ÁREA: Alimentos
TÍTULO: ÍNDICES DE HEMATOMAS EM CARCAÇAS DE BOVINOS TRANSPORTADOS NA REGIÃO DE CUIABÁ-MT
AUTORES: SPENGLER, M. A. (IFMT) ; ALMEIDA, M. R. (IFMT) ; OTAKE, M. C. C. L. (IFMT) ; SOLETTI, I. (IFMT) ; MORAES, H. A. L. (IFMT) ; PRIOR, C. S. (IFMT) ; DA SILVA, J. L. (IFMT)
RESUMO: Neste experimento analisou-se as taxas de hematomas nas carcaças de bovinos transportados na cidade de Cuiabá - MT.
O experimento ocorreu no mês de novembro de 2010 e as carcaças foram analisadas dentro da linha de abate de um matadouro frigorífico localizado na região de Cuiabá.
Para tanto foram analisadas 119 carcaças de bovinos, todos anelorados, transportados pela carreta alta.
Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela AUS-MEAT (2001), que defini hematoma grave como qualquer lesão no tecido muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de diâmetro (ou área equivalente).
As caracteristicas avaliadas foram: porcentagem de carcaças lesionadas, graus das lesões, extensão das lesões e localização das lesões.
PALAVRAS CHAVES: hematomas, carcaças bovino, bem-estar.
INTRODUÇÃO: O transporte dos bovinos é uma importante etapa no processo de criação desses animais e da produção da carne. É vital que esse processo seja feito da maneira mais adequada, através da utilização de métodos e técnicas mais indicadas (VIEIRA, 2003).
GREGORY (1994) ressalta que o manejo pré-abate inadequado compromete o bem-estar animal, causando desde contusões, fraturas, arranhões, exaustão metabólica, desidratação, estresse de temperatura e até morte.
De todos os processos pré-abate, ROÇA (2001) afirma que o transporte dos animais para o estabelecimento de abate constitui-se na primeira etapa do abate humanitário com efeitos significativos na qualidade da carne.
O transporte rodoviário, em condições desfavoráveis como a diminuição do espaço, jejum, desidratação, cansaço, pode provocar a morte dos animais ou conduzir a contusões, perda de peso e estresse dos animais (Knowles, 1999).
BONFIM (2003) ressalta que a escolha do veículo adequado é fundamental para que alguns problemas possam ser evitados como: carrocerias com pontas de madeira, ripas, pregos ou parafusos expostos, o que também irá afetar a qualidade do couro; altura e paredes da carroceria inadequadas; rampa com inclinação imprópria para o transporte; condições inadequadas de ventilação, pisos sujos e escorregadios, etc.
Este trabalho tem como objetivo verificar o efeito do transporte na qualidade carcaça de bovinos transportados na região de Cuiabá no que diz respeito aos índeces de hematomas.
MATERIAL E MÉTODOS: Este trabalho ocorreu no mês de novembro de 2010 em um matadouro frigorífico localizado na região de Cuiabá-MT.
Foram analisadas 119 carcaças de bovinos, todos anelorados, conduzidos ao matadouro frigorífico pela carreta alta.
Para avaliação das contusões nas carcaças, seguiu-se o critério descrito pela AUS-MEAT (2001), que defini hematoma grave como qualquer lesão no tecido muscular, caracterizada por apresentar pelo menos 2 cm de profundidade ou 10 cm de diâmetro (ou área equivalente). Essas avaliações foram realizadas na linha de abate, logo após a retirada do couro, sendo registrada a identidade de cada animal (de acordo com a identificação do frigorífico) e o local do hematoma (quando ocorria), marcando “X” em desenhos de carcaças.
Todas estas observações foram realizadas por um único operador prostado na linha de abate, logo após a retirada da pele, em um local de boa iluminação.
