ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS DE APIS MELLIFERA L. DE DIFERENTES LOCALIDADES DO CEARÁ

AUTORES: NOJOSA, A.C.B. (UECE) ; LIBERATO, M. C. T. C. (UECE) ; MORAIS, S. M. (UECE) ; NOJOSA, A. K. B. (UECE)

RESUMO: Foram analisadas amostras de méis de Apis mellifera L. produzidos em diferentes microrregiões do Ceará, a partir de diferentes fontes florais, com o objetivo de determinar a composição físico-química. Foram realizadas análises de umidade, grau Brix, cinzas, acidez livre, pH, reação de Lugol, reação de Lund, reação de Fiehe, Sólidos Insolúveis. Os resultados foram comparados com os padrões da legislação brasileira sobre qualidade do mel, apresentando índices de umidade, cinzas, pH e acidez livre compatíveis com a Legislação Vigente. Alterações em alguns resultados podem estar relacionados às condições climáticas da região.

PALAVRAS CHAVES: apis mellifera l., mel floral, controle de qualidade

INTRODUÇÃO: O mel é um produto líquido ou semi-líquido que contém uma mistura de carboidratos tais como frutose, glicose, maltose e sacarose, traços de pólen e água, bem como enzimas e minerais. O mel é produzido por abelhas melíferas a partir do néctar das flores e tem sido usado desde a antiguidade. Ele apresenta cerca de 200 substâncias e é parte importante da medicina tradicional (KÜÇÜK et al. 2007). O mel está relacionado à sua origem, com características que dependem da concentração de matérias-primas, de açúcares, minerais e vitaminas entre outros. É comum existirem variações na composição física e química do mel, pois vários fatores interferem na sua qualidade, como o clima, espécie de abelha, estágio de maturação, processamento e armazenamento, além do tipo de florada (SILVA et al., 2004). A cobertura vegetal da região Nordeste do Brasil constitui-se basicamente da caatinga, sendo rica em espécies que florescem ao longo do ano. Observa-se nesse bioma uma vegetação característica da época chuvosa e uma de estiagem, mostrando que na caatinga, além de um ótimo fluxo de néctar e pólen ocorrido no período de chuvas há também um fluxo de alimento no período de estiagem que contribui decisivamente para a manutenção das colônias de abelhas diminuindo a necessidade de uso de alimentação artificial. As floradas das espécies vegetais existentes na região, garantem ao Nordeste a produção de um mel totalmente puro, livre de resíduos de agrotóxicos fato muito comum em explorações agropecuárias intensivas proporcionando a produção do chamado “mel orgânico” (ALCOFORADO-FILHO, 1997). O objetivo desse trabalho é determinar a composição físico-química de amostras de méis de Apis mellifera L. produzidos no Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS: As amostras foram obtidas a partir de coletas feitas por apicultores entre 2008 e 2009. Foram levadas ao Laboratório de Química de Produtos Naturais da Universidade Estadual do Ceará, onde foram identificadas quanto à sua origem botânica, a localidade e a data de coleta, sendo acondicionadas e armazenadas. A caracterização físico-química foi feita através das seguintes análises: Umidade: determinada por refratometria, seguindo o método nº 969.38b (AOAC, 1990). O método consiste na determinação do índice de refração do mel a 20°C, convertendo-se para o conteúdo de umidade através de uma tabela de referência. Hidroximetilfurfural: foi usada a Reação de Fiehe, qualitativa, que detecta a presença de HMF no mel (IAL,1985). Para a análise do pH utilizou-se um pHmetro, seguindo-se o método da AOAC (1990). A Acidez Livre foi determinada usando-se o método que se baseia numa titulação simples, acompanhando-se a medida do pH com um pHmetro (AOAC, 1990; BRASIL, 2000). As Cinzas foram determinadas aquecendo-se 20g de mel a 550°C até peso constante, seguindo-se o método da AOAC (1990). A pesquisa de Fermentos Diastásicos foi realizada usando-se reação qualitativa segundo método do IAL (1985). A Reação de Lugol foi realizada para pesquisa qualitativa de amido e dextrinas no mel (IAL, 1985).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As análises foram feitas em triplicatas. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos na caracterização físico-química. O teor médio de umidade foi 19,4 (entre 17,04 e 20,8). Os valores estão próximos ao padrão da legislação brasileira que é de 20%, próximos aos encontrados por NORONHA (1997), e as diferenças, segundo ele, estão relacionadas à época da coleta. O valor médio de pH das amostras ficou em 3,6 (entre 3,3 e 3,9). A média é próxima à encontrada por RAMALHO (1985). As variações se devem às floradas pois o pH do néctar influencia o do mel (CRANE, 1983). A acidez livre variou de 17,0 a 69,5. Os valores estão nos limites recomendados pela legislação com máximo de 60meq/kg (BRASIL, 2000). O valor médio para as cinzas foi de 0,89 variando de 0,04 a 3,79. Os valores estão dentro dos padrões da legislação (BRASIL, 2000) com máximo de 0,6%. A pesquisa de fermentos diastásicos indicou presença nos méis analisados (IAL, 1985). As amostras com altas concentrações de HMF foram indicando superaquecimento ou adulteração com xarope de açúcar invertido (ALMEIDA-MURADIAN, 2008). A reação de Lugol mostrou variações no tom castanho. Quanto mais escuro maior a possibilidade de presença de glicose comercial (IAL, 1985).



CONCLUSÕES: As amostras de méis analisadas estão dentro dos padrões da legislação brasileira vigente em relação à umidade, pH, acidez total e cinzas e apresentaram características físico-químicas compatíveis com valores encontrados na literatura. Alterações apresentadas podem ter como fator preponderante às altas temperaturas do Estado do Ceará principalmente na época de estiagem, e não uma adulteração intencional.



AGRADECIMENTOS: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALCOFORADO-FILHO, F. C. Conservação da flora da caatinga através da apicultura. Mensagem Doce, nº44, 1997.
ALMEIDA-MURADIAN, L.B. & BERA, A. 2008. Manual de controle de qualidade do mel. São Paulo: APACAME
AOAC. 1990. Official methods of analysis. Washington, DC: Association of Official Analytical Chemists.
BRASIL. 2000. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 11, de 20 de outubro de 2000, Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Diário Oficial, Brasília, 20 de outubro de 2000, Seção 001, p.16-17.
CRANE, E. 1983. O livro do mel. São Paulo: Nobel.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. 1985. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 3ed. São Paulo - v.1.
KÜÇÜK, M.; KOLAYH, S.; KARAOĞLU, Ş.; ULUSOY, E.; BALTACI, C.; CANDAN, F. 2007. Biological activities and chemical composition of three honeys of different types from Anatolia. Food Chemistry n° 100, p. 526-534.
NORONHA, P. R. G. 1997. Caracterização de Méis Cearenses Produzidos por Abelhas Africanizadas: Parâmetros Químicos, Composição Botânica e Colorimetria. 147p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). UFC.
RAMALHO, M. 1985. Valores e critérios do concurso de méis. Apicultura no Brasil, São Paulo, v. 3, n.17, p.25-27.
SILVA, R. A.; RODRIGUES, A. E.; RIBEIRO, M. C. M.; CUSTÓDIO, A. R. ; ANDRADE, N. E. D.; PEREIRA, W. E. Características físico-químicas e atividade antimicrobiana de extratos de própolis da Paraíba, Brasil. Ciência Rural, v. 36, n. 6, nov/dez. 2006.