou frações vegetais que apresentam valores de DL50 até 1000 µgmL-1. A tabela 1 apresenta os resultados do ensaio de letalidade utilizando larvas de A. salina. Foi observado que o extrato bruto das folhas (EBF) é mais tóxico que o extrato bruto dos caules (EBC). Quando particionado o EBF, observa-se que o efeito tóxico concentra-se na fração insolúvel e fração hexano, sendo que esta ultima fração apresentou a mais notável toxicidade. As demais frações e extratos não apresentaram toxicidade frente às larvas de A. salina.
Em relação ao teste de fitoxicidade, observa-se que á medida que aumenta a concentração do extrato ou fração, ocorre uma inibição na velocidade de germinação de sementes de Lactuca sativa (Figura 1A). O extrato bruto das folhas possui maior percentual de inibição de germinação que o extrato bruto dos caules, mostrando que nas folhas concentram-se os compostos com maior atividade alelopática. Após o fracionamento do EBF, observa-se que o maior percentual de inibição está na fração hexano. Após cinco dias foi avaliado o desenvolvimento das plântulas (Figura 1B) de L.sativa, comparando-se o percentual de crescimento da radícula e do hipocótilo com uma testemunha. Nos extratos brutos e na maioria das frações houve inibição tanto da radícula quanto do hipocótilo, à medida que se aumentou a concentração dos mesmos, com destaque para os extratos brutos que apresentaram as maiores porcentagem de inibição no desenvolvimento das plântulas.
CONCLUSÕES: O extrato bruto das folhas e caules, a fração insolúvel e a fração hexano de Eugenia catharinae apresentaram toxicidade frente à Artemia salina, sendo a fração hexano a mais ativa. Através da avaliação da fitotoxicidade observou-se maiores porcentagens de inibição da velocidade de germinação de sementes nas frações acetato de etila e hexano, enquanto que as maiores inibições de desenvolvimento, tanto da radícula quanto do hipocótilo, foram observados para os extrato brutos das folhas e caules e para a fração hexano. Assim, deve-se incentivar o isolamento dos compostos responsáveis por estas atividades, principalmente na fração hexano que apresentou toxicidade diante dos dois testes realizados.
AGRADECIMENTOS: CNPq e UFSC
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