ÁREA: Alimentos

TÍTULO: INDICATIVOS DE BEM-ESTAR ANIMAL NO TRANSPORTE DE BOVINOS

AUTORES: SPENGLER, M. A. (IFMT) ; ULISSES, R. N. (IFMT) ; GALDINO, F. S. (IFMT) ; SOBRINHO, A. J. (IFMT) ; SOUZA, E. I. P. (IFMT) ; DA SILVA, J. L. (IFMT)

RESUMO: Neste trabalho realizou-se uma estudo de monitorizações de desembarque de bovinos transportados por carreta alta (double deck) na região de Cuiabá (MT), com o objetivo de verificar as condições de bem-estar animal durante o transporte, neste caso em específico no desembarque. Para tanto foram observados 25 desembarques de bovinos conduzidos pela carreta alta, Onde foram monitorados 1069 animais (42,76 animais/desembarque). As variáveis observadas foram: tempo de desembarque, número de animais mortos, número de animais que caem, número de animais que escorregam, vocalizações, uso de ponteira elétrica, frequência do uso de ponteiras elétricas, batidas em objetos fixos, arraste de sensíveis, animais que caminham com dificuldade e atos de abuso.

PALAVRAS CHAVES: bem-estar animal, transporte de bovinos, pré-abate de bovinos.

INTRODUÇÃO: Entende-se como manejo de transporte uma fase de um sistema maior, denominado manejo pré-abate, que é o processo que envolve desde a preparação dos animais na fazenda para o embarque, o próprio embarque, o percurso entre a propriedade e o frigorífico, o desembarque, a acomodação dos animais dentro da planta frigorífica até o momento final, a sangria (TSEIMAZIDES, 2006).
GRANDIN (2003) afirma que é importante ressaltar que um manejo feito de forma correta pode melhorar os resultados e proporcionar o bem-estar do animal, minimizando perdas quantitativas e qualitativas da carne. Uma prova disto é que após o treinamento de práticas adequadas de manejo, observou-se diminuição da utilização de choque elétrico para movimentação do gado da ordem de 79,5% (GRANDIN, 1998).
Os indicadores para avaliação do bem-estar de animais podem ser divididos em três grupos: (1) indicadores fisiológicos; (2) indicadores do comportamento – relacionado aos estados mentais do animal e (3) indicadores de produção – baseados no resultado de produção dos animais (leite, ganho de peso) (BARBALHO, 2007).
Na prática, a mensuração objetiva dos efeitos estressantes e a condição de bem-estar dos animais no frigorífico não são tarefas fácies de serem conduzidas, visto que a maioria dos indicadores podem sofrer variações em função da raça, nutrição, sexo, idade, manejo e condições individuais. Motivos que levam a considerar que a maioria dos indicadores objetivos de bem-estar animal não devem ser analisados isoladamente e sim dentro de um conjunto de mensurações que analisam vários pontos críticos de uma linha de abate (BERTOLONI, 2005).
Portanto o objetivo deste trabalho é de verificar as condições de bem-estar animal no transporte de bovinos com base em indicativos de comportamento animal.

MATERIAL E MÉTODOS: Este estudo foi conduzido a partir de monitorizações de desembarque de bovinos transportados por carreta alta em um matadouro frigorífico na região de Cuiabá, apresentando uma capacidade de abate de 600 a 800 cabeças/dia e que possui Serviço de Inspeção Federal (SIF).
Os dados do presente trabalho compreendem monitorizações de atividades de desembarque ocorridas no período de janeiro de 2010.
Foram monitorados 25 desembarques, apresentando um total de 1069 animais transportados, todos anelorados.
Foram observados os seguintes parâmetros, de acordo com o protocolo de auditoria de desembarque: tempo de desembarque, número de animais mortos, número de animais que caem, número de animais que escorregam, vocalizações, uso de ponteira elétrica, frequência do uso de ponteiras elétricas, batidas em objetos fixos, arraste de sensíveis, animais que caminham com dificuldade, atos de abuso.
Para a coleta dos dados foram utilizados formulários auto-explicativos (GRANDIN, 2006) com preenchimento dos campos de acordo com a seqüência de observações realizadas a campo, de modo que fosse possível obter marcações objetivas dos pontos verificados, sendo realizado por uma única pessoa ocupando posição estratégica, de modo a visualizar os animais durante o desembarque.
Também foi utilizado uma máquina filmadora, para que os desembarques pudessem ser visto e revisto, procurando, desta forma sanar possíveis dúvidas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Tabela 1. Resultado das monitorizações de bem-estar

