ÁREA: Ambiental

TÍTULO: EVIDÊNCIAS QUÍMICO-LITOLÓGICAS DE VARIAÇÕES CLIMÁTICAS NEÓGENAS

AUTORES: CASTRO-SILVA, P. (IFGO/RV) ; LORENZ-SILVA, J. L. (UFMS/CPTL)

RESUMO: Amostras da base e do topo de um estrato rochoso biogênico foram retroescavadas de uma lagoa do município de Três Lagoas (MS). Submetidas a ensaios de espectometria e difratometria, os resultados revelaram uma predominante composição silicosa e a presença significativa dos óxidos de alumínio e de ferro. Da base para o topo, foi constatado um gradiente percentual crescente para a sílica e decrescente para os óxidos de alumínio e de ferro. Tais resultados foram atribuídos a variações ambientais moduladoras da temperatura e da umidade quando da deposição e posterior diagênese sedimentar. Na cronologia geológica, a rocha em apreço, marca um instante pleistocênico mais frio e seco que, ocorrido há 39.000 anos antes do presente, teria deixado entre outras reminiscências químicas a sílica.

PALAVRAS CHAVES: espongilito; gradiente químico; paleoclima

INTRODUÇÃO: Tendo como propósito confirmar e detalhar a ocorrência de um gradiente químico entre amostras da base e do topo de uma laje de espongilito, apresentam-se resultados que sugerem seja a rocha em apreço o testemunho de um evento pleistocênico de variação climática. Os ensaios e análises realizados integram um conjunto de estudos centrados nos substratos sedimentares do sistema lacustre que dá nome ao município sul-mato-grossense de Três Lagoas. Na história geológica registram-se inúmeros ciclos climáticos que promoveram variações ambientais importantes. Os sedimentos lacustres, assim como as rochas resultantes de sua diagênese, destacam-se entre os melhores testemunhos dessas variações (SUGUIO, 2003). O substrato de muitas lagoas de várzea dos terraços fluviais da porção meridional do centro oeste brasileiro é constituído por depósitos biogênicos, maiormente turfas e estratos de sílica amorfa de frústulas de diatomáceas e espículas de esponjas (BLINI, 2002). As algas diatomáceas, assim como os poríferos de água doce, constituem uma biocenose típica de águas limpas, rasas, calmas e quimicamente ácidas. Seus remanescentes silicosos, quando litificados, constituem rochas sedimentares denominadas biólitos (LORENZ-SILVA, 2004). A diagênese da turfa origina um biólito combustível denominado carvão. A realização do comparativo químico-composicional entre a base e o topo do depósito lacustre em apreço, justifica-se por fornecer evidências químicas úteis ao entendimento da dinâmica ambiental neógena da região que abriga a ocorrência.

MATERIAL E MÉTODOS: Adotando como referencial protocolar os métodos desenvolvidos por LEIPNITZ (2002), fragmentos da laje consolidada foram retroescavados da Lagoa do Meio, orientados quanto a base e o topo e submetidos a ensaios de sedimentologia. Para tanto, com auxílio de serra diamantada, foram seccionados cubos de aproximadamente 40 cm3 os quais foram desagregados via agitação mecânica em meio aquoso e secos em estufa à 40°C, por 72 horas. Em duas baterias preliminares, uma à seco e outra via úmida, procedeu-se o peneiramento do desagregado antes obtido, usando-se um conjunto de peneiras metálicas (Granutest) com malhas entre 2 e 0,062 mm. Procedeu-se após a análise semi-microscópica das frações retidas, constatando-se no material peneirado a seco, muitos agregados espiculíticos. A análise de finos foi realizada via pipetagem. Diante da necessidade de datar a laje sob estudo, procedeu-se uma análise espectométrica, a qual revelou ausência de carbono na composição do espongilito. Diante do exposto, buscou-se datar amostras da laje por meio do método da termoluminescência, o que foi feito numa primeira etapa no Laboratório de Vidros e Datação da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC) e, posteriormente, no Laboratório de Datação da Universidade de Washington, sediado em Seattle, nos Estados Unidos. Em ambos, uma amostra central da laje teve o núcleo datado, confirmado idade de 39.000 anos. Os pontos de coleta foram descritos e georreferenciados com GPS. Visando os ensaio químicos, no Laboratório de Geologia do campus UFMS de Três Lagoas, mostras da base e do topo de uma laje doe espongilito com 35 cm de espessura, foram desagregadas em moinho e submetidas a ensaios qualitativos nos laboratórios da Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Resultados da espectometria (Figura 1, Quadro 1) revelaram como principais elementos presentes na base da laje do espongilito, o titânio, o cálcio, o alumínio, o ferro e o silício, esse sendo o elemento predominante. A análise de amostra do topo varia somente pela exigüidade de cálcio. A difratometria revelou composição mais rica em óxidos de alumínio e de ferro na base do biólito peculiaridade atribuída a ação de fluídos intersticiais relacionados à dinâmica freática. O menor percentual de voláteis (perda ao fogo) constatado nas amostras de topo, evidencia uma maior disponibilidade hídrica no ambiente deposicional da base, dado sugestivo da progressiva restrição hidrodinâmica do corpo d’água em que ocorreu a deposição sedimentar, constatação também apoiada pelo incremento de P2O5 que, do ponto de vista ecológico, indicativo da eutrofização do meio. Da base ao topo, constata-se um gradiente geoquímico crescente em SiO2 e decrescente em Fe2O3 e Al2O3 (Figura 1, Quadro 2).





CONCLUSÕES: Os resultados evidenciam um registro sedimentar pleistocênico, de origem biogênica gerado em corpo d’água pouco dinâmico. Esse, ao longo do tempo, teria sofrido restrição da hidrodinâmica com decremento do potencial hidrogeniônico (maior acidez do meio). A laje formada há 39.000 anos antes do presente, testemunha um episódio geológico de clima mais frio e seco. O gradiente químico ora apresentado sugere que a Lagoa do Meio, ao tempo de geração do espongilito, foi eutrofizada, passando a exibir condições mais anóxicas.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Blini, R. C. B., 2002. Uma orictocenose lacustre em Três Lagoas, MS. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 54, Anais Em CD. Goiânia, SBPC.

Leipnitz, I. I. 2002. Espongiários fósseis; Diatomáceas e Tecamebas in: Dutra. T. L. (Org.) Técnicas e Procedimentos de Trabalho com Fósseis e Formas Modernas Comparativas. São Leopoldo, RS. LAVIGEA/PPGEO/UNISINOS, 56p.

LORENZ-SILVA, 2004. O Espongilito de Três Lagoas. Tese de Doutorado defendida na UNISINOS e disponível em www.dcnemrevista.com.br/dcn.htm.

SUGUIO, K. 2003. Geologia Sedimentar. Editora. Edgard Blücher Ltda, São Paulo, 1a Edição.

UNB/IG. 2010. Em www.unb.br/ig/glossario. Acessado aos 15 de junho de 2010.