ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: Avaliação de indicadores biológicos para metais tóxicos em trabalhadores de usina de tratamento de resíduos de serviços de saúde

AUTORES: PAVESI, T. (ENSP / FIOCR) ; SAGGIORO, E. M. (ENSP / FIOCR) ; DA SILVA, C. S. (FUNDACENTRO)

RESUMO: A incineração, uma forma de destinação final para resíduos de serviços de saúde (RSS), é um processo de redução do peso e volume e eliminação de patogenicidade. Mas, gera poluentes e concentra outros, como metais tóxicos. Sob o aspecto da saúde ocupacional torna-se necessária avaliação de indicadores biológicos, proporcionando uma indicação da dose interna. O trabalho visou avaliar os níveis dos indicadores biológicos para trabalhadores de usina de incineração e autoclavação de RSS em São Paulo quanto aos agentes químicos: Hg, Be, Cd, Ni em urina e Pb em sangue. Sendo utilizada técnica de absorção atômica. O estudo, aprovado pelo Comitê de ética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, (protocolo CEP n˚34/2004) foi financiado pelo projeto Fapesp n˚1/00475-1.

PALAVRAS CHAVES: metais, incineração, indicadores biológicos

INTRODUÇÃO: Hoje os incineradores são centro de polêmicas, pois há necessidade de tratamento eficiente para resíduos sépticos e contaminantes, mas as emissões causadas por instalações mesmo modernas têm originado estudos considerado a saúde ocupacional e o impacto ambiental causado pelos resíduos da própria incineração. A incineração é a decomposição do lixo em altas temperaturas (900°C) na presença de oxigênio, processo que pode atingir redução de volume de 75% e de 90% em massa (STABILE e BROOKS, 1999). Atualmente, a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2003) dispõe obrigatoriedade de incineração para alguns resíduos de serviços de saúde (RSS) que sejam suspeitos de conter agentes de relevância epidemiológica (após descontaminação por autoclavação). Mas a incineração não se restringe ao material indicado pela resolução, sendo prática bastante comum, sem prévia segregação. Tradicionalmente emissões atmosféricas foram mais avaliadas, porém os resíduos gerados que contém quantidade razoável de metais entre outros poluentes, tem recebido crescente atenção em função de efeitos adversos à saúde humana, quando da exposição às emissões, como patologias crônicas, hematológicas, neurológicas e câncer (FRIBERG, 1979), Metais são encontrados nas emissões gasosas no material particulado do sistema de captação de poeira, nas cinzas ou escória, resíduos dispostos em aterros ou lixões, podendo contaminar solo e corpos d’água se não houver controle ambiental.
Neste trabalho foram avaliados os indicadores biológicos para exposição a Hg, Be, Cd, Ni (urina) e Pb (sangue) de trabalhadores de usina de tratamento de RSS. Os níveis de exposição encontrados foram comparados com os limites estabelecidos na Legislação Brasileira e Organismos Internacionais.