Observações Quantidade(N) Porcentagens (%)
Total de desembarques 25 -
Total de animais monitorados 1069 -
Animais/desembarque 42,76 -
Tempo médio de desembarque (segundos) 467 -
Número de mortos 0 0
Número de quedas 32 2,99
Número de escorregões 66 6,17
Número de vocalizações 46 4,30
Uso de ponteira/desembarque 22 88
Batidas em objetos fixos 146 13,65
Arraste de sensíveis 1 0,09
Atos de abuso 3 0,28

BONFIM (2003) destaca que a morte de bovinos decorrente do transporte é rara, e, quando ocorre, se dá devido ao pisoteio e asfixia.
Grandin (2001) considera os seguintes parâmetros para quedas, escorregões e vocalizações: Excelente (sem quedas); aceitável (menos de 3%); não aceitável(de 3 a 5%) e problema sério (mais de 5%).No monitoramento realizado somente está aceitável os parâmetros para quedas, os demais estão como inaceitável para escorregões e problema sério para vocalizações.
Com relação ao uso de ponteiras elétricas, atualmente as recomendações são para que ao invés de se utilizar ponteira elétrica, utiliza-se bandeiras. No entanto, para que seja realizado um melhor manejo pré-abate, principalmente no que diz respeito ao uso de ponteiras, deve-se capacitar os funcionários, e mostra a estreita relação entre bem-estar animal e a qualidade da carne.
Outro destaque é o elevado indice de batidas em objetos fixos, tanto contra a carroceria, quanto nas laterais dos bretes da plataforma de recepção.

CONCLUSÕES: Pelas observações analisadas, verifica-se que em grande parte das características avaliadas, quedas, escorregões, vocalizações, uso de ponteira, batidas em objetos fixos,atos de abuso quando mau conduzidas são significativas para o bem-estar dos animais.

Deve-se apresentar um programas de treinamento para os motoristas e funcionários do frigorífico.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRABALHO, P. C. Avaliação de Programas de treinamento em manejo racional de bovinos em frigoríficos para melhoria do bem-estar animal. Dissertação pela Universidade Estadual Paulista, Campus Jaboticabal, 2007.

BERTOLONI, W. Efeito da genética e dos sistemas de insensibilização elétrico e gasoso (CO2) no bem-estar e Qualidade de carne de híbridos suínos. Tese pela Universidade Estadual de Campinas, 2005.

BONFIM, Lara Macedo. Influência do manejo dos animais durante o transporte sobre a qualidade da carne. Revista Recursos Humanos no Agronegócio. Artigos técnicos, 2003.

GRANDIN, T. Progress and challenges in animal handling and slaughter in the U.S. Applied Animal Behavior Science. 100: 129-139, 2006.

GRANDIN, T. Cattle slaughter audit form (updates October 2001) based on American meat Institute Guidelines 2001. Disponível em: http://www.grandin.com/cattle.audit.form.html Acesso em: 07 nov. 2010.

GRANDIN, T. Transferring results of behavioral research to industry to improve animal welfare on the farm, ranch and the slaughter plant. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 81, n. 3, p. 215-228, 2003.

GRANDIN, T. The feasibility of using vocalization scoring as na indicator of poor welfare during slaughter. Applied Animal Behaviour Science, v. 56, p. 121-128, 1998a.

TSEIMAZIDES, S. P. Efeitos do transporte rodoviário sobre a incidência de hematomas e variações de pH em carcaças bovinas. 2006. 60p. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade estadual Paulista, Jaboticabal, 2006.