As características avaliadas foram:
1) Total de carcaças lesionadas: foi determanda a porcentagem de carcaças lesionadas;
2) Idade das lesões: recentes (avermelhadas) e antigas (amareladas);
3) Graus das lesões: grau 1 (leves com pequena área atingida), grau 2 (mais profundas com maior área circunvizinha) e lesões grau 3 (consideradas graves com perda tecidual);
4) Extensão das lesões: nível 1 (1-10cm), nível 2 (11-20cm), nível 3 (acima de 20cm);
5) Local das lesões: dianteiro, traseiro, contr-filé e ponta de agulha.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Das 119 carcaças avaliadas, 112 apresentaram lesões, correspondendo a 94,11% de carcaças com hematomas. Sendo que o total de lesões observadas foram de 339 ao todo, pois algumas carcaças apresentaram mais de uma lesão.
Com relação a idade das lesões, todas foram consideradas recentes, devendo ser o transporte a principal causa.
BONFIM (2003) ressalta que traumatismo e contusões são bastante comuns, ocorrendo por densidade inadequada da carga; piso e carroceria do veículo com defeitos, como paredes irregulares; excesso de velocidade, sobretudo nas curvas e ainda a aceleração e freadas bruscas durante a viagem. Estas carcaças com fraturas ou contundidas resultarão em perdas financeiras, não apenas para o frigorífico e pecuaristas.
Com relação ao grau das lesões, das 339 lesões observadas, 289 eram de grau 1, 43 de grau 2 e 7 de grau 3.
Com relação a extensão das lesões, das 339 lesões observadas, 126 eram de nível 1, 102 eram de nível 2 e 111 de nível 3.
O transporte de bovinos como parte do manejo pré-abate tem efeitos negativos no bem-estar dos animais, resultando em dor e sofrimento aos mesmos e perdas econômicas aos produtores e frigoríficos. Durante o transporte há esforço físico e estresse psicológico (decorrente do estado emocional), além do risco dos manejos envolvidos aumentarem a frequência de contusões nas carcaças, que também é indicativa de problemas de bem-estar (CIOCCA et al., 2007).
Com relação à localização das lesões, das 339 observadas, 4 (1,17%) ocorreram no dianteiro, 249 (73,45%) ocorreram na região do traseiro, 73 (21,53) ocorreram na região do contra-filé e 13 (3,84%) ocorreram na região da ponta de agulha.
Destaca-se o alto índice de hematomas nas regiões do traseiro e do contra-filé, locais onde se encontram os cortes mais nobres
CONCLUSÕES: O transporte é um sério agravante para o bem-estar animal, o que é comprovado pelos altos índices de lesões nas carcaças analisadas.
Deve-se entender a cadeia como um todo, onde frigorífico, pecuaristas e consumidores devem conhecer os impactos do bem-estar animal para a qualidade da carne.
Deve-se atentar para treinamento aos operadores e motoristas no manejo pré-abate dos bovinos.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AUS-MEAT Limited. Beef & Veal Language. South Brisbane, 2001. 4p.
BONFIM, Lara Macedo. Influência do manejo dos animais durante o transporte sobre a qualidade da carne. Revista Recursos Humanos no Agronegócio. Artigos técnicos, 2003.
CIOCCA, J. R. P.; NEVES, J. E. G.; BARBALHO, P. C.; TSEIMAZIDES, S. P.; PARANHOS DA COSTA, M. J. R. Efeito do tipo de veículo na qualidade da carne de bovinos como indicador de bem-estar durante o transporte. In: Conceitos em bem-estar animal. Anais... II Congresso internacional de Conceitos em Bem-estar animal. Rio de Janeiro, 2007.
GREGORY, N. G. Preslaughter, handing, stunning and slaughter. Meat Science, v. 36, p. 46-56, 1994.
KNOWLES, T. G. A review of the road transport of cattle. Veterinary record, London, v. 144, n. 8, p. 197-201, 1999.
ROÇA, R. O. Abate humanitário de bovinos. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP, v. 4, n. 2, p. 73-85, 2001.
VIEIRA, M. I. O transporte dos bovinos para o abate. Disponível em <HTTP://www.ruralnews.com.br/transporte.pecuaria/bovinos/transporte_bovinos_para_abate.htm>. 2003. Acesso em Novembro de 2010.