ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: TRATAMENTO SUBCRÔNICO COM EXTRATO BRUTO METANÓLICO (EBMEtOH) DAS FOLHAS DE Curatella americana L. NÃO MELHORA PARÂMETROS CLÁSSICOS DO DIABETES EXPERIMENTAL

AUTORES: SIQUEIRA, K.A. (UFMT) ; LUZ, A.V. (UFMT) ; AIKO, G.M. (UFMT) ; NOGUEIRA, A.C.K. (UFMT) ; DALL’OGLIO, E.L. (UFMT) ; BAVIERA, A.M. (UFMT) ; SOUSA JR, P.T. (UFMT) ; KAWASHITA, N.H. (UFMT)

RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar o possível efeito antidiabético das folhas da C.americana. Ratos diabéticos e normais foram tratados durante 21 dias com EBMEtOH. Foram determinados diariamente: peso corporal, volume urinário, ingestão de água e alimento; a cada 5 dias: glicemia, glicose e uréia urinária e ao final do experimento: peso dos tecidos adiposos, músculos e conteúdo de glicogênio e lipídeo hepático. Nenhum dos parâmetros foi alterado pelo extrato, com exceção do conteúdo de glicogênio hepático, que foi maior no tratamento com a dose de 150mg/Kg. Apesar da insulina ter um efeito positivo sobre os depósitos de glicogênio, estas alterações não foram acompanhadas de redução da glicemia, o que não corrobora o uso das folhas da C. americana como anti-diabética ou hipoglicemiante.

PALAVRAS CHAVES: curatella americana l., diabetes mellitus

INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus é uma síndrome crônica com alterações no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Sua principal característica é a hiperglicemia, ocasionado por prejuízo na utilização dos carboidratos e/ou aumento na produção endógena de glicose, em virtude de prejuízo na ação e/ou na secreção de insulina.
Segundo estatísticas, cerca de 2% da população mundial eram diabéticos no ano 2000, podendo aumentar em 2030 para 4,4% o que corresponderia aproximadamente a 366 milhões de pessoas. No Brasil, o mesmo estudo estima que a prevalência de diabetes passaria de 4,6 milhões em 2000 para 11,3 milhões no ano de 2030, passando da 8ª para a 6ª posição no ranking mundial (WILD et al., 2004).
Desta forma a busca por novos fármacos e formas alternativas de tratamento e/ou controle da doença, tornam-se cada vez mais necessárias. Dentro desse contexto, o interesse pelas plantas com propriedades antidiabéticas tem aumentado, face ao grande número de plantas com atividade antidiabética comprovada (NEGRI, G. 2005)
A Curatella americana é uma planta típica do Cerrado conhecida como Lixeira. É utilizada popularmente no tratamento de artrites, diabetes e controle da pressão arterial. Estudos anteriores constataram efeito hipoglicemiante da entrecasca da C. americana em ratos (OSPINA et al., 1995). O objetivo deste trabalho foi avaliar se esta mesma ação hipoglicemiante poderia ser observada nas folhas da Curatella americana. Paralelamente a glicose sanguínea foram determinados outros parâmetros clássicos do Diabetes.

MATERIAL E MÉTODOS: O material botânico foi coletado no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na segunda quinzena de maio do ano de 2007, seco, moído, macerado em metanol a 100 % por 7 dias, filtrado e roto-evaporado. Testemunhas da espécie, devidamente identificadas na forma de exsicata, se encontram depositadas no Herbário Central da UFMT sob o registro n° 25.463. O possível efeito antidiabético do extrato foi avaliado em ratos machos wistar, pesando aproximadamente 200g, diabéticos (estreptozotocina 42 mg/Kg i.v.) e não diabéticos. No quinto dia após a indução do diabetes, animais diabéticos e não diabéticos foram submetidos ao tratamento com o extrato nas doses de 50 (DT50 e NT50), 150 (DT150 e NT150) e 300 mg/Kg (DT300 e NT300) e veículo (DC e NC), via gavage orogástrica, por 21 dias. Um outro grupo de animais diabéticos recebeu dose diária de insulina (3U/rato) (DI). Foram determinados diariamente o peso corporal, volume urinário e ingestão de água e alimento. A cada 5 dias foram coletados sangue e urina (24h) para determinação de glicemia, glicose e uréia urinária. Ao final do periodo experimental os animais foram eutanasiados e os tecidos adiposos brancos, músculos (soleus e EDL) e fígado foram coletados para determinação do peso. Foi determinado também o conteúdo lipídico e de glicogênio hepático. Os dados são apresentados em média ± erro padrão, de 4 a 6 animais, sendo considerado diferença estatística p<0,05 (ANOVA uma via).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O efeito do extrato sobre a glicemia foi avaliado através da área sob a curva traçada a partir das glicemias obtidas durante o período experimental. Não foi observada diferença significativa nos animais diabéticos (DT50=8636±583, DT150=10187±425, DT300=9002±463mg/dL.21dias) e não-diabéticos (NT50=2519±39, NT150=2591±60, NT300=2659±28 mg/dL.21dias) tratados com extrato em relação aos seus controles (DC=9802±330 e NC=2557±15mg/dL.21dias). O tratamento com insulina foi eficiente no controle glicêmico dos animais diabéticos (DI= 2926±115mg/dL.21dias). Na Figura 1A e 1B é possível observar a evolução dos níveis glicêmicos durante o experimento.
A administração do extrato também não promoveu melhora em outros parâmetros avaliados (Tabela 1). A figura 1C e 1D demonstram os níveis de glicogênio hepático dos grupos experimentais após o tratamento. Os animais diabéticos tratados com extrato na dose de 150 mg/Kg apresentaram maior conteúdo de glicogênio hepático que os outros grupos (DC=4,55±0,67, DT50=2,38±0,23, DT150=12,07±1,14, DT300=5,98±1,35mg/g). Curiosamente este efeito não foi observado nos animais que receberam dose maior e menor que 150mg/Kg. Esse aumento no conteúdo de glicogênio poderia ser decorrente de um estimulo da glicogênese ou inibição da glicogenólise. No entanto, nenhum outro dado, sinaliza que este efeito poderia estar associado ao aumento da secreção de insulina ou da sua ação a nível periférico.





CONCLUSÕES: A ação do extrato bruto metanólico das folhas de Curatella americana sobre o diabetes experimental com estreptozotocina não se traduziu em efeito sobre a glicemia, o que não corrobora sua utilização popular no tratamento e controle do Diabetes.

AGRADECIMENTOS: CNPq, MCT-FINEP, FAPEMAT, CPP e Labtest

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: NEGRI, G. 2005. Diabetes melito: plantas e princípios ativos naturais hipoglicemiantes. Revista Brasileira de Ciências Farmacêutica, 41: 121-142

OSPINA, L.F.G., OLARTE, J.E.C., CALLE, J.A., PINZÓN, R.S. 1995. Comprobación de la actividad hipoglicemiante y captadora de radicales libres oxigenados de los princípios activos de Curatella americana L. Rev Colomb Ciências Quim Farm, 24: 6-11.

WILD, S., ROGLIC, G., GREEN A., SICREE, R., KING, H. 2004.Global prevalence of diabetes: estimates for the year 2000 and projections for 2030. Diabetes Care, 27: 1043-53