ÁREA: Química Analítica
TÍTULO: ESTUDO ELETROQUÍMICO DO DITERPENO CARNOSOL E EXTRATO DAS FLORES DE Hyptis crenata Pohl
AUTORES: GRAWE, G.F. (UFMT) ; AMORIM, M.P.C. (UFMT) ; DA SILVA, L.E. (UFPR) ; DALL'OGLIO, E.L. (UFMT) ; TEREZO, A.J. (UFMT) ; CASTILHO, M. (UFMT) ; SOUSA JR, P.T. (UFMT)
RESUMO: Do extrato etanólico das flores da espécie Hyptis crenata, foi isolado o carnosol, um diterpeno fenólico com relatada atividade antioxidante e antiinflamatória, possibilitando um estudo de sua oxidação eletroquímica. Os ensaios voltamétricos foram realizados em soluções tamponadas com diferentes valores de pH. Os voltamogramas cíclicos e de pulso diferencial registrados para o EBEtOH e para o carnosol, evidenciaram a presença de picos de oxidação entre potenciais de 200 a 700mV. Os ensaios realizados no intervalo de pH de 2 a 11 para o carnosol, mostraram que o processo de oxidação é fortemente dependente da disponibilidade de prótons em solução. Frente ao radical DPPH, tanto o EBEtOH quanto ao carnosol apresentaram atividade comparável ao ácido ascórbico usado como padrão antioxidante.
PALAVRAS CHAVES: antioxidante, carnosol, voltametria
INTRODUÇÃO: O gênero Hyptis compreende cerca de 400 espécies pertencentes à família Lamiaceae. A espécie Hyptis crenata Pohl é encontrada principalmente na região Centro-Oeste do Brasil, sendo conhecida como “salva-do-marajó”, “salsa-do-campo”, “hortelã-brava” ou “hortelã-do-campo”. Possui ampla aplicação na medicina popular como aromatizante em alimentos, antiinflamatório, descongestionante e antioxidante [REBELO, 2008]. A atividade antioxidante de condimentos se deve a diterpenos fenólicos. Do extrato das flores da Hyptis crenata Pohl, foi isolado o diterpeno carnosol. O carnosol apresenta a vantagem de ser uma lactona fenólica diterpênica inodora e insípida, o que permite sua aplicação em alimentos [PORTE & GODOY, 2001]. Relatos descrevem forte atividade antioxidante e moderada atividade antibactericida e antiviral para o carnosol [AMARO-LUIS, 1997]. Neste estudo reportamos o comportamento eletroquímico do carnosol isolado, e do extrato bruto das flores da Hyptis, bem como a capacidade antioxidante usando o método DPPH. Algumas informações do mecanismo de oxidação do carnosol obtidos em diferentes valores de pH tem papel importante no entendimento de sua atividade antioxidante.
MATERIAL E MÉTODOS: O extrato bruto etanólico (EBEtOH) das flores de Hyptis crenata Pohl foi preparado por meio de maceração com EtOH. Na sequência o etanol foi coletado e rotaevaporado. O EBEtOH foi particionado utilizando como solventes orgânicos, hexano, diclorometano (DCM) e metanol. A partir do fracionamento do subextrato DCM, isolou-se o diterpeno carnosol. A estrutura foi elucidada por meio da análise de dados espectrométricos de RMN 1H e 13C, e comparação com dados da literatura.
Ensaios de voltametria cíclica e de pulso diferencial foram realizados utilizando Potenciostato Autolab PGSTAT302 da EcoChemie, em célula de três eletrodos, sendo o eletrodo trabalho de carbono vítreo (CV) (θ = 3,0 mm), eletrodo de referência Ag/AgCl/KCl 3,0 mol/L e contra eletrodo de Pt. Utilizou-se como eletrólito suporte em meio aquoso soluções tampão 0,1 mol/L de diferentes valores de pH e para as soluções metanólicas tetrafluoroborato de tetraetilamônio. O eletrodo de CV foi polido com suspensão de alumina 0,3 µm depois de cada varredura, devido à forte adsorção do(s) produto(s) de oxidação na superfície do eletrodo. Todos os experimentos foram conduzidos em temperatura ambiente (25 ± 1 ˚C) e na presença de oxigênio dissolvido. As medidas de pH foram realizadas com um pHmetro da Methron.
Utilizou-se o método analítico padrão que emprega a redução do radical DPPH, para avaliação da capacidade antioxidante das amostras. Cada solução amostra (2,5 mL) foi misturada com 1,0 mL da solução de DPPH (40,0 µg/L), em uma cubeta de quartzo de 1 cm de caminho óptico, e feita a leitura de absorbância no comprimento de onda de 518 nm num Espectrofotômetro Varian Cary 50 Scan. Após 30 min, a absorbância foi lida novamente. Este procedimento foi realizado em triplicata.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Figura 1 são apresentados os voltamogramas cíclicos obtidos para o EBEtOH da Hyptis em diferentes soluções tampão e valores de pH.
Os voltamogramas cíclicos registrados mostraram picos de oxidação em potenciais pouco positivos, indicando a presença de substâncias de fácil oxidação no EBEtOH da Hyptis. A concentração hidrogeniônica produziu mudanças no perfil voltamétrico para a solução. Tanto em solução tampão acetato quanto em fosfato os voltamogramas exibem um único pico de oxidação a 520 mV e 165 mV respectivamente, e em solução tampão borato dois processos de oxidação foram observados em 350 mV e 650 mV.
Um estudo voltamétrico de pulso diferencial do carnosol foi realizado sobre uma ampla faixa de pH de 2,0 a 11,0 (Fig. 2), sendo observado um único pico de oxidação em pH menor que 3,0 (360 mV) e maior que 7,0 (590 mV). Para o intervalo de pH entre 3,0 e 7,0 dois picos são evidenciados em 260 mV e 610 mV. Os potenciais de pico para o primeiro e segundo picos de oxidação são dependentes da disponibilidade de prótons em solução.
A porcentagem de inibição (AA%) do radical DPPH pelo EBEtOH foi de 95% para 10,0µg/mL, comparável ao do padrão ácido ascórbico (94% para 10,0µg/mL). A AA% do carnosol foi de 89% e 95% para 10,0µg/mL e 12,5µg/mL. Os resultados de voltametria para a atividade antioxidante corroboram com os resultados do método padrão DPPH.
CONCLUSÕES: Os perfis voltamétricos do EBEtOH e do carnosol, evidenciaram a presença de picos de oxidação em potenciais entre 200 e 600mV, característicos para antioxidantes. Os ensaios realizados entre pH de 2 a 11 para o carnosol, mostraram que o processo de oxidação é fortemente dependente da disponibilidade de prótons do meio. Frente ao radical DPPH, tanto o EBEtOH quanto o carnosol apresentaram atividade comparável ao ácido ascórbico usado como padrão. Os resultados reforçam a aplicabilidade da voltametria na avaliação da capacidade antioxidante de extratos de plantas e de substâncias antioxidantes.
AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem a FAPEMAT, CNPQ e FINEP pelo suporte financeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AMARO-LUIS, J.M.. Abietane diterpenoids from Salvia rubescens ssp. Truxillensis. Pharmaceutica Acta Helvetiae, 1997, v. 72, n. 4, pp. 233-238.
PORTE, A.; GODOY, R.L.O.. Alecrim (Rosmarinus officialis L.): propriedade antimicrobiana e química do óleo essencial. M.CEPPA, 2001, v. 19, n. 2, pp. 193-210.
REBELO, M.M.; SILVA, J.K. R. da; ANDRADE, E.H. A.; MAIA, J.G.S.. Capacidade antioxidante e atividade biológica do óleo essencial e extrato metanólico de Hyptis crenata Pohl ex Benth. Rev. bras. farmacogn. 2009, v. 19, n. 1b, pp. 230-235.