ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO POSSIBILIDADE DE OBSTÁBULOS ANIMISTAS PRESENTE NO LIVRO DIDÁTICO DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO
AUTORES: PEREIRA, A. S. (UFOPA) ; PIRES, D. X. (UFMS)
RESUMO: Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar as concepções dos alunos a partir de algumas histórias em quadrinhos, presentes no livro didático. O delineamento da pesquisa é de natureza qualitativa, dada a tentativa de compreender e caracterizar as concepções que os alunos têm a partir das histórias em quadrinhos. Realizou-se aula expositiva, com utilização de diversos recursos e análise das figuras. Após o método foi aplicado um questionário. Pode-se concluir que algumas imagens utilizadas podem influenciar na aprendizagem dos alunos, muitas vezes funcionando como um obstáculo animista. Para superar este problema com os livros que já estão sendo utilizados no ensino médio, os professores tem papel fundamental para evitar erros conceituais no processo de aprendizagem.
PALAVRAS CHAVES: história em quadrinhos, obstáculos animistas, ensino de química.
INTRODUÇÃO: O uso de analogias está relacionado a diversas competências cognitivas tais como percepção, imaginação, criatividade, memória, resolução de problemas além do desenvolvimento conceitual. As imagens são um tipo de analogia pois retrata ou exemplifica algo que o autor quer enfatizar. No entanto se não forem bem elaborados podem funcionar como barreira no processo de aprendizagem.
Segundo Lopes (1992), o progresso das ciências tem como condição fundamental a colocação dos problemas científicos sob a forma de obstáculos que incidem sob o próprio ato de conhecer. Esses obstáculos podem ser entendidos como analogias, imagens e metáforas que atuam como uma barreira para uma visão racional dos conceitos científicos. Por uma espécie de imperiosidade funcional surgem as lentidões e as dificuldades que devem obrigar o espírito científico ao questionamento sobre as causas que levam à estagnação, à regressão e até mesmo à inércia. No ensino as imagens são instrumentos importantes para chamar a atenção do aluno, pois o público em questão está intimamente ligado a revistas, livros, internet, etc. Bachelard (1938) comenta que por ser mais natural, a imagem animista é mais convincente. Mas, por exprimir apenas um desejo, ela traz uma falsa clareza.
Neste contexto esta pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar as concepções que os alunos têm a partir de algumas histórias em quadrinhos, presentes no livro didático utilizado em sala de aula utilizando o conteúdo de funções inorgânicas para os alunos do primeiro ano do ensino médio de uma escola pública da cidade de Dourados/MS.
MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa foi realizada em uma escola estadual da cidade de Dourados/MS. O delineamento da pesquisa é de natureza qualitativa, dada a tentativa de compreender e caracterizar as concepções que os alunos têm a partir das histórias em quadrinhos encontradas no livro de química do ensino médio. Inicialmente foram selecionadas três salas de aula de primeiro ano de ensino médio, matutino. Realizou-se aula expositiva, com utilização de recursos tais como, data-show, sala de informática e experimentos sobre o conteúdo de ácidos e bases. Após essa etapa realizou-se uma pesquisa em cada sala para verificar as concepções dos alunos.
O livro utilizado pela escola é o do autor Ricardo Feltre, Química, volume 1. Este livro tem algumas histórias em quadrinhos as quais foram selecionados três relacionadas ao conteúdo de funções inorgânicas. Neste contexto foi solicitado aos alunos que ao analisarem as histórias em quadrinhos relacionassem o máximo possível com o conteúdo estudado em sala de aula.
Após o método de ensino os alunos responderam as seguintes questões: 1 – Em sua opinião o que o quadrinho quer explicar? 2 – O quadrinho ajudou a compreender o conteúdo? 3 – Em sua opinião qual a finalidade do autor do livro ao colocar esso quadrinho? 4 – Desenvolva uma história de três a cinco quadrinhos sobre o tema ácidos e bases.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: O primeiro quadrinho é apresentado no livro quando o autor compara as propriedades funcionais entre ácidos e bases, relacionando o tipo de reação que acontece entre esses dois tipos de compostos. Em uma das imagens, o cliente chega ao balcão e pede ao garçom um pé de porco com molho de alho. Na concepção dos alunos 37 % tiveram concepções coerentes, ou seja, formularam hipóteses: Aluno 1: “.... o garçom oferece o cardápio de remédios anti-ácidos, pois a comida que o cliente pediu é uma comida muito pesada”. No entanto a maioria dos alunos 63 % , tiveram concepções distorcidas, ou seja, não conseguiram entender o que o quadrinho. Aluno 3: “o quadrinho fala que o pé de porco e o molho de alho são anti-ácidos”. Na segunda pergunta 20% responderam que os alunos que o quadrinho não ajudou muito no para entender ou ajudar no conhecimento. 43% dos alunos disseram que foi possível compreender melhor a diferença entre ácidos e bases com o auxilio da figura. 37% dos alunos relataram que não conseguiram entender o quadrinho, pois acharam que não estava relacionada com o conteúdo. Como terceira pergunta os alunos foram questionados sobre a finalidade que do autor ter colocado o quadrinho. Como resultado foi encontrado que 23% não conseguiram entender o motivo, ou seja, expressaram que não havia necessidade de colocar o quadrinho. 44% disseram que seria uma forma para que os alunos entendessem o conteúdo.
Como resultado prático da construção das histórias em quadrinhos, 65 % dos alunos conseguiu elaborar histórias em quadrinhos, sem obstáculos animistas relacionando corretamente o conteúdo de ácidos e bases com as histórias em quadrinhos. 35% utilizaram as histórias em quadrinhos como elemento de humor animando frutas e alimentos com frases e com concepções não coerentes.
CONCLUSÕES: Conforme comenta Francisco Júnior (2009), muitos autores pensam que as limitações analógicas não são relevantes para serem incluídas nos livros: presumem que os alunos não têm dificuldades em estabelecer as relações analógicas corretas. Por meio desta pesquisa pode-se concluir que algumas imagens utilizadas nos livros didáticos de química podem influenciar na aprendizagem dos alunos, muitas vezes funcionando como um obstáculo animista. Para superar este problema com os livros, os professores devem explicar o quadrinho durante o conteúdo em sala de aula.
AGRADECIMENTOS: Aos alunos que participaram da pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACHELARD, G. A formação do espírito científico. RJ:Contraponto, 2003, 316p, 1938.
FRANCISCO JUNIOR, W. E. Analogias em livros didáticos de química: um estudo das
obras aprovadas pelo plano nacional do livro didático para o ensino médio 2007. Revista Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (1): 121-143. Disponível no site: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v14_1/m318350.pdf Acessado em 09 de abril de 2009.
LOPES, A. R. C. Livros didáticos: Obstáculos ao Aprendizado da Ciência Química. Química Nova Edição número 15. 1992 http://quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/1992/vol15n3/v15_n3_%20(16).pdf Acessado em 02 de maio de 2009.