ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Reuso de óleo para fabricação de sabão sólido

AUTORES: CALADO, S.C.S. (PQ) (UFPE) ; CAVALCANTI,G.S. (IC) (UFPE) ; MELO, V.F.P. (IC) (UFPE) ; SANTOS, A.A. (IC) (UFPE) ; OLIVEIRA, F.R.P.(IC) (UFPE) ; PRYSTHON, E.K.P. (IC) (UFPE) ; TIBURCIO, M. V. DE S. (IC) (UFPE) ; COSTA, R. S.(PQ). (UFPE)

RESUMO: Estudou-se os óleos comestíveis utilizados em uma região carente da área do grande Recife, Pernambuco, incentivando a população a coleta e estocagem do óleo consumido nas residências, para posterior processamento na comunidade, transformando estes insumos através de agentes sociais da comunidade, que terão como principal fonte de renda os lucros auferidos nas vendas futuras do produto final, o sabão. Foram realizados 05(cinco) ensaios e contorle de qualidade do produto final.O sabão de rendimento melhor foi o sabão IV em torno de 90% De acordo com os resultados o sabão IV é o mais apropriado, devendo-se simplesmente corrigir o pH, pois apresentou maior rendimento, pH intermediário com relação aos demais, qualidade semelhante aos de números III e V e menor percentual de amolecimento.

PALAVRAS CHAVES: óleo usado, reaproveitamento de óleo comestível, preparação de sabão em barra.

INTRODUÇÃO: A questão do lixo está se tornando um dos problemas mais sérios da atualidade. A reciclagem é uma forma muito atrativa de gerenciamento de resíduos, pois transforma o lixo em insumos com diversas vantagens ambientais. Pode contribuir para economia dos recursos naturais, assim como para o bem estar da comunidade. Embora a tecnologia atual já permita reciclar com eficiência diversos materiais, no Brasil, a reciclagem não é ainda um hábito (Alberici & Pontes, 2004). Neste contexto, segundo o Instituto Triângulo, uma família de quatro pessoas consome em média 4 litros de óleo comestível por mês, que normalmente é descartado no esgoto doméstico ou em outros locais inapropriados. Este ato provoca diversos danos ambientais como, por exemplo, o acúmulo de gorduras nos encanamentos podendo causar entupimentos, refluxo do esgoto, rompimento de rede de coleta de esgoto e eutrofização da água com conseqüente diminuição da qualidade desta.Segundo Alberici & Pontes, metade das 120 toneladas de óleo combustível usado gerado na grande Porto Alegre é reciclada e transformada em cola e tinta para uso industrial. De acordo com a empresa Recolhimento de óleos (RECOLT), responsável pela coleta e processamento do óleo, “o preço pago pelo óleo usado (não mais do que R$ 0,40 o quilo) não é atraente e a armazenagem do líquido significa uma trabalho a mais para a dona de casa”.O desafio a ser vencido é a conscientização da população acerca dos problemas ambientais que podem ser evitados, estimulando a coleta voluntária do óleo. A ação comunitária é essencial para a independência dos mais fracos, e, em especial, daqueles que vivem subservindo ao poderio econômico, porém alerta Glen Leet, ao expor que o desenvolvimento da comunidade é essencialmente um desenvolvimento humano (Gonzaga, 2006).

MATERIAL E MÉTODOS: A matéria-prima foi óleo comestível usado coletado em uma comunidade carente do grande Recife.Todo o óleo colhido foi filtrado em papel faixa aberta.No sabão I foi utilizado 200g de óleo usado,10g de cloreto de sódio,100mL de água e 27g de soda caústica. No sabão II utilizou-se 200mL de óleo usado,7,5g de cloreto de sódio, 100mL de água e 27g de soda caústica. A soda foi dissolvida em água quente e o óleo aquecido a uma temperatura de até 90ºC(Mello,1987).O sabão III utilizou-se 250mL de óleo usado,100 mL de água,10mL de amaciante de roupas e 50g de soda caústica(Instituto AKATU, 2006).O sabão IV foi testado adicionando sabão em pó com os seguintes ingredientes:200mL de óleo comestível usado,100 mL de água,4g de sabão em pó e 50g de soda(Alberici & Pontes, 2004).O sabão V utilizou-se 100mL de óleo comestível usado, 17,5g de soda e 17,5 mL de água(Instituto Triângulo, 2007).Para todos os ensaios a massa fundida obtida, onde já consta o sabão, foi colocada em uma prensa artesanal,deixada em repouso de 24 a 48 horas,desenformada e resfriada em temperatura ambiente durante 20 dias(Rittner, 1995; Mello, 1990).O produto acabado foi submetido aos principais ensaios de controle de qualidade medindo-se o Índice de Iodo e de Saponificação, teste de amolecimento e de rachaduras e verificando o rendimento(Calado & Costa, 1999; Rittner, 1995; Zannin et al., 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados expostos (tabela 1) mostram que as amostras estão agrupadas em duas categorias de pH: sabões levemente alcalinos (I e II) e com alto teor de alcalinidade (II, IV e V). Neste contexto, a elevada alcalinidade pode provocar coceiras, ressecamento, descamação e rachaduras. Diferentes fatores influenciam a ocorrência de problemas causada pelo contato constante com componentes que são muito ácidos ou muito básicos (Gerolla, 2005). As amostras I e II foram as únicas que se mostraram na faixa de pH adequado para sabões de limpeza em contato direto com pele, isto é, próximo da neutralidade, porém para utilização doméstica na limpeza de roupas, recomenda-se um pH próximo de 10 (Uchimura, 2007). Todas as amostra foram aprovadas no teste de amolecimento, pois o limite de perda de peso de água é de 4% (Zannin et al, 2001) e todas as amostras analisadas obtiveram um valor inferior a 0,4%. No teste de rachaduras observou-se que as amostras III, IV e V não apresentaram fissuras confirmando a presença da fase de beta sabão. Este teste também permitiu subjetivamente a avaliação qualitativa da plasticidade do sabão (Zannin et al, 2001). Para as demais amostras não foram necessário a realização do teste (foram automaticamente reprovados) já que o aspecto destas é totalmente desuniforme e com muitas fissuras. Os melhores rendimentos foram dos sabões III, IV e V, denotando que as demais amostras são completamente inviáveis economicamente.



CONCLUSÕES: Os sabões III, IV e V obtiveram os melhores rendimentos,embora o pH tenha que ser levemente corrigido para se aproximar do valor de 10 recomendado pela literatura,além de gerarem menor quantidade de efluente, pequena quantidade de insumos,facilidade de execução,aprovação nos testes de qualidade e escasso investimento financeiro. De acordo com os resultados o sabão IV é o mais apropriado,devendo-se simplesmente corrigir o pH que pode ser realizado com ácido sulfônico para sua utilização na própria comunidade,pois apresentou maior rendimento,pH intermediário e menor percentual de amolecimento.

AGRADECIMENTOS: Cursos de graduação de Engenharia Química e Ciências Ambientais da UFPE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALBERICI, R.M. & PONTES, F.F.F. 2004. Reciclagem de óleo comestível usado através da fabricação de sabão. Eng. Ambient., Espírito Santo do Pinhal, v.1, n.1, p.073-076.

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