ÁREA: Ambiental

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE Fe, Cr, Al, Ni e Cu NA MUSCULATURA DE TUCUNARÉ (Cichla spp), ORIUNDO DO LAGO DA USINA HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ-PA.

AUTORES: NASCIMENTO, K. M. (UFPA) ; SANTOS, D. C. (UFPA) ; PEREIRA, S. F. P. (UFPA) ; SILVA, C. S. (UFPA) ; COUTINHO, R. M. P. (IFPA) ; MIRANDA, R. G. (UFPA) ; MORAES, W. N. (IFPA) ; PEREIRA, J. S. (UFPA) ; BITTENCOURT. J. A. (UFPA) ; OLIVEIRA, M. S. (UFPA) ; PONTES, R. G. (UFPA) ; SANTOS, L. P. (UFPA)

RESUMO: O trabalho teve como objetivo avaliar a presença dos metais Cr, Fe, Ni, Cu e Al no tecido de peixes da espécie tucunaré (Cichla spp.) coletadas nas feiras comercias de Belém, tendo em vista a preservação da saúde da população que consome esta espécie. As amostras foram solubilizadas usando abertura úmida e forno de microondas e os metais analisados através da técnica de Espectrometria de Emissão com Plasma Indutivamente Acoplado - ICP OES. Al, Cu e Cr foram encontrados em concentrações relevantes na espécie avaliada representando um grande risco à saúde pública. As análises estatísticas demonstram a influência da ação antrópica na região, levando a necessidade de futuros estudos para a verificação da dinâmica de correlação com outros elementos traços.

PALAVRAS CHAVES: metais, tucunaré, icp oes

INTRODUÇÃO: Em ambientes aquáticos, os elementos traço, na forma de íons metálicos, atingem facilmente os peixes através da cadeia alimentar aquática ou também tendo como importante sítio de captação o epitélio das brânquias, concentrando-se em músculos e vísceras abdominais, como fígado, rins e trato gastrintestinal. (BJERREGAARD & ANDERSEN, 2007; DALLINGER et al., 1987). É importante ressaltar que a principal via de intoxicação do ser humano por esses elementos inorgânicos é através do consumo de pescado contaminado. (MACKAY & CLARK, 1991). Um fator relevante, neste aspecto, é o fenômeno da bioacumulação que gera uma elevada concentração nos organismos, ou seja, pode gerar uma diferença significativa entre concentração de metais no pescado e no meio aquático onde estes habitam, em função da acumulação em suas vísceras e músculos. Através da bioacumulação alguns elementos essenciais podem aumentar sua concentração a ponto de torná-la nociva ao ser humano, portanto, a concentração no pescado pode ser muito maior do que no seu habitat. (FORAM, 1990).
Além disso, os peixes podem servir como bioindicadores de contaminação no ambiente. Desta forma, nos estudos de contaminação os peixes são utilizados como bioindicadores de seu habitat. (BURGER et al., 2003).


MATERIAL E MÉTODOS: Os exemplares de tucunaré (Cichla spp.), foram adquiridos nas feiras livres, município de Belém-PA, após coleta foram transportados sob refrigeração até o laboratório de Química Analítica e Ambiental (LAQUANAM), UFPA. Para a análise dos metais retirou-se a parte dorsal da espécie triturou-se e efetuou-se a secagem em estufa a 40°C por 48 horas. Para decomposição total das amostras foi utilizado o sistema de aquecimento por radiação de microondas DGT 100 da Provecto. Em cada reator foi pesada aproximadamente 0,3000 g de peixe, em seguida procedeu-se o procedimento de abertura utilizando três programas de dissolução, com combinações diferentes do reagente: ácido nítrico supra puro 65 % (Merck); ácido sulfúrico supra puro 98 % (Merck); peróxido de hidrogênio 32% PA (Synth); ácido perclórico 70% PA (Merck). As soluções resultantes deste procedimento foram então aferidas com água destilada em um balão volumétrico de 50 mL para posterior análise elementar. A análise dos metais foi realizada através do uso da Espectrometria de Emissão com Plasma Indutivamente Acoplado – ICP OES modelo Vista-Pro, Varian. A seleção dos comprimentos de ondas utilizados para cada elemento foi feita de forma a obter a maior altura dos picos e menor interferência espectral com o sinal de outros elementos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O crômio apresentou altas concentrações em todas as espécies avaliadas, em relação ao máximo permitido (0,1 mg/kg) em pescado pela European Economic Community (EEC, 2001). Os valores encontrados neste trabalho para o crômio estão de acordo com os encontrados por Sivaperumal et al. (2007) e Forero et al. (2009) que encontraram Cr em altas concentrações variando de 1,8 a 2,1 mg/kg em rio que recebe efluente de curtume.
De acordo com Cespón e Yebra (2009) o crômio é tanto um oligoelemento essencial como é tóxico. O crômio pode existir sob diferentes formas de oxidação. Os estados de oxidação mais importantes são III (estável, oligoelemento essencial) e VI (altamente tóxico, oxidante). O crômio trivalente é o mais estável, e existe no sistema biológico. A forma hexavalente geralmente é de origem antropogênicas. No entanto, quando o crômio hexavalente é ingerido ele é eficiente reduzido para a forma trivalente no trato gastrointestinal.
Segundo Vutukuru (2005) a atividade respiratória normal dos peixes é significativamente afetada quando o animal é exposto ao Cr (VI). O metal também induz diminuição significativa (p <0,001) nos parâmetros hematológicos do peixe como contagem total de eritrócitos, a porcentagem de hemoglobina e o valor absoluto da hemoglobina celular média (HCM), ambos no final de 24h e 96h de exposição, indicando anemia. Também foi observada diminuição sensível nos perfis bioquímicos, como glicogênio total, lipídios totais e teores de proteína total dos peixes. A redução do teor de proteína foi significativa apenas no final de 96h. Este estudo reflete a extensão dos efeitos tóxicos do crômio hexavalente e o metal, induzindo os efeitos cumulativos prejudiciais a alterando vários níveis funcionais nos peixes de água doce que são amplamente consumidos.




CONCLUSÕES: Os Tucunarés que foram analisados apresentaram indícios de contaminação por Al, Fe, Ni e Cr em relevantes concentrações. Os resultados são preocupantes principalmente em relação ao Cr, elemento altamente tóxico, bioacumulativo e cancerígeno. Os peixes são provenientes de feiras livres, portanto, de livre acesso a comunidade, demonstrando a viabilidade da continuidade dos estudos para obtenção de dados mais conclusivos à respeito dos Tucunarés.

AGRADECIMENTOS: Ao Laboratório de Química Analítica e Ambiental (LAQUANAM) da Universidade Federal do Pará.

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