ÁREA: Ambiental

TÍTULO: ASPECTOS DO ETNOCONHECIMENTO DA COMUNIDADE DE BOM SUCESSO-MT, COMO SUBSÍDIO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

AUTORES: VALENTINI, C. M. A. (IFMT) ; ALMEIDA, E. D. (IFMT) ; ALMEIDA, J. D. (UFMT)

RESUMO: Na busca de se formar pessoas dispostas a reconstruir muito do que já se perdeu do meio ambiente, é preciso ouvir comunidades tradicionais que aprenderam a sobreviver com natureza, e registrar seus aspectos sociais, biológicos, culturais e éticos, também já ameaçados pela rápida urbanização. Neste trabalho o objetivo foi realizar o registro de aspectos do etnoconhecimento da população ribeirinha de Bom Sucesso - MT, localizada no município de Várzea Grande-MT. Utilizou-se a entrevista semi-estruturada com questões fechadas e/ou abertas. Concluiu-se que a comunidade ainda é povoada por parentes dos primeiros povos que residiram na região, e que poucos têm conseguido sobreviver das suas atividades econômicas e culturais mais importantes: a pesca e a produção de rapadura.

PALAVRAS CHAVES: interdisciplinaridade, sociedades tradicionais, resgate cultural

INTRODUÇÃO: O conhecimento acumulado pelas sociedades tradicionais, através de séculos de estreita relação com a natureza, desempenha papel fundamental para a manutenção da diversidade biológica, assegurando a utilização racional dos recursos naturais. Vários autores têm proposto formas de se avaliar a interação destas populações com os recursos naturais de que dispõem, pois cada vez mais se reconhece que a exploração dos ambientes naturais por povos tradicionais pode nos fornecer subsídios para estratégias de manejo e exploração que sejam sustentáveis a longo prazo (Amorozo, 2002).
Uma das formas de realizar esse registro e esse resgate é o relato oral. O relato oral sempre foi a maior fonte de dados e transmissão de conhecimentos de uma geração para outra. Ensinamentos e tradições foram preservados e transmitidos por meio de rituais, danças, músicas, orações, conversas, e acabaram sendo encobertos por culturas ditas principais (Marquetti & Siva, 2008).
Registrar esses relatos é uma investigação que propicia um caminho pedagógico da prática de educação ambiental, visto que o aprendizado se dá pelo contato com populações tradicionais que subsistem mantendo e recriando seus conhecimentos sobre a natureza e seus ciclos, adquiridos com seus antepassados.
Sob esta perspectiva, este estudo fundamenta-se numa abordagem interdisciplinar, permitindo conexões entre as ciências naturais e humanas, cujo objetivo foi realizar o registro de aspectos do etnoconhecimento da população ribeirinha de Bom Sucesso - MT, de maneira a permear a prática da educação ambiental para alunos do curso Técnico Integrado de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso.



