ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: CAPACITAÇÃO PARA O USO DOS CADERNOS DO PROFESSOR COMO CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE QUÍMICA

AUTORES: PLICAS, L. M. A. (IBILCE-UNESP) ; CASCIATORI, P. A. (IBILCE-UNESP)

RESUMO: No primeiro ano de implantação do novo Currículo Oficial do Estado de São Paulo, os professores de química relatavam dificuldades no uso dos Cadernos devido à falta de domínio de conteúdo, da deficiência em sua formação, o temor ante ao novo e a visão arraigada na teoria que levava à carência de realização de aulas experimentais. A realização de experimentos como estratégia de ensino favorece o processo de ensino-aprendizagem, quando formulados de forma a relacionar o teórico e o prático. Objetivos: aprimoramento dos conteúdos dos professores, capacitação para a aplicação de experimentos e contribuição na melhoria da qualidade da aprendizagem. Metodologia: investigação-ação. Resultados: melhoria do processo de ensino-aprendizagem e adesão da totalidade dos professores ao uso dos Cadernos.

PALAVRAS CHAVES: ensino médio, química, formação continuada

INTRODUÇÃO: O novo Currículo Oficial do Estado de São Paulo visa atender a necessidade de organização do ensino em todo o Estado (2008). Neste, o que se pretende para a disciplina de Química, é que o aluno adquira a compreensão dos processos químicos e suas relações com as aplicações tecnológicas, ambientais e sociais, de modo a emitir juízos de valor, tomando decisões, individual e coletivamente, de maneira responsável e crítica. Para tanto, a aprendizagem dos conteúdos deve estar associada às competências relacionadas a saber fazer, saber conhecer e saber ser em sociedade (CASTRO, 2000). Para essa formação pretendida é necessário capacitar os professores. A forma de trabalho na e para a formação continuada dos professores, usando da metodologia da investigação-ação, pode tornar realidade o desenvolvimento profissional dos mesmos (ELLIOTT, 1996; STENHOUSE, 1991, 1998). A formação continuada pode ser definida como uma ferramenta de ação cujo processo implica em melhorar e mudar o trabalho dos professores, o qual promove a oportunidade de construir e reconstruir conhecimentos, transformando, de fato, as relações cotidianas entre os professores, alunos e sociedade (MARASCHIN, 2002). Pérez Gómez (1997) ressalta que a investigação-ação requer a participação de grupos, integrando o processo de indagação e diálogo dos participantes. Gadotti (2005) destaca a importância da troca de experiências entre pares, por meio de relatos de experiências, oficinas e grupos de trabalho, pois, quando se vivencia a aprendizagem coletiva, podem-se compartilhar informações, evidências velhas e novas e buscar soluções uns com os outros. Ao utilizar esta metodologia, no curso de capacitação ao uso dos Cadernos, adotados neste novo Currículo, pretendem-se mudanças na forma e na dinâmica da prática docente.

MATERIAL E MÉTODOS: A investigação-ação considera o processo de investigação em espiral como um processo interativo e focado num problema. Segundo Trilla (2004) a metodologia da investigação-ação é uma metodologia de investigação orientada para o aperfeiçoamento da prática mediante a mudança e para a aprendizagem a partir das conseqüências das mudanças. É participativa, pois segue a espiral de ciclos: planificação, ação, observação e reflexão. A estratégia mais eficaz para que ocorram as necessárias mudanças no professorado se dará pelo envolvimento de todos os intervenientes, numa dinâmica de ação-reflexão-ação. Baseado nesta metodologia, o curso ocorreu com encontros semanais, constando de aulas teóricas e aulas experimentais. Nas aulas teóricas foram abordados os conteúdos de química e sua relação com os temas propostos nos Cadernos, em conformidade a cada Série. As aulas teóricas foram mediadas por exposições dialogadas, onde cada professor pode expressar suas deficiências de conteúdo para que fossem discutidas e sanadas pelo grupo sob orientação dos coordenadores, também foi realizada a leitura e interpretação de textos propostos nos Cadernos. Nas aulas práticas, os professores foram divididos em grupos para a realização dos experimentos, propostos nos Cadernos, após a realização destes, as principais observações eram socializadas e os relatórios redigidos. Alguns destes experimentos foram aplicados nas escolas e posteriormente discutidos e avaliados quanto à sua aplicabilidade em sala de aula. Todas as fontes de pesquisa foram disponibilizadas aos professores. Para a avaliação foram considerados os relatórios, a avaliação das questões dissertativas relativas aos conteúdos abordados e o plano de aula proposto pelo professor, baseado no processo de investigação em espiral.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados qualitativos foram:
• A formação de recursos humanos voltados para o ensino de Química.
• A divulgação para os professores de Química, de um material didático constando também de experimentos acessíveis, acompanhados de orientação para sua aplicação.
• O aumento do estímulo do professor em ministrar aulas experimentais.
• A adesão de todos os participantes ao uso dos Cadernos.
Os professores foram avaliados qualitativamente, ao longo do curso, mediante as discussões dos conteúdos e nos debates sobre os temas abordados, contidos nos Cadernos. A avaliação quantitativa foi realizada por meio da análise dos relatórios dos experimentos, das respostas aos questionários e da análise do plano de aula. Percebeu-se uma grande fragilidade na aplicação de experimentos, como parte de prática pedagógica do professor, devida em grande parte à deficiente infra-estrutura das escolas, mas também, devido à visão arraigada na teoria. Notou-se ainda, a dificuldade de alguns professores em lidar a química e sua relação com as tecnologias e o cotidiano, dificuldades com cálculos, deficiência em alguns tópicos de química orgânica e inorgânica além, de dificuldades com técnicas analíticas. As melhores avaliações foram para aqueles mais participativos e criativos, as piores avaliações ficaram entre aqueles que se dispuseram apenas em transcrever palavras retiradas das fontes de pesquisa, com pouca riqueza de recursos próprios. Os encontros pedagógicos têm a possibilidade de converterem-se em espaços educadores e formativos, para tanto, a forma de como e onde devem ocorrer é um aspecto importante a ser planejado, visto que os professores apresentam principalmente, falta de tempo, devido à excessiva carga horária que assumem por trabalharem em várias escolas.

CONCLUSÕES: Pode-se perceber que o uso da metodologia da investigação-ação auxiliou na intervenção da realidade do professorado, houve a adesão da totalidade dos professores ao uso dos Cadernos e, foi efetiva na formação continuada colaborando com seu desenvolvimento profissional e na melhoria da prática docente. Essa formação se constituiu em espaço de análise, investigação, reflexão, intercâmbio de experiências, cooperação e integração entre teoria e prática. Com a realização deste curso acreditamos ter colaborado na mudança do sistema formativo dos professores com reflexos na educação de nossos jovens.

AGRADECIMENTOS: PROGRAD e PROEX/UNESP e CENP/São Paulo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CASTRO, E.N.F. de et al. Química na Sociedade: projeto de Ensino de Química em contexto social (PEQS). 2ed. Brasília: Universidade de Brasília, 2000.
ELLIOTT, J. El cambio educativo desde la investigación-acción. 2. ED. Madrid: Morata, 1996.
GADOTTI, M. Educação de jovens e adultos: correntes e tendências. In: GADOTTI, Moacir; Romão, José E. Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta. São Paulo: Cortez, 2005.
MARASCHIN, C.; TITTONI, J. Cotidiano e configuração de espaços de aprendizagem. Educar em Revista, 19, 147-157. 2002.
PÉREZ GÓMES. A. I. Historia de una reforma educativa : estudio múltiple de casos sobre la reforma experimental del tercer ciclo de EGB en Andalucía In: Colección Invetigación y enseñanza, v. 6. 1 ed. Sevilla: Díada, 217 p. 1997.
SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Química / Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE, 2008.
STENHOUSE, L. Investigación y desarollo del curiculum. Madrid: Morata, 1991
STENHOUSE, L. La investigaciones como base de la ensañanza. Madrid: Ediciones S. L., 1998.
TRILLA, J. (coord.). Animação Sociocultural Teorias Programas e Ambitos. Lisboa. Instituto Piaget. 2004.