ÁREA: Química Analítica
TÍTULO: Determinação espectrofotométrica do antiinflamatório Meloxicam com o sistema Cu(II)/Cu(I)/BCA em meio aquoso
AUTORES: BRAGA, M. C. (FMABC) ; FRANCO, A. M. C. (FMABC) ; REQUEIJO, T. B. (FMABC) ; MOYA, H. D. (FMABC)
RESUMO: BCA forma complexos solúveis de cor violeta com Cu+ em pH>7 e tem sido utilizado na determinação espectrofotométrica de Cu(II), proteínas, açúcares, ácidos ascórbico e úrico e também taninos. Baseado na reação de redução de Cu(II) a Cu(I) em meio de BCA desenvolveu-se um método analítico espectrofotométrico em meio micelar para a determinação de Meloxicam, um antiinflamatório não esteróide do grupo dos oxicans, em formulações farmacêuticas. A faixa linear de trabalho variou de 0,57 a 28 µM (r=0,996). O limite de detecção e o coeficiente de variação foram calculados como 2,8 µM e 3% (5,7 µM, n=7), respectivamente, com uma taxa de recuperação média de 99,9%. O método sugerido contendo tensoativo é simples, consome menos reagentes e evita o uso de solventes orgânicos.
PALAVRAS CHAVES: meloxicam, bca, espectrofotometria
INTRODUÇÃO: Meloxicam é utilizado no tratamento da sintomático da artrite reumatóide e osteoartrites (artroses e doenças degenerativas das articulações) inibindo preferencialmente a COX-2, enzima responsável pela produção de prostraglandinas [1].
A determinação de Meloxicam pode ser dividida em três técnicas: separação (47%), espectroanalítica (41%) e eletroquímica (12%). Em amostras biológicas (ex. plasma humano) as técnicas de separação, como HPLC, são mais usadas, mas em formulações farmacêuticas a eletroquímica e espectrofotometria, utilizando solventes orgânicos, são mais comuns.
O sal dissódico do ácido 4,4’-dicarboxi-2,2’-biquinolina (BCA) é um complexante seletivo para Cu(I) em meio aquoso, o qual forma complexos de coloração violeta (8800 mol-1.L.cm-1) [2], e tem sido usado na determinação de cobre [3], proteínas [4], açúcares [5], taninos [6] e ácidos ascórbico[7] e úrico [8]. A adição desses compostos em uma solução aquosa de BCA, em pH = 7 mantido com acetato de amônio, reduz Cu(II) a Cu(I), cujos valores de absorbância medidos em 558 nm são proporcionais a concentração do analito. Observou-se que a adição de Meloxicam em uma solução contendo Na2BCA (pH 7) também promoveu a redução de Cu(II) a Cu(I) com formação dos mesmos complexos violeta de Cu(I)/BCA. Todavia, essa reação é muito lenta à temperatura ambiente (25ºC), completando-se após 4 h. Aquecimento em banho-maria por 10 min acelera essa reação, mas origina precipitado verde de Cu(II)/BCA principalmente em baixas concentrações do analito. Verificou-se que a introdução do tensoativo catiônico DTAB (brometo de dodeciltrimetilamônio, CH3(CH2)11N(CH3)3Br) no meio reacional, nas mesmas condições de aquecimento, evita o uso de solventes orgânicos, o que originou um novo método espectrofotométrico para esse composto.
MATERIAL E MÉTODOS: As medições experimentais foram realizadas no espectrofotômetro HPUV 8453 em 558 nm, com cubetas de vidro de 1,0 cm.
Todos reagentes utilizados foram de grau analítico (Merck e Sigma) e as soluções preparadas em água deionizada.
Solução de Cu(ClO4)2, 2,328 M, foi diluída para obtenção de solução 0,010 M.
Solução de Na2BCA, 0,030 M, preparada por dissolução de 0,5479 g em 50,0 mL.
Solução de NH4(H3C-COO), 2,0 M, preparada por dissolução de 77,1 g em balão em 500,0 mL.
Solução de DTAB, 0,333 M foi preparada por dissolução de 2,317 g em 25,0 mL.
Solução padrão de Meloxicam (Prati, Donaduzzi & Cia. Ltda) 0,285 mM preparada por dissolução de 0,0100 g em balão de 100,0 mL e ajustada em pH 7 com NaOH 0,1 M.
Na preparação das amostras, comprimidos de Meloxicam/15 mg foram pesados e triturados em gral de porcelana. As amostras foram adicionadas em balões de 50,0 mL, completados com água (pH 7 com NaOH 0,1 M), transferidos para banho ultra-som por 20 min e, em seguida, a solução foi filtrada.
Na construção da curva padrão, foram adicionados 250 µL de Cu(II) 0,010 M, 2 mL de NH4(H3C-COO) 2,0 M, 250 µL de DTAB 0,333 M, 100-700 µL de solução padrão de Meloxicam 0,285 mM e 250 µL de Na2BCA 0,030 M em balões volumétricos de 5,0 mL e completados com água. As soluções foram transferidas para tubos de ensaio os quais foram mantidos em banho-maria a 100ºC por 10 min. As medições espectrofotométricas foram realizadas à 25°C.
Para as análises das amostras, as alíquotas de solução padrão de Meloxicam foram substituídas por 125 µL das soluções das amostras. A concentração de Meloxicam nas soluções analisadas foi calculada pelo método de adição de padrão.
O método de referência (titulação em meio não aquoso) foi realizado segundo a Farmacopéia Britânica [9].
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nesse estudo utilizou-se meio micelar para acelerar a reação de redução de Cu(II) a Cu(I) por Meloxicam (pH 7,0) contendo BCA. Foram testados tensoativos catiônicos, aniônicos, não iônicos e anfóteros, mas somente DTAB mostrou-se adequado. A faixa linear de trabalho variou de 0,57 a 28 µM (y=0,0145+24136.x; r =0,998), com LOD = 1,1 µM, LOQ = 15,9 µM e CV = 3% (5,7 µM, n=7), . As taxas de recuperação calculadas de 4 adições de soluções padrão (5,7; 11,4; 22,8 e 28,5 µM) em uma solução de amostra contendo 5,7 µM de Meloxicam variaram de 94,9 a 106% (média 99,9%).
A influência dos excipientes mais comuns em comprimidos de Meloxicam foi investigada. Talco, amido e estearato de magnésio não interferem, pois permanecem insolúveis após a dissolução da amostra. Lactose e sacarose também foram estudadas. Soluções contendo 10 µM de Meloxicam e 3 concentrações conhecidas dessas espécies (10, 100 e 500 µM) foram analisadas pelo método proposto. Nenhuma interferência foi observada em soluções contendo excesso de 50 vezes de lactose e sacarose. Além disso, o paralelismo obtido entre a curva analítica e a de adição de padrão (7,5%) sugere que nessas condições o efeito de matriz não é tão pronunciado. Para a análise de uma alíquota contendo 15 mg do fármaco, obteve-se um valor igual a (15,3 ± 0,1) mg.
A Farmacopéia Brasileira não apresenta método oficial para a determinação de Meloxicam, mas a Britânica recomenda titulação em meio não aquoso, que consome grande quantidade de solventes que devem ser convenientemente descartados. O método espectrofotométrico proposto usa surfactantes que podem substituir solventes não aquosos e permite que a análise seja conduzida em ambiente quimicamente mais limpo.
CONCLUSÕES: O método sugerido é simples e mostrou-se adequado para a determinação de Meloxicam em comprimidos, incorporando as vantagens do baixo custo da técnica e do pouco consumo de reagentes. A reação em meio micelar evita o uso de solventes orgânicos, provavelmente estabilizando os complexos de Cu(II)/BCA, composto pouco solúvel em água. A ordem de adição dos reagentes mostrou-se importante. A validade do método proposto está demonstrada pela quantificação em comprimidos e não apresenta interferência de aditivos mais comuns, podendo ser utilizado em laboratório de controle de qualidade.
AGRADECIMENTOS: FAPESP, NEPAS (Núcleo de Estudos, Pesquisa, Assessoria à Saúde da FMABC) e CEPES (Centro de Estudo, Pesquisa, Prevenção e Tratamento em Saúde da FMABC).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1)HANG,H.P. e DALE, M.M. Farmacologia, 6ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 227, (2007).
2)GERSHUNS, A.L. e KOVAL, V.L. Spectrophotometric study of the reaction of 2,2'-bicinchoninic acid with copper(I) ions. Visnik Kharkivs'kogo Universitetu, 46 (1), 64-68 (1970).
3)GERSHUNS, A.L., VEREZUBOVA, A.A. e TOLSTYKH, Zh. Photocolorimetric determination of copper with 2,2'-bicinchoninic acid. Khimiya i Khimicheskaya Tekhnologiya, 4 (1), 25-27 (1961).
4)NUMA, M. e YAMAZAKI, M. Method and reagent kit for protein analysis. Konishiroku Photo Ind. Jpn. Kokai Tokkyo Koho, JP 08021837 A2 19960123 Heisei, 9 p. (1969).
5)McFEETERS, R.F. A manual method for reducing sugar determinations with 2,2'-bicinchoninate reagent. Analytical Biochemistry, 103 (2), 302-306 (1980).
6)MOYA, H. D, DANTONI, P, ROCHA, R. P. F., COICHEV, N. A multicommuted flow-system for spectrophotometric determination of tannin exploiting the Cu(I)/BCA complex formation. Microchemical Journal, 88, 21-25 (2008).
7)HOLZ, F. Automated photometric determination of ascorbic acid and dehydroascorbic acid (vitamin C) in food of plant origin, Part I: Determination of ascorbic acid. Landwirtschaftliche Forschung, 1981 (38), 558-578 (1982).
8)GINDLER, E. Uric acid determination. Pierce Chemical