MATERIAL E MÉTODOS: A comunidade ribeirinha Bom Sucesso, um dos distritos do município de Várzea Grande – MT (Figura 1), situada às margens do rio Cuiabá, é um lugarejo com 2.955 habitantes (IBGE, 2007) formado por ruas estreitas, com sua rua principal, paralela ao rio Cuiabá, com mais de um quilômetro de extensão, calçada com blocos de cimento e ladeada por casas, geralmente próximas umas das outras, com poucas cercas ou muros, quintais grandes e arborizados, e portas que se abrem no passeio, onde as pessoas costumam sentar (Campo, 2006).
Os dados foram coletados em novembro de 2008 utilizando-se a técnica de entrevistas semi-estruturadas (Albuquerque et al., 2008), com questões fechadas e/ou abertas, sendo uma parte introdutória referente aos dados sócio-econômicos do informante, e a outra parte com questões relacionadas ao patrimônio imaterial, educação ambiental e cidadania com enfoque na pesca e produção de rapadura, e os quintais. Foram entrevistadas 23 pessoas da comunidade; 9 homens e 14 mulheres, sendo 18 deles nascidos e criados em Bom Sucesso, dois nascidos em outras comunidades da Várzea Grande, dois em Cuiabá- MT um em Acorizal-MT, porém esses moram no local desde que se casaram ou foram criados lá. Foram escolhidos ao acaso por grupos de estudantes do curso Técnico Integrado de Meio Ambiente do IFMT.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: O óleo usado das peixarias, que fizeram o distrito ser conhecido como “rota do peixe”, é recolhido duas vezes por mês pela UFMT e usados para produção de biodiesel. O esgoto do local é jogado “in natura” no rio Cuiabá. Sobre a pesca no rio Cuiabá, 66,7% dos entrevistados ainda o fazem em média 4 vezes por semana. Desses 75% usam a canoa e 25% pescam no barranco e pescam o suficiente para alimentar a família. Por contraste, esses ribeirinhos que possuem peixarias no local, servem pacu comprado de tanques de uma chácara próxima, e pintado de Barra do Bugres -MT. Todos os informantes apontaram a construção da Usina de Manso em 1999, como a possível causa da drástica diminuição dos peixes do local, que segundo eles alterou o ciclo dos peixes. Antes mesmo da construção da barragem, Lima (1986/87) alertou sobre as possíveis alterações negativas na composição ictiofaunística, especialmente sobre a população dos peixes migradores, que ficariam impedidos de subir o curso do rio e completar o ciclo reprodutivo.
Dos mais de 30 engenhos que haviam , apenas 6 subsistem (Figura 2). São engenhos centenários passados de pai para filho, que utilizam apenas mão-de-obra familiar. O plantio da cana é feito sem corretivos para o solo, apenas comadubação orgânica que utiliza o próprio bagaço da cana com suas folhas logo após o corte, que também é manual, e não se faz queima da palhada. O transporte da cana para o engenho é feito em carros de bois pelo dono do engenho. O cozimento e o batimento do melado são feitos em tachos de cobre, e a fornalha é alimentada por lenha das matas virgens próximas à lavoura da cana, ou pelo próprio bagaço da cana.A rapadura é embalada no próprio engenho em sacolinhas plásticas e são comercializadas no próprio local para turistas e nos restaurantes do local





CONCLUSÕES: A Região de Bom Sucesso ainda é povoada por parentes dos primeiros povos que residiram na região, mas poucos têm conseguido sobreviver das suas atividades econômicas e culturais mais importantes: a pesca e a produção de rapadura.
A pesca é feita especialmente utilizando-se canoas, feitas com madeira da mata local, e os engenhos apesar de utilizarem energia elétrica, usam a mesma tecnologia dos antepassados.
O rio Cuiabá que outrora foi o berço de lendas irrigou as lavouras e fartou as mesas desses ribeirinhos, hoje não lhes dá nem o peixe que servem nas peixarias do local.


AGRADECIMENTOS: Aos alunos das turmas e 2482A-7/1 e 2482B-7/1 do Curso Técnico Integrado de Meio Ambiente do IFMTcampus Cuiabá-Bela Vista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALBUQUERQUE, U. P. A.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L, V. F. C. (orgs.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. 2. ed. Recife: NUPPEA, 2008. 323p.

AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT. Acta Botanica Brasilica, v. 16, n. 2, p. 189-203, 2002.

CAMPO, L. M. C. A paisagem simbólica de Bom Sucesso e Limpo Grande, em Várzea Grande – MT. 2006. 184f. Dissertação (Mestrado em Geografia)-Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. 2006.

LIMA, J. A. F. A pesca no Pantanal de Mato Grosso: importância dos peixes migradores. Acta Amazônica, v.16/17, p.87-94,1986/87.

MARQUETTI, D.; SILVA, J. B. L. História oral e fragmentos da cultura popular cabocla. Revista eletrônica Nau literária, v.4, n.1, p. 1-7, 2008.