ÁREA: Ambiental

TÍTULO: ESTUDO PRELIMINAR DO ACÚMULO DE MERCÚRIO NA ESPÉCIE RAPHANUS SATIVUS.

AUTORES: MAGALHÃES, M.R.L. (UFMT) ; GUEDES, S.F. (UFMT) ; MAGALHÃES, A. (UFMT) ; SILVA, A.S. (UFMT) ; SILVA, E.C. (UFMT)

RESUMO: No intuito de evidenciar uma possível absorção do mercúrio por plantas, efetuou-se uma contaminação na espécie Raphanus sativus L.(popular rabanete), utilizado como alimento. As sementes foram cultivadas e tratadas diariamente com soluções de mercúrio, com concentrações de 33 mg/L e 160 mg/L, para uma concentração final acumulada de 1000 mg/L e 5000 mg/L respectivamente. Após 30 dias, as amostras foram colhidas, secas em temperatura ambiente e trituradas para análise. As amostras de solo e das plantas foram analisadas conforme metodologia descrita por Malm(1989). O experimento indicou que o mercúrio em alta concentração interfere no desenvolvimento da planta, confirmando a capacidade de absorção com análise quantitativa. Porém, estudos mais aprofundados devem ser realizados.

PALAVRAS CHAVES: absorção de mercúrio; raphanus sativus; mercúrio inorgânico

INTRODUÇÃO: Atualmente, a maior fonte de emissão de mercúrio no ambiente é proveniente de garimpos. O mercúrio é utilizado como amálgama que auxilia na separação do metal nobre de outros minerais. Nesse processo de extração, a erosão causada gera pequenos lagos contaminados por mercúrio. Nas regiões próximas a Cuiabá, onde existem garimpos, parte da população utiliza a água contaminada desses lagos para cultivar hortas caseiras. Em decorrência disto, a ingestão das hortaliças regadas com a água contaminada pode ocasionar um dano a saúde humana e/ou animal. Através das observações referidas, objetivou-se evidenciar uma possível interferência que o mercúrio inorgânico pode causar no desenvolvimento da planta através do sistema de transferência do processo solo-planta, verificando assim a possível absorção do mercúrio pelo vegetal. A escolha do Raphanus sativus se fez devido ao consumo desse tubérculo pela população, além de ser uma hortaliça que possui tempo de cultivo pequeno, média de 30 dias.
O mercúrio pode se apresentar no ambiente na formas inorgânica ou orgânica. A forma mais estudada é a orgânica, o metilmercúrio (CH3Hg+), devido a sua alta toxicidade. A sua oxidação nos ecossistemas aquáticos pode levar à formação de metilmercúrio, que é biotóxico, bioacumulativo e com elevado potencial de concentração nas cadeias alimentares.
A contaminação humana por mercúrio pode acontecer por inalação, ingestão ou absorção pela pele. A presença de mercúrio no corpo humano ocasiona grandes danos à saúde. Devido à sua acumulação progressiva e irreversível, ele se deposita nos tecidos, causando lesões graves, principalmente, nos rins, fígado, aparelho digestivo e sistema nervoso central (ALEXANDRE, 2006).



MATERIAL E MÉTODOS: O rabanete foi cultivado em canteiros de cimento,sendo 1 canteiro para irrigação direta no solo e 1 para irrigação indireta com 1000 mg/L de cloreto de mercúrio;1 para irrigação direta e 1 para irrigação indireta com 5000 mg/L de cloreto de mercúrio;e 2 brancos tratados com água de torneira.Na irrigação direta, aplicaram-se concentrações diárias de 33 mg/L(para um total de 1000 mg/L) e 160 mg/L (para um total de 5000 mg/L)de cloreto de mercúrio,finalizando após 30 dias do plantio.A análise do pH do solo foi realizada segundo metodologia da Embrapa (1979). Pesou-se 10 g da amostra, diluiu-se em 25 mL de água deionizada e efetuou-se a medida após uma hora. As amostras de solo foram coletadas nas profundidades de 5 cm, 10 cm e 15 cm e foram secas à temperatura ambiente e peneiradas.A digestão das amostras de solo foi realizada segundo metodologia de Malm (1989).Pesou-se 2 g da amostra e foram adicionados 5 mL de ácido sulfúrico P.A. e 2 mL de ácido nítrico P.A.,aqueceu-se (que deve ser realizado tampando o tubo de ensaio com dedos frios para evitar perdas) em bloco digestor a 60°C durante 30 minutos. Em seguida, elevou-se a temperatura a 110°C por mais uma hora e meia.Após resfriamento, completou-se o volume para 30 mL com água destilada.A metodologia para digestão da hortaliça foi a descrita por Malm (1989).Pesou-se 1 g da amostra seca e pulverizada.Acrescentou-se 2 mL de peróxido de hidrogênio a 30% em banho de gelo. Após 10 minutos, adicionou-se 15 mL de ácido sulfúrico P.A. em banho de gelo evitando a carbonização e respectiva perda de amostra. Aguardou-se 30 minutos e adicionou-se 30mL de permanganato de potássio a 5% e 40 mL de persulfato de potássio a 5%, cobrindo com papel alumínio. As análise foram realizadas através de espectrofotometria de absorção atômica.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: A contaminação realizada com 1000 mg/L de mercúrio,aparentemente não interferiu no crescimento da planta em comparação com o teste-branco.De modo contrário,o canteiro com alta concentração,referente a uma irrigação de 5000 mg/L apresentou um retardamento no desenvolvimento da planta incluindo as raízes, em comparação com teste-branco.Após irrigação com 1000 mg/L e 5000 mg/L de cloreto de mercúrio diretamente nas folhas,observou-se queimaduras,além de terem demonstrado certo grau de desidratação,levando a morte da planta.A análise das folhas apresentou uma grande adsorção do mercúrio pelas folhas, visto que em uma das amostras (referente a irrigação direta nas folhas),a concentração encontrada foi de 4668,92 mg/ L,relativo a irrigação com concentração de 5000 mg/L.O pH das amostras de solo coletadas não apresentou diferença significativa entre as profundidades. Entre a etapa sem contaminação e após a inserção do mercúrio inorgânico, o pH apresentou leve elevação nas amostras que continham o cloreto de mercúrio.A análise do solo antes do plantio apresentou contaminação com certa relevância, sendo em sua maior concentração referente a 0,17 mg/L.Quanto ao solo tratado com mercúrio, foi possível observar que a concentração de mercúrio decresce conforme aumenta a profundidade. Isto deve-se ao fato que a superfície contem maior quantidade de matéria orgânica, o que retém o metal.Em análise não conclusiva, porém indicativa, é plausível o fato das raízes do rabanete no solo contaminado com 5000 mg/L serem mais alongadas,devido a alta concentração de mercúrio (336 mg/L)na parte superior do solo,resultando numa fuga da raiz da planta para regiões menos contaminadas. As hortaliças irrigadas diretamente no solo apresentaram absorção com teores de 1801,13 mg/L de mercúrio.

CONCLUSÕES: A análise do rabanete evidenciou que a planta possui capacidade de absorção do mercúrio. O estudo também apresentou indícios de que o contaminante utilizado, o mercúrio, dependendo da concentração,pode interferir no desenvolvimento da hortaliça.O solo retém mais o mercúrio em sua superfície devido a grande presença de matéria orgânica, o que caracteriza a fuga das raízes da planta regiões de menores concentrações de contaminante. Para dados mais completos, este trabalho científico necessita de um estudo mais aprofundado para elucidar as hipóteses descritas.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Instituto de Pesquisa Matogrossense.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALEXANDRE, S. C. Avaliação de Área Contaminada por Mercúrio Total em Descoberto – Minas Gerais. Viçosa, 2006. Tese (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Viçosa.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Métodos de Análise de Solos e Calcário. Rio de Janeiro, 1979, 32p. (Boletim Técnico, 55)

MALM, O.; PFEIFFER, W.C.; BASTOS, W.R. ; SOUZA, C.M.M. Utilização do acessório de geração de vapor frio para investigação de mercúrio em amostras ambientais por espectrofotometria de absorção atômica. Cien. Cult. V. 41, p. 88, 1989