ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: A METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO NO ENSINO DA QUÍMICA: UM DESAFIO DE MUDAR A REALIDADE
AUTORES: DOREA, D.D. (FAEMA) ; CHIARATTO, R. A. (FAEMA) ; ALVES-SOUZA, R.A. (FAEMA)
RESUMO: Este estudo centra-se no uso da Metodologia da Problematização objetivando investigar as dificuldades no estudo da Química em EEFM de ensino médio em Ariquemes/RO, bem como na sua aplicação como estratégia metodológica para minimização das mesmas. Aplicou-se um questionário que permitiu inferir que os alunos pesquisados expressaram opiniões diferentes frente ao tempo disponível para o estudo e ao tempo de aplicação dos conteúdos. Os achados mostraram-se coincidentes frente à falta de professores com formação específica, à dificuldade de unir teoria e prática, à falta de laboratório equipado, desinteresse pela disciplina e falta de aulas práticas. Conclui-se pela viabilidade de sua difusão, já que oportuniza contribuições efetivas na mesma proporção do compromisso com a ação transformadora.
PALAVRAS CHAVES: metodologia da problematização; química, ensino
INTRODUÇÃO: A observação do cotidiano escolar de alunos de ensino médio permite constatar que os mesmos apresentam inúmeras dificuldades no aprendizado da Química, além da pouca afinidade pela disciplina em questão. Aliados a este fato, há também relatos de professores abordando dificuldades em formular metodologias que os auxiliem nas suas práticas educacionais, despertando a curiosidade e gerando interesse nos alunos, com a conseqüente desvalorização da disciplina. Esta percepção aguçou o desejo de conhecer mais profundamente a realidade educacional de uma escola estadual de ensino médio, em Ariquemes/RO, no tocante à percepção dos alunos de ensino regular e da EJA no ensino da Química. A Metodologia da Problematização é uma metodologia de ensino, de estudo e de trabalho, que surge como uma excelente alternativa para temas que estejam envolvidos com a vida em sociedade (BERBEL, 1999). Morin (2006) aborda os sete saberes fundamentais que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras da própria sociedade e a cultura. Desenvolvida em cinco etapas, a Metodologia da Problematização, parte dos problemas da realidade, das necessidades vivenciadas pela população, passando por um momento mais reflexivo de aprofundamento teórico nos seus mais diferentes aspectos, apontando hipóteses de solução para os problemas levantados, retornando à realidade (BORDENAVE, 1982). O seu principal objetivo é incitar os participantes a tomar parte dos problemas existentes na realidade, trabalhando a conscientização para a formação de pessoas que exerçam a sua cidadania de forma crítica e participativa em diversos espaços sociais. (BERBEL, 2009).
MATERIAL E MÉTODOS: Aplicou-se um questionário, com perguntas que versavam sobre elementos que poderiam interferir na aprendizagem e compreensão dos conteúdos de Química. Ressalta-se que os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram tidos como prioritários os seguintes pontos: dificuldade em unir teoria e prática, falta de aulas práticas em laboratórios e a falta de estruturação dos laboratórios. Na etapa da teorização, focalizou-se no estudo de possibilidades para minimizar as dificuldades relatadas para a aprendizagem da Química. Muitas hipóteses de solução foram discutidas, chegando-se à conclusão que a melhor estratégia era a utilização da própria Metodologia da Problematização para se ministrar os conteúdos exigidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais–PCNs–para o ensino médio, na disciplina de Química. Iniciou-se um trabalho de 20 horas, divididas em 4 encontros, com os alunos participantes da pesquisa, na forma de oficinas de trabalho, atendendo o princípio da Metodologia da Problematização, ou seja, fazendo com que os participantes do projeto passassem a conhecer de forma prática a referida metodologia. Em outras palavras, significa dizer que os alunos vivenciaram, a cada encontro, as etapas do Arco de Maguerez, ao mesmo tempo em que eram ministrados alguns conteúdos específicos. A quinta etapa do Arco de Maguerez (aplicação à realidade), deu origem a novos “arcos”, reiniciando a cada encontro, um novo arco (VASCONCELOS et al. ,2009), só que desta vez abordando conteúdos dos PCNs por meio de uma metodologia ativa diferenciada. No primeiro encontro foi realizada uma avaliação diagnóstica, repetida ao final, visando inferir o grau de retenção dos conteúdos ministrados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Pesquisaram-se 50 alunos do ensino regular e 56 da EJA. Os resultados apontaram uma semelhança entre as duas populações, no tocante ao entendimento da existência de dificuldade de unir teoria e prática, assim como uma deficiência na estrutura física dos laboratórios. Entre os alunos da EJA (69,6%), o pouco tempo disponível para o estudo foi prejudicial ao aprendizado, sendo que o ensino regular identificou o contrário (70%). Sobre o tempo para aplicação dos conteúdos, 69,6% da EJA respondeu que é insuficiente, contra 74% do ensino regular como suficiente. A falta de aulas práticas correspondeu a 96% do ensino regular e 87,5% da EJA. Quanto à contextualização, 83,9% da EJA declararam ter dificuldade para unirem a teoria à prática, reforçada por 58% ensino regular. 75% da EJA acreditam que a falta de laboratório estruturado seja preponderante, contra 84% do ensino regular. Sobre o desinteresse dos alunos pela disciplina de Química, o percentual entre os alunos de ensino regular é de 12% e na EJA 14,2%. 48,2% da EJA entendem que a falta de formação específica é um implicador, sendo que no ensino regular essa avaliação foi feita por 16% deles. Na segunda fase, o contato com a realidade apontou para a confrontação entre o imaginário e o real, o fortalecimento da capacidade crítica e de observação, a reflexão e a constatação da necessidade de integração teoria e prática. A reaplicação da avaliação diagnóstica permitiu identificar que a assimilação foi alcançada, tendo sido muito contextualizada e significativa. A Metodologia da Problematização se utiliza da realidade para construir o conhecimento ao mesmo tempo em que a transforma.
CONCLUSÕES: Os alunos expressaram opiniões diferenciadas sobre o tempo disponível para o estudo e do tempo para aplicação dos conteúdos. Nos demais, suas opiniões coincidem, muito embora apresentem percentuais divergentes. Infere-se ainda que a problematização dos conteúdos, permitiu que a aprendizagem fosse incrementada. A Metodologia da Problematização pode ser uma estratégia metodológica recomendada para o ensino da Química, de modo a transformar o cenário percebido, transformando não só a realidade do processo ensino-aprendizagem como a realidade do educando e educador.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BERBEL, N. A. N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos?Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n.2, 139-154, fev. 2009.
BERBEL, N. A. N. (Org.). Metodologia da Problematização. São Paulo: UEL, 1999.
BORDENAVE, J. ; PEREIRA, A. Estratégias de ensino aprendizagem. 4. ed., Petrópolis: Vozes, 1982.
BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em mec.gov.br/semtec/Noticias/noticia74.shtm. Acesso em 15/06/2009.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
VASCONCELOS, M. M.; BERBEL, N. A. N.; OLIVEIRA, C.C. Formação de professores: o desafio de integrar estágio com ensino e pesquisa na graduação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.90, n. 226, p. 609-623, set/dez, 2009.