ÁREA: Ambiental
TÍTULO: COMPARAÇÃO HIDROQUÍMICA DE ÁGUAS SUPERFICIAIS EM ÁREAS DE DRENAGEM DE EUCALYPTUS SPP E DE CERRADO ANTROPIZADO SITUA-DOS EM MICROBACIAS DO ALTO E MÉDIO SÃO FRANCISCO-MG. RESULTADO PRELIMINAR
AUTORES: ALVES, MFG (UNILESTE) ; VON RÜCKERT, G (UNILESTE) ; SABARÁ, MG (UNILESTE)
RESUMO: Nas últimas décadas as florestas de Eucalyptus spp vêm sendo implantadas em diferentes regiões do planeta. Logo, discussões acerca dos impactos causados por florestas plantadas atingiram uma dimensão muito significativa. Muitas mudanças também têm ocorrido no uso da terra do cerrado em virtude do avanço tecnológico, que investe cada vez mais capital na promoção da agricultura. Para avaliar a qualidade da água desses ambientes foram analisados parâmetros hidroquímicos como: alcalinidade, cor, turbidez, fenóis totais, temperatura, condutividade, OD, saturação de O2 e pH. Os resultados obtidos in situ mostraram similaridade entre os ambientes e os resultados laboratoriais indicaram maior interferência do plantio de Eucalyptus spp sobre a qualidade das águas.
PALAVRAS CHAVES: hidroquímica - eucalipto - cerrado
INTRODUÇÃO: As plantações florestais têm sido cada vez mais expandidas, principalmente nos países em desenvolvimento. O total de área plantada atinge aproximadamente 50 milhões de hectares nas regiões tropicais do mundo, com taxas de novos plantios de cerca de 03 milhões de hectares por ano. Como a água e o manejo florestal são inseparáveis, torna-se vital que o manejo das florestas plantadas incorpore a análise dos impactos hidrológicos potenciais. (LIMA et. al., 2006).
A abundância de terras no cerrado – 24% do território nacional – tem levado à mudanças no uso da terra, entre essas o aumento de florestas plantadas. Essas alterações, ainda pouco documentadas podem ter um impacto negativo sobre esse ecossistema. Grandes extensões de terras ocupadas por monoculturas e o aumento de queimadas deixam o solo empobrecido, além de aumentar os processos erosivos. Essa conversão de cerrado natural em campos abertos produz períodos de seca maiores e consequentemente diminuem as taxas de precipitação, afetando diretamente as bacias hidrográficas existentes nessas regiões. (OLIVEIRA, 2002; MARQUIS, 2002)
Pesquisas limnológicas têm possibilitado o entendimento sobre as diversas alterações ocorridas em corpos de água tanto em regiões de plantio de Eucalyptus spp, quanto em áreas de cerrado antropizado. (ESTEVES, 1998) Este estudo, portanto, visa avaliar o comportamento hidroquímico das águas nas áreas de plantio de Eucalyptus spp e de Cerrado antropizado. Busca estabelecer uma correlação entre estes ecossistemas, avaliar possíveis impactos e indicar ações de manejo e mitigação ambiental, caso sejam necessárias. Para isso foram realizadas análises hidroquímicas in situ e in vitro.
MATERIAL E MÉTODOS: Para a execução deste trabalho foi realizada uma coleta em março de 2010, em seis pontos situados em áreas de plantio de Eucalyptus spp. da empresa Vallourec & Mannesmann Florestal LTDA, e em áreas de cerrado antropizado, no Alto e Médio rio São Francisco. Coletas periódicas serão realizadas até 2011 para melhor compreensão dos resultados obtidos neste.
