ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: PRODUÇÃO AUDIOVISUAL SOBRE PETRÓLEO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS SURDOS

AUTORES: SOUZA, N. S. (IFPB/UFPB) ; FIGUEIRÊDO, A. M. T. A. (IFPB) ; BRANDÃO, E. M. (IFPB)

RESUMO: A inclusão social é um importante tema nas discussões atuais da Educação Brasileira. Em se tratando de alunos com necessidades educacionais especiais, as legislações atuais recomendam que estes devam ser atendidos, preferencialmente, em escolas regulares. Este estudo é uma continuidade de intervenções realizadas na E.E.E.F.M. Profª. Mª Geny S. Timoteo em João Pessoa, com o propósito de construir metodologias alternativas para o Ensino de Química. Trabalhou-se, portanto, com uma turma inclusiva (surdos e ouvintes) de 2ª série do Ensino Médio, onde se obteve um resultado excelente para TODOS, surpreendendo alguns que ainda não acreditavam no potencial que cada educando possui quando corretamente estimulado e coerentemente orientado e/ou apoiado.

PALAVRAS CHAVES: metodologia alternativa; inclusão de alunos surdos; educação de jovens e adultos

INTRODUÇÃO: Este trabalho descreve uma das experiências vivenciadas em sala de aula na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Profª. Maria Geny S. Timoteo, numa proposta de metodologia alternativa no Ensino de Química, iniciada com turmas de 3ª série do Ensino Médio em 2008. E no corrente ano, ampliada para uma turma inclusiva de 2ª série da mencionada escola.
O ensaio, valendo-se da contextualização ambiental, da interdisciplinaridade, e das competências e habilidades, (BRASIL, 1999, p. 20) pretende motivar pessoas que continuam seus estudos na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) (id. 1996 Art. 37) (id. 2000 Art. 2) e melhorar a assimilação de conceitos químicos.
Conforme a promulgação das leis de acessibilidade e da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) (BRASIL, 2001) (id. 2002) (id. 2005), a inclusão de alunos surdos em escolas regulares têm aumentado a cada Censo Escolar. As pesquisas sobre o assunto têm fomentado amplas discussões, rompendo lentamente paradigmas diante à inserção dos supracitados educandos em escolas ditas ‘normais’.
O desafio foi coordenar seminários em que os discentes, em grupos, divulgassem o resultado de suas pesquisas para os colegas. Através do uso de recursos audiovisuais, a questão ambiental foi evidenciada juntamente com a teoria, demonstrando uma produção inédita e didaticamente satisfatória, com respeito aos saberes dos educandos, bem como às suas diferenças linguísticas e culturais. (FREIRE, 2008, p. 16).


MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo teve abordagem qualitativa com as técnicas de pesquisa-ação e pesquisa participante combinadas (MINAYO, 2007; LAKATOS et al, 1985). Este ocorreu no primeiro semestre do ano letivo de 2009, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Geny S. Timoteo, situada no município de João Pessoa.
A turma C da 2ª série do Ensino Médio, onde estudam 8 alunos surdos e 26 ouvintes, foi dividida em grupos, porém, retrataremos apenas um, composto por 4 alunos surdos que escolheram o tópico “Petróleo”.
Dando continuidade a pesquisa sobre metodologias alternativas no Ensino de Química, os alunos foram orientados a coletar informações sobre o tema geral “Química Orgânica” e os tópicos elencados em sala. Cada grupo escolheu seus componentes, seu tópico, sua maneira de apresentar e que material produzir.
Sempre atentando para os recursos tecnológicos (TV e DVD), infra-estrutura (sala de aula e biblioteca) disponível, busca de informações e a confecção de materiais diferenciados e criativos, onde TODOS (surdos e ouvintes) participam, ensinam e aprendem.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para a continuidade dessas intervenções em prol de alternativas didáticas mais estimulantes e significativas, nos inspiramos nas idéias de Freire sobre “prática educativa libertadora que valoriza: o exercício da vontade, da decisão, da escolha; o papel das emoções, dos sentimentos, dos desejos, dos limites; o sentido ético da presença humana no mundo; a história não como determinação, mas como provocadora da esperança” (id. 2000).
Dentro deste contexto, a turma cumpriu as atividades indicadas. No dia 08 de junho, o grupo de 4 estudantes surdos realizou o seminário expondo seu recurso tecnológico na biblioteca, com o imprescindível auxílio da profissional intérprete de LIBRAS. Um DVD temático sobre “Petróleo”, como ilustra a Figura 1; foi produzido pelos surdos que apresentaram o assunto em LIBRAS, com plano de fundo digital, animações, gráficos e encenações relativas ao tema, e em áudio, a versão voz em português de todos os sinais.
FIGURA 1 - EXIBIÇÃO DO DVD TEMÁTICO PARA A TURMA
Este resultado literalmente expressivo se deve, primordialmente, ao interesse dos discentes em aceitar sugestões, procurando fazer o melhor possível. Além de contar com a interpretação/tradução de LIBRAS/Português, ato este, de particularidade e identidade ainda em construção (PERLIN, 2006 apud MASSUTI & SANTOS, 2007) e deveras importante no contexto educacional, conforme mostra a Figura 2.
FIGURA 2 – GRUPO DOS SURDOS NO MOMENTO DE DIÁLOGO COM TODOS OS COLEGAS
Os presentes aprenderam que TODOS têm potencialidades. ‘A capacidade virtual do surdo não é menos nem mais do que a dos outros, mas é diferente’ (STUMPF, 2008, p. 25). Desta maneira, ensina-se com a aceitação do novo, rejeitando qualquer forma de discriminação e respeitando a autonomia do ser do educando (FREIRE, 2008).









CONCLUSÕES: Independentemente da diversidade linguística, cultural, de identidade, de história, cada ser tem seu potencial e seu saber. E esta experiência vem reiterar o discurso do movimento a favor de uma real inclusão de TODOS, sejam eles surdos, ouvintes, pobres, ricos, mulheres, homens, crianças ou idosos.
Deste modo, da resignação nasceu o sonho; da passividade, a crítica; da exclusão e dor, uma esperança inclusiva. É o fazer educação com eles, e não só para eles.


AGRADECIMENTOS: À coordenação de Projetos Institucionais do IFPB e a todos da E.E.E.F.M.Profª Mª Geny S. Timoteo, em especial aos alunos surdos e a intérprete de LIBRAS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Vide Adin 3324-7, de 2005, Vide Decreto nº 3.860, de 2001. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm> Acesso em: 12 de mai. 2009.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
______.Pedagogia da Autonomia. 37ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.: Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo. Ed. Atlas, 1985.
MINAYO MC. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco; 2007.
PERLIN, G. A cultura surda e os intérpretes de Línguas de Sinais. ETD, Campinas, v. 7, n.2, jun/p. 135, 2006 apud MASSUTI, Mara Lúcia & SANTOS, Silvana Aguiar dos. Intérpretes de Línguas de Sinais: uma política em construção. In: QUADROS, Ronice Muller (org.) Estudos Surdos III. Petrópolis: Arara Azul, 2008, p.150-169.

STUMPF, Marianne Rossi. Mudanças Estruturais para uma Inclusão Ética. In: QUADROS, Ronice Muller (org.) Estudos Surdos III. Petrópolis: Arara Azul, 2008, p.16-31.