ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia
TÍTULO: AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE DESFLUORETAÇÃO DE ÁGUAS
AUTORES: LIMA JÚNIOR, J.F. (UFCG) ; SAMPAIO, FC (UFPB) ; SOUZA, CFM (UFPB) ; SILVA, A.P. (AMBIOS) ; CARVALHO, MMSG (FASER) ; ADRIANO, MSPF (UFCG)
RESUMO: O íon fluoreto tende a se fixar nos tecidos duros (ossos e dentes) dos animais superiores. O consumo de água com excesso de flúor durante a odontogênese pode provocar a fluorose dentária, uma intoxicação crônica. Objetivou-se analisar a eficácia de um sistema de desfluoretação de águas à base de alumina ativada em uma comunidade com fluorose endêmica na Paraíba. Os resultados apontam para uma redução dos níveis de fluoretos na água de abastecimento dentro dos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
PALAVRAS CHAVES: flúor, água para consumo humano, alumina ativada
INTRODUÇÃO: O íon fluoreto, além de sua capacidade de inibir/ativar sistemas enzimáticos, tende a se fixar nos tecidos duros (ossos/dentes) dos animais superiores. Nos dentes esta fixação se dá através da substituição do íon hidroxila da hidroxiapatita (substância básica do esmalte dos dentes), pelo íon fluoreto, formando a fluorapatita de maior resistência e nos processos de des-remineraliação do esmalte (FEJERSKOV, 2004).
Os feitos benéficos do flúor são conhecidos desde o século passado quando trabalhos científicos publicados já em 1930 demonstram que existe uma correlação positiva entre redução dos níveis de cáries dentárias em crianças e os teores residuais de flúor nas águas de abastecimento de algumas comunidades (THYLSTRUP et al, 1988). Por outro lado, o excesso de ingestão de flúor pode causar a fluorose, uma alteração caracterizada por manchas no esmalte e perda de tecido dentário (NEWBRUN, 1988).
No Brasil, a portaria 518/2004 do Ministério da Saúde determina que os padrões de água para consumo humano sejam em 1,5 ppm a concentração máxima do íon fluoreto. No entanto, este valor deve observar a legislação específica vigente em cada local. Como o consumo de água varia com a perda de líquidos corporais, e esta com a temperatura, a concentração ótima de flúor na água deve ser adequada à temperatura ambiente.
Levando em conta os critérios acima e as condições climáticas da região Nordeste e mais especificamente do estado da Paraíba, estabeleceu-se concentrações de íon fluoreto variando entre 0,6 e 0,7 ppm (mg/L) como sendo os valores ótimos deste elemento em águas para consumo humano (Rodrigues et al., 2009). Assim, este trabalho objetiva avaliar a eficácia de um sistema de desfluoretação de águas em uma localidade com problema de fluorose endêmica no estado da Paraíba.
MATERIAL E MÉTODOS: O estudo foi realizado na vila de Brejo das Freiras, em São João do Rio do Peixe (PB), distante 500km da capital. Selecionou-se esta vila por ela apresentar elevadas concentrações de flúor em todos os poços, dispor de agentes comunitários conhecedores e mobilizados com a questão da fluorose, e por ser uma área que concentra a maioria dos casos mais severos de fluorose dentária em crianças e adultos da Paraíba. Além disso, apesar de isolado do centro urbano, a vila apresenta fácil acesso para veículos comuns e dispõe de infra-estrutura mínima, como eletricidade, escolas, posto de saúde, dentre outros.O sistema de desfluoretação foi baseado na capacidade de adsorção da alumina ativada desenvolvida com tecnologia nacional pela empresa Ambios Engenharia e Processos Ltda, de São Paulo-SP. O sistema está fundamentado em estudos prévios realizados em São Caetano do Sul-SP com pré-tratamento por policloreto de alumínio (RUBEL, 2003; INGALLINELLA et al, 2004).Para a montagem da unidade de tratamento foram instalados tanques pulmão (água bruta, água pré-tratada, água desfuoretada); tubulações, válvulas e acessórios; instrumentos e controles; tanques de produtos químicos; bombas dosadoras; tanque de equalização de efluentes; e ainda instalação dos equipamentos de processo: mecânico; hidráulico e elétrico/automação. Obras de pavimento, coberturas e alvenaria foram realizadas para facilitar o acesso da população à fonte de água potável.As amostras de água foram coletadas a cada três dias e classificadas em T1 (água bruta); T2 (água pré-tratada) e T3 (água desfluoretada) no período de seis meses. As concentrações de flúor [F] nas amostras foram realizadas pelo método direto (eletrodo específico + TISAB II), e métodos colorimétricos quando em trabalho de campo. (VOGEL et al, 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das concentrações de flúor durante o primeiro mês de funcionamento do sistema de desfluoretação apontaram resultados promissores, na medida em que possibilitou a adequação dos níveis de fluoretos aos padrões exigidos pela portaria 518/2004.
Isto denota que o sistema de desfluoretação baseado na adsorção dos fluoretos na alumina ativada está resultando na redução dos níveis de fluoretos na água para consumo humano e, conseqüentemente, reduzindo o risco de fluorose dentária e esquelética na população desta área endêmica.
Observou-se, pelas análises realizadas pelo método do eletrodo íon-específico, que houve eficácia na redução das concentrações de fluoretos durante todo o primeiro semestre de funcionamento do sistema de desfluoretação na Vila do Brejo, São João do Rio do Peixe – Paraíba. No entanto, quando ocorreu saturação do sistema de filtros desfluoretadores, houve a necessidade de se promover o processo de regeneração com ácido clorídrico e/ou susbtituição da unidade filtrante saturada.
CONCLUSÕES: Conclui-se que o sistema de desfluoretação de águas para consumo humano instalado na localidade Vila do Brejo das Freiras em São João do Rio do Peixe – Paraíba está atingindo seus objetivos de reduzir as concentrações de fluoretos na água do abastecimento da vila. Com isso, almeja-se agregar valor à qualidade de vida dos habitantes locais, na medida em que o risco de fluorose endêmica está sendo eliminado.
AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo fomento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Fejerskov, O. (2004) Changing Paradigms in Concepts on Dental Caries: Consequences for Oral Health Care. Caries Res 38:182-191.
Ingallinella, AM; Fernández, RG; Stecca, LM. (2004). Arsenic and fluorine renoval from ground water by coagulation with polyaluminum chloride and double filtration. Centro de Ingeniería Sanitaria. Visto em: http://www.cepis.ops-oms.org/bvsacd/arsenico/Arsenic2004/theme3/paper3.3.pdf
Newbrun, E. (1988) Cariologia, São Paulo: Editora Santos. 326p.
Rodrigues MHC; Leite AL.; Arana A.; Villena RS;. Forte FDS; Sampaio FC; Buzalaf MAR. (2009) Dietary Fluoride Intake by Children Receiving Different Sources of Systemic Fluoride. J Dent Res 88(2):142-145.
Rubel, F, P.E. 2003. Design Manual: Removal of Arsenic from Drinking Water by Adsorptive Media. USEPA - United States Environmental Protection Agency. EPA/600/R-03/019.
Thylstrup, A; Fejerskov, O. (1988) Tratado de Cariologia, Rio de Janeiro:Cultura Médica, 1988, 388p.
Vogel, GL; Carey, CM; Chow, LC; Ekstrand J. (1990). Fluoride analysis in nanoliter- and microliter-size fluid samples. J Dent Res. 1990;69(Spec):522-8.