As amostras de água para análise in vitro foram coletadas manualmente diretamente no corpo de água e mantidas refrigeradas à 4ºC até análise laboratorial. Análises de temperatura, condutividade, oxigênio dissolvido, saturação de oxigênio, pH e potencial redox, foram realizadas in situ com o auxílio de uma sonda multiparâmetros modelo HACH HQ40D. A análise de fenóis totais foi realizada com o auxílio do kit espectrofotométrico MERCK, 1.14551.0001, embasado no Standard Methods for the examination of Water. Para a determinação da alcalinidade total utilizou-se a metodologia descrita por Goltermam et alli (1978) modificada. Em todas as demais determinações utilizou-se o espectrofotômetro MERK modelo NOVA 60, de feixe único e cubeta de quartzo com passo ótico de 20 e 50 mm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: De forma geral os valores obtidos para as variáveis amostradas in situ não apresentam diferenças significativas entre o ambiente de plantio de Eucalyptus spp. e o de Cerrado. O pH da água tendeu a levemente ácido. Este fato pode ter relação com o escoamento subsuperficial de nutrientes para esses cursos d´água, uma vez que a qualidade da água pode ser diretamente afetada pelos processos superficiais existentes nessas áreas. (SABARÁ, 1999)
A condutividade elétrica dos ambientes apresentou valores baixos (<25µS/cm), caracterizando pequenas quantidades de íons dissolvidos e uma condição oligotrófica do meio. (SABARÁ, 2008). A temperatura da água teve amplitude de variação de apenas 1,46°C, variando de 24,6°C no ambiente de Eucalyptus para 26,07°C. O valor mais baixo encontrado para a região de plantio de eucalipto pode ser resultado dos efeitos da cobertura florestal local. (LIMA, 2006; ZAKIA, 2006)
As áreas de drenagem Eucalyptus apresentaram em sua maioria valores mais altos que os das áreas de Cerrado para as variáveis analisadas em laboratório. A turbulência presente nos pontos onde há vertedouros (VM3 e VM6), provavelmente teve influência sobre os resultados obtidos para todas as variáveis. A alcalinidade apresentou maior valor para a região de Eucalyptus, possivelmente por apresentar maior concentração de cátions básicos. (SABARÁ, 2008). Os elevados valores de turbidez do eucaliptal em relação ao Cerrado podem ter ocorrido devido as ações de manejo nessas áreas, como por exemplo: aplicação de corretivos no solo. A maior concentração de fenóis nas áreas de plantio de Eucalyptus se dá provavelmente pela elevada quantidade de serrapilheira acumulada ao longo dos anos.
CONCLUSÕES: Mediante os resultados preliminares obtidos, conclui-se que não há uma diferença hidroquímica significativa das variáveis in situ amostradas nas áreas de plantio de Eucalyptus spp. e de Cerrado. As menores temperaturas nas áreas de plantio de Eucalyptus spp. podem estar ligadas à cobertura vegetal local. Os valores de cor e turbidez consideravelmente maiores para área de plantio de Eucalyptus spp. sugerem uma interferência desse bioma no ecossistema aquático. A tendência das variáveis analisadas em laboratório serem menores para o bioma Cerrado deve ser acompanhada por meio de estudo contínuo.
AGRADECIMENTOS: À V&M Florestal Ltda por viabilizar a execução do projeto, às companheiras de projeto Sandra Oliveira e Josiany Gabriela e aos familiares, muito obrigado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1. ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. 2ed. Rio de Janeiro: Interciência, 1998. 602 p.
2. GOLTERMAN, H. L.; CLYMO, R. S.; OHMSTAD, M. A. M. Methods for Physical & Chemical Analysis of Fresh Waters. IPB Handbook n. 8. Oxford, UK. Blackwell Scientific Publications Ltd, 1978. 200 p.
3. GUERRA, Cláudio (Coord.). Meio ambiente e trabalho no mundo do eucalipto. Associação Agência Terra. 2ed. Belo Horizonte: Associação Agência Terra, 1995. 137 p.
4. LIMA, W. P. Impacto ambiental do eucalipto. 2ed. São Paulo: Edusp – Editora da Universidade de São Paulo, 1996. 301 p.
5. LIMA, W. P.; ZAKIA, M. J. B. As florestas plantadas e a água. 1ed. São Carlos: Rima Editora, 2006. 226 p.
6. OLIVEIRA, P. S.; MARQUIS, R. J. The cerrados of Brazil. Ecology and natural history … Nova Iorque: Columbia University Press, 2002. 367 p.
7. SABARÁ, Millôr Godoy. Comparação ecológica entre rios de menor ordem, drenando bacias cobertas por plantios agrícolas, pastagens e plantios de Eucalyptus grandis.1999. 273 f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, São Carlos, 1999.