MATERIAL E MÉTODOS: A usina de tratamento de RSS, localizada em Mauá (São Paulo) consistia principalmente em 2 autoclaves e 2 fornos de incineração de leito fixo, alimentação de batelada semi-automática e limpeza manual, Figura 1. A operação dos fornos era em turnos de 8h/dia, 5 dias/semana, queimando também resíduos industriais e resíduos perigosos.
Os trabalhadores foram divididos em 3 grupos conforme os lugares de trabalho: trabalhadores da área de incineração (AI, n=7), autoclave (AC, n=4) e trabalhadores da área de manutenção e administração (AM, n=4). Para cada trabalhador foram realizadas 2 sequências de coleta de urina, por 5 dias de trabalho consecutivos cada uma, sendo coletadas amostras antes e depois da jornada de trabalho (n=300). E única coleta de sangue por trabalhador.
As determinações analíticas foram feitas por espectrometria de absorção atômica em equipamento Analyst AA800, marca Perkin Elmer.Sendo o Hg por geração de vapor frio, com injeção de amostra em fluxo e os demais por atomização eletrotérmica em forno de grafite. As soluções de referência para curva de calibração foram soluções aquosa para determinação de Hg, Cd, Ni e Pb e em urina 1:2 para Be (PAVESI, 2004).
Foi quantificado o Hg inorgânico, empregando-se cloreto estanhoso como redutor (ZENEBON et al., 1999; PAVESI, 2004).
Amostras de urina foram diluídas na proporção de 1:2 em solução de ácido nítrico 0,2% v/v. As determinações de Be, Cd, empregaram como modificador de matriz 15 µg nitrato de magnésio e 50 µg de dihidrogeno fosfato de respectivamente. Para o Ni não utilizou modificador de matriz (PAVESI, 2004).
Amostras de sangue foram diluídas na proporção 1:10 em solução diluente contendo triton-X, o modificador de matriz para determinação de Pb foi o dihiddrogeno fosfato de amônio (PAVESI, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nenhuma amostra de Hg urinário atingiu limites estabelecidos pela legislação brasileira (MTE, 1994) ou ACGIH (2003). Na primeira sequência de amostras 7% dos trabalhadores AI, 10% dos AC e 7% dos AM estavam acima do valor de referência (VR) (5mg/g de creatinina) (MTE, 1994), Figura 1. Na segunda sequência de coletas houve diferença estatisticamente significativa entre grupos, sendo que os trabalhadores AC apresentavam valores menores que os demais. As concentrações médias das 2 sequências foram abaixo da VR.
Nenhum valor de Be urinário esteve acima de 1μg/g de creatinina, referência para população geral (UCL, 2002). Para Cd urinário apenas na segunda seqüência 4,65% das amostras estavam entre o VR e o IBMP (máximo admissível índices biológicos). Os resultados das 2 coletas foram concentrações urinárias de Be, Cd e Ni baixas o suficiente para indicar que estes trabalhadores não sofreram exposição considerável a esses agentes, no momento e condições em que foi feito o estudo.
Todas as amostras de sangue apresentaram concentração de Pb abaixo do limite de detecção do método, 0,87 g/dl. Sendo o Pb sanguíneo um indicador para exposição recente, esse resultado indica que esses trabalhadores não sofreram considerável exposição a compostos de Pb, na época e condições do estudo.
No entanto, é importante continuar a acompanhar estes agentes, pois o curto período de tempo esses trabalhadores na empresa (média de 27,4, 10 e 32 meses, respectivamente, para os grupos AI, AC e AM) considerando a exposição confirmada a outros agentes como As (PAVESI, 2004).





CONCLUSÕES: Concluimos que para os trabalhadores amostrados e naquelas condições não havia indícios de exposição ocupacional que alarmasse quanto a Hg, Be, Cd, Ni e Pb. Entretanto, a grande rotatividade de trabalhadores no setor e pouco tempo de trabalho daqueles voluntários (10 a 32 meses) pode contribuir para este resultado. A empresa foi orientada a melhorar sistema de gases e o de alimentação e limpeza do forno com base nos dados de exposição a arsênio (PAVESI, 2004).

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem à Fapesp pelo financiamento do projeto Fapesp n1/00475-1.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ACGIH. American Conference of Governmental Industrial Hygienists. Threshold Limit Values (TLVs) for Chemical Substances and Physical Agents Biological Exposure Indices. Cincinnati, OH. 2003.
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, RDC n730; 306, de 7/12/2004, Brasília, disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2003/rdc/33_03rdc.htm, acessado em 08/07/2011.
Friberg, L.; Nordberg,G. F.; Vouk, V. B. Handbook on the Toxicology of Metals. Amsterdam: Elsevier, 1979.
MTE Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora 7. Portaria n°24 de 29/12/1994
PAVESI, T.; Avaliação de indicadores biológicos de exposição para As, Be, Cd, Hg, Ni e Pb em trabalhadores de incineradores de resíduos de serviço de saúde; Dissertação de mestrado, IQ USP, São Paulo, 208p, 2006.
STABILE, I.; BROOKS,S. Medical monitoring for human health impacts from health impacts from hazardous waste incineration. In: Roberts, S.M.; Teaf, C.M; Bean, J.A. (Eds.). Hazardous Waste Incineration: Evaluating the human health and environmental risks. New York: Lewis Publishers, p. 295-313, 1999.
ZENEBON, O.; SAKUMA, A.M.; DE MAIO, F.D.; OKADA, I.O.; Lichtig, J.; Analytical Letters, 32, p. 1339 -1349, 1999.