ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: UMA AVALIAÇÃO SOBRE A EFICÁCIA DOS DESINFETANTES DE USO GERAL COMERCIALIZADOS EM FORTALEZA-CE

AUTORES: SENA, L. O. (UFC) ; ALMEIDA, M. M. B. (UFC) ; MAGALHÂES, A. C. (UFC) ; BORGES, I. J. A. N. (TBICL)

RESUMO: Os desinfetantes são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas, tais como o cloreto de benzalcônio, que os tornam responsáveis pelo processo de desinfecção. Para a ANVISA os desinfetantes de uso geral têm que apresentar eficiência contra Staphylococcus aureus e Salmonella choleraesuis que são comumente encontras em ambiente doméstico. O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo sobre a qualidade dos desinfetantes de uso geral comercializados em Fortaleza. Para isto, foram realizados determinação de teor de catiônico ativo, análises microbiológicas para avaliar e eficácia contra S. aureus e S. choleraesuis e informações apresentadas nos rótulos. Através destas análises, observou-se que das seis amostras avaliadas, três apresentaram alguma não conformidade.

PALAVRAS CHAVES: staphylococcus aureus, salmonella choleraesuis, saneantes, cloreto de benzalcônio

INTRODUÇÃO: A busca pelo bem estar, inclui entre outras coisas, a limpeza do local que moramos, trabalhamos ou ainda passamos alguns minutos. E os saneantes, popularmente conhecidos como produtos de limpeza, são aliados imprescindíveis para alcançar esse objetivo, uma vez que são substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliares. O desinfetante de uso geral, que faz parte desta categoria de produto, é de grande importância para o controle dos microorganismos nocivos a população. Porém, muitos deles não cumprem seus fins propostos ou até mesmo já possuem algum tipo de contaminação. Os desinfetantes de uso geral têm na sua composição substâncias microbicidas, tais como os compostos de amônio quaternário, onde o mais popular é o cloreto de alquil dimetil benzil amônio ou cloreto de bezalcônio, que os tornam responsáveis pelo processo de desinfecção. Os sais de amônio quaternário ou quarts, como também são chamados, são fortemente bactericidas além de fungicidas, amebicidas e viricidas contra os vírus envelopados (TORTORA, 2005) Para a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os desinfetantes de uso geral têm que apresentar eficiência contra Staphylococcus aureus e Salmonella choleraesuis que são comumente encontrados em ambiente doméstico (ANVISA, 1988). Diante desta concepção e de poucas informações na literatura a cerca desse assunto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo sobre a qualidade dos desinfetantes de uso geral comercializados em Fortaleza, através da determinação do teor de catiônico ativo, propriedades bactericidas e informações apresentadas no rótulo; Além disso, esse estudo visou investigar se existe diferença na qualidade dos desinfetantes de uso geral com a variação de preço.

MATERIAL E MÉTODOS: As amostras adquiridas aleatoriamente no comércio de Fortaleza foram denominadas de classe A, B, C, de acordo com o preço decrescente. Todos tinham como princípio ativo o cloreto de benzalcônio, estavam dentro do prazo de validade e com registro na ANVISA, logo estavam aptos a comercialização. O teor de catiônico foi realizado através de método titulométrico, tomando-se 5 g de cada amostra de desinfetante e tratando-se com azul de metileno e clorofórmio, após o qual se observou a formação de duas fases: a superior com coloração azul e a inferior incolor. Em seguida procedeu-se a titulação com dodecilbenzeno sulfonato de sódio 0,004 mol.L-1 até que a fase inferior ficasse com a mesma tonalidade da superior. Nos ensaios microbiológicos foi avaliada a eficácia dos desinfetantes contra S. aureus e S. choleraesuis no qual foram utilizadas cepas padrão, que foram repicadas em tubo inclinado, 24 horas antes do teste de eficácia, para obtenção de colônias com crescimento recente. Em seguida, as amostras foram analisadas através do método de diluição em tubos. Distribuiu-se 5 mL de cada amostra em um tubo de ensaio esterilizado e adicionou-se 0,1 mL de suspensão de S. aureus. Imediatamente após o contato do inóculo com o desinfetante, teve início a contagem do tempo. Em intervalos de tempo de 5, 10, 15 e 20 min, foi transferida uma alíquota de 1mL do tubo contendo o desinfetante e o microrganismo, para outros tubos contendo 5 mL de caldo nutriente estéril. Os tubos inoculados foram incubados por 48 horas a 37 °C e, em seguida, examinados quanto ao crescimento microbiano. Repetiu-se o mesmo ensaio para cada amostra utilizando S. choleraesuis (INCQS/ FIOCRUZ, 2003). Para a avaliação de rotulagem foram abordados os critérios estabelecidos pela Portaria nº15/08/1988 da ANVISA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: É comum o consumidor de desinfetantes escolhê-lo pelo odor agradável e pelo baixo custo, o que muitas vezes contribui para a sua utilização de forma incorreta e escolha de produtos de má qualidade. As seis amostras (A1, A2, B1, B2, C1, C2) foram analisadas quanto ao teor de catiônico para averiguar se o teor de ativo (cloreto de benzalcônio) estava de acordo com contido no produto. Os volumes gastos de dodecilbenzeno sulfonato de sódio 0,004 mol.L-1 variaram de 0,2 a 0,7 mL e indicaram que duas amostras não estavam em conformidade. Uma delas, A2, estava com um teor de ativo 25% superior ao contido no rótulo e outra (C1) apresentou 37% abaixo do teor declarado. O produto com o teor de ativo abaixo do declarado pode resultar em sérias conseqüências, pois este não terá a eficiência desejada, acarretando a não desinfecção e propiciando o aparecimento de doenças. Com relação à análise microbiológica, observou-se, após o tempo de incubação, que somente a amostra C1 apresentou crescimento dos microrganismos testados, indicando que esse desinfetante não foi capaz de matar o microrganismo no período de tempo em que foi exposto. Como a determinação do teor de ativo para o mesmo produto obteve um teor abaixo do declarado, o crescimento bacteriano já era previsto. Esse dado é bastante preocupante, pois indica que a finalidade do produto proposto pelo fabricante não está sendo cumprida, o que implica, não só o descaso com as leis da ANVISA, mas também colocar em risco a saúde do consumidor. Os resultados da avaliação de rotulagem indicaram uma não conformidade na amostra B2, relativa à falta de instruções para prevenir o usuário do risco de inalação e frases de primeiros socorros referentes ao contato com os olhos e de orientação para o caso de inalação.

CONCLUSÕES: Diante dos resultados obtidos, podemos concluir que nem todos os fabricantes estão preocupados com os consumidores, pois dos seis desinfetantes de uso geral adquiridos no supermercado em Fortaleza, três estão em desacordo com as legislações vigentes da ANVISA, quanto ao teor de ativo, eficácia microbiológica e rotulagem. Conclui-se ainda que em cada classe (A, B, C) existe não conformidade com as normas estabelecidas pela ANVISA colocando, assim, em risco a integridade e a saúde do usuário do produto.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem a Capes e CNPq pelo apoio recebido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/home/saneantes/desinfetantes> Acesso em: 05 de abril de 2010.

INSTITUTO NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE EM SAÚDE. INCQS, Técnicas para controle de qualidade: avaliação da atividade antibacteriana de saneantes domissanitários. Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, revisão 05, 13/11/2003.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R. F.; CASE, C. L. Microbiologia. 8ª ed. ARTMED EDITORA, 2005.