ÁREA: Ambiental
TÍTULO: ANÁLISE DO TEOR DE METAIS ORIUNDOS DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS EM ÁGUAS SUPERFICIAIS E SEDIMENTO DA MICRO-BACIA DO RIO DOCE, SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS.
AUTORES: LIMA, A.M. (UFG) ; BRAIT, C.H.H. (CESUT) ; CABRAL, J.B.P. (UFG) ; SANTOS, F.F. (UFG)
RESUMO: A região sudoeste do Estado de Goiás, em especial a micro-bacia do Rio Doce é altamente produtora de grãos como a soja e o milho, começando a se destacar na cultura de cana de açúcar. Essas atividades consomem grande quantidade de fertilizantes, insumos estes que contém metais em suas formulações que, por meio do escoamento superficial, pode contaminar águas superficiais. Devido ao fato da região em estudo não apresentar dados referentes à contaminação por metais pesados, este trabalho teve como objetivo a avaliação de metais (Zn, Cu, Cr, Mn, Fe, Ni, Cd, Pb e Al) em águas e sedimento. Dentre os metais analisados, somente os metais Al e Fe foram detectados nas amostras de água. Para o sedimento, as análises revelaram a presença de Mn, além dos metais Al e Fe.
PALAVRAS CHAVES: metais em água e sedimento, rio doce
INTRODUÇÃO: Um dos maiores problemas da atualidade é a poluição e contaminação dos compartimentos solo, água e atmosfera. A poluição destes compartimentos é atribuída a fatores naturais e antrópicos, sendo este último o maior responsável uma vez que as atividades humanas geram diariamente inúmeros subprodutos nas diversas atividades de produção. As atividades agrícolas empregam grandes quantidades de fertilizantes e agroquímicos com objetivos de proteger as culturas contra pragas e aumento da produção de grãos, entretanto, estes insumos contem impurezas em suas formulações como, por exemplo, os metais Cd, Cr, Mo, Pb, U, V, Zn presentes nos fertilizantes e os metais Cu, As, Hg, Pb, Mn, Zn presentes nos agroquímicos (LEMES, 2001). Devido ao uso repetitivo e excessivo dessas substâncias, pode causar a poluição do ambiente aquático, uma vez que estes podem atingir os corpos d’água pela ação das chuvas.
A micro-bacia do Rio Doce é produtora de grãos e começa a se destacar com a expansão da cultura de cana de açúcar. A aplicação de grande quantidade de fertilizantes e agroquímicos, aliados à devastação da mata ciliar, pode acarretar diversos impactos aos recursos hídricos das áreas adjacentes a essas plantações através do processo de lixiviação do solo. Vale lembrar, também, que não se encontram trabalhos científicos relativos à presença de metais potencialmente tóxicos nas águas da micro-bacia do Rio Doce. As informações obtidas neste trabalho permitirão obter uma visão inicial da situação atual da qualidade da água do Rio Doce.
MATERIAL E MÉTODOS: A coleta das amostras de água e sedimento foi realizada em quatro pontos do Rio Doce, sendo o primeiro ponto na nascente e os demais a jusante deste, eqüidistantes aproximadamente de 10 km. Os frascos para coleta de água foram previamente descontaminados no laboratório, em banho com solução de HNO3 diluído e no local de amostragem foram lavados três vezes com a água do próprio rio. As amostras de sedimento foram coletadas utilizando-se draga de Petersen em acordo com a literatura (MOZETO et al., 2006). A extração dos metais totais em água e sedimento seguiu a metodologia descrita pela literatura (APHA, 1995; SANTOS, 1999), respectivamente. Após a coleta de amostras de água adicionou-se 1,5 mL de HNO3 concentrado. Para extração das amostras de metais em água, 1 litro foi reduzido até o volume aproximado de 100 mL. Durante o processo de concentração adicionou-se 5 mL de HNO3. O material concentrado foi filtrado em filtros de fibra de vidro, GFC, com porosidade de 0,45 µm e colocado em balão de 100 mL. Para extração de metais totais em sedimento, transferiu- se 1,0 g de sedimento para tubos de digestão, adicionou-se uma solução concentrada de 10 mL de HNO3 e 5 mL de HClO4. Após 2 h de aquecimento a 150 ºC retirou-se o tubo do aparelho digestor e depois de breve resfriamento adicionou-se 5 mL de H2O2 a 30%. As determinações de metais totais em amostras de água e sedimento foram realizadas por espectrometria de emissão atômica com plasma de argônio induzido (ICP-OES), Thermo Jarrel Ash, modelo IRIS/AP.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Embora a região em estudo não sofrer impacto a partir de atividades industriais e domésticas, torna-se necessário a determinação de metais oriundos das atividades agrícolas de maneira a se obter informações importantes sobre a qualidade da água do Rio Doce.
De acordo com os resultados apresentados na tabela 1, as amostras de água revelaram a presença somente os elementos Ferro (Fe) e Alumínio (Al). Esses metais encontram-se em concentração acima do valor permitido pela legislação (RESOLUÇÃO CONAMA). As altas concentrações de Fe e Al nas águas superficiais do Rio Doce se justificam em função da característica do solo da região em estudo (Latossolo e Argissolo), que é rico nestes metais. Estes metais, por estarem aderidos às partículas do solo, são incorporados ao meio aquático por meio do processo de lixiviação Para os demais metais, as concentrações encontradas encontram-se abaixo do limite de detecção do método.
A tabela 2, referente aos dados obtidos para as amostras de sedimento, não apresenta resultados relativos ao ponto P2. A ausência dos resultados neste ponto é devido ao local ser de corredeira, impossibilitando a coleta do sedimento. Os dados apresentados na tabela 2 revelaram alta concentração dos metais Al, Fe e Mn em ambos os pontos, o que permite dizer que está ocorrendo lixiviação das partículas do solo para a coluna da água e posterior acumulação no sedimento. A presença de Mn pode ser atribuída ao uso de agroquímicos nas culturas adjacentes ao rio em estudo. Embora não existam valores de referência para efeito de comparação dos resultados obtidos, o Al, Fe e Mn foram os elementos detectados em altas concentrações, o que mostra que o sedimento é uma possível fonte de contaminação caso estes sejam redistribuídos na coluna d’água.
CONCLUSÕES: Os resultados mostram que as águas e do Rio Doce apresentam concentrações de Al e Fe acima dos valores padrão permitidos pela Resolução CONAMA. Estes mesmos metais também foram encontrados no sedimento, fato indicativo de grande devastação da mata ciliar. As análises revelaram a presença de Mn no sedimento, o que evidencia o aporte de agroquímicos contendo este metal em suas formulações. Embora não ter sido revelado a presença dos outros metais estudados, a sedimento apresenta-se como um importante compartimento para estudos relativos a análise ambiental.
AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPQ pela bolsa de iniciação científica concedida (PIBIC-UFG).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AWWA/APHA/WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 200 ed. Washington, 1998.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente; Resolução CONAMA nº. 357, de 17 de março de 2005, Brasília, 2005.
LEMES, M. J. L.(2001); Avaliação de metais e elementos-traços em águas e sedimentos das bacias hidrográficas dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, SP. Tese de Mestrado USP-SP.
MOZETO, A.A.; UMBUZEIRO, G.A.; JARDIM, W.F. Métodos de coleta, análises físico-químicas e ensaios biológicos ecotoxicológicos de sedimentos em água doce, 1st Ed., Cubo: São Carlos, 2006.
SANTOS, A. Distribuição de metais no reservatório de captação de água superficial Anhumas – Américo Brasiliense – SP. 1999. 147p. Dissertação (Mestrado). Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos-SP.