ÁREA: Ambiental

TÍTULO: COMPARATIVO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE VÍSCERAS DE PEIXE COM E SEM SELEÇÃO DA VESÍCULA BILIAR E OUTRAS MATÉRIAS NÃO ADIPOSAS COMO INSUMOS PARA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEL

AUTORES: VALLE, C.P. (UECE) ; LIMA, A.A.S. (UFC) ; BEZERRA, G.K.M. (UFC) ; MALVEIRA, J.Q (NUTEC) ; MORAIS, S.M. (UECE) ; ROCHA, N.C. (UECE) ; ALEXANDRINO, C.D. (UECE) ; MOTA, F.A.S. (UFC)

RESUMO: Com a crescente explosão no número de criatórios de peixe no estado do Ceará os produtores poderão ter uma fonte de renda sustentável, integrando produção de alimentos (peixe) e do resíduo (óleo), se usado de forma racional e técnica. Visando apresentar o processo de extração do óleo de vísceras de peixe e analisar a sua viabilidade como matéria-prima na produção de biocombustível, obteve-se de tratadouros localizados no município de Fortaleza uma massa de vísceras de peixe com e sem seleção da bile e matérias não adiposas. As vísceras foram encaminhadas ao laboratório de referência em bicombustíveis – LARBIO/NUTEC e através dos ensaios de índice de acidez, viscosidade, índice de saponificação, densidade e umidade, obteve-se um comparativo e avaliação da qualidade o óleo gerado.

PALAVRAS CHAVES: vísceras de peixe, óleo de peixe, biocombustível

INTRODUÇÃO: Um terço da captura mundial de pescado não é empregado para o consumo direto na alimentação humana, seguindo para a elaboração de rações ou desperdiçada como resíduo. Estima-se que a aqüicultura brasileira produza algo em torno de 225.000 toneladas/ano de pescado, sendo 80.000 toneladas/ano somente de peixes da espécie tilápia, com aproximadamente 50% dessa biomassa sendo descartada durante o processo de enlatamento ou em outras linhas de produção. Dados estatísticos revelam que somente a região nordeste é responsável por mais de 40% da produção aqüícola nacional, tendo como um de seus expoentes o estado do Ceará que é responsável por um equivalente de 7,1% da produção do país, ocupando a posição de 4º maior produtor nacional, segundo o diretor do Departamento de Registro de Pesca e Aquicultura, do Ministério da Pesca.
Com o aumento do número de criatórios e unidades processadoras de tilápia, notadamente no estado do Ceará. O aproveitamento dos resíduos gerados por esta qualidade de pescado, ricos em proteínas e lipídios que seriam desperdiçados, surge como uma excelente proposta de sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental para o setor da pesca. Pois além de possibilitar a geração de empregos, renda e o aumento na “ecoeficiência” da produção industrial, poderá também contribuir para diversidade da matriz energética e minimização dos problemas relacionados ao destino dos resíduos produzidos.
Neste contexto, o aproveitamento das gorduras oriundas das vísceras e material adiposo dos peixes, matérias-primas de difícil degradação ambiental e descarte, constituem-se em uma fonte energética alternativa e inovadora para produção de biodiesel, combustível de reduzida toxicidade e de fácil biodegradação.


MATERIAL E MÉTODOS: O processo de extração e obtenção do óleo de peixe (espécie Tilápia) foi realizado em duas etapas distintas, conforme a qualidade de seleção aplicada às vísceras. A etapa I consistiu na utilização de vísceras sem nenhum processo de seleção, em quanto que a etapa II empregou-se a subtração do conteúdo das vísceras, matérias não adiposas como a vesícula biliar, fígado, traquéia, dentre outras. Em ambas as etapas, um total de 700g de vísceras obtido foi submetido à respectiva ordem de tratamento: aquecimento e agitação, filtração de resíduos sólidos, decantação da borra, degomagem, neutralização, lavagem e desumidificação.
Após obtenção do óleo, sua caracterização foi realizada conforme as normas da A.O.C.S. (American Oil Chemits Society) e procedimentos Tecbio. Os parâmetros físico-químicos analisados: Índice de acidez (I.A), Índice de Saponificação (I.S), Viscosidade, Densidade e Umidade, pretenderam a avaliar a qualidade do óleo obtido e sua viabilidade para produção de biodiesel.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: O processo de extração do óleo de vísceras de peixe selecionadas apresentou vantagens consideráveis com relação ao óleo de vísceras sem critério de seleção.
Dentre as vantagens observadas, destaca-se o baixo índice de acidez.O elevado valor deste parâmetro, observado para o óleo sem seleção 7,1480 ± 0,01 (mg KOH/g) é, principalmente, devido a presença da bile. Após reação de neutralização, no intuito de igualar o valor de acidez obtido ao valor sugerido para óleo-biodiesel da ANP (0,5 mg KOH/g), a acidez foi corrigida para 0,6857 mg KOH/g. Contudo, a redução notória desse parâmetro além de ainda não atender as exigências da ANP, é também acompanhada de uma grande perda de massa por saponificação que compromete o rendimento final do óleo de vísceras não-selecionadas quando comparada ao óleo de vísceras selecionadas. Com este último apresentando índice de acidez correspondente a 0,6485 ± 0,01 (mg KOH/g), e neutralização ocorrendo sem perdas consideráveis para valor de 0,4937 mg KOH/g.
Outro fator observado durante o processo de obtenção do óleo de peixe refere-se ao tempo de decantação da borra que, enquanto na etapa I (vísceras não selecionadas) chega a 24 horas, na etapa II (vísceras selecionadas) leva-se uma hora e 30 minutos para se completar. Assim, a etapa II é mais eficiente por equivaler a um processo rápido e com maior rendimento de óleo, o que significa menor gasto energético





CONCLUSÕES: Conclui-se que, considerando o panorama atual de produção de tilápia pelo estado do Ceará, o óleo extraído das víscera pode servir de fonte economicamente e ecologicamente viável para produção de biodiesel.
Mediante comparação dos parâmetro físico-químicos levantados, o óleo de vísceras selecionadas por apresentar melhor aspecto visual, maior eficiência no rendimento, rapidez nos processos e menor gasto energético e com reagentes, qualifica-se como mais excelente para produção do biodiesel.

AGRADECIMENTOS: EKIPAR - Engenharia de Processos Químicos LTDA;

Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará - NUTEC;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: DIAS, F.P. Aproveitamento de Vísceras de Tilápia para produção de Biodiesel. Universidade Federal do Ceará. Tese de Mestrado, Outubro, 2009.

GOMES, R. M. M., Produção de Biodiesel a partir da esterificação dos ácidos graxos obtidos por hidrólise de óleo residual de peixe. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tese de Mestrado, Setembro, 2009.

KNOTHE, G; GERPEN, J.V; KRAHL, J.; RAMOS, L.P. Manual do Biodiesel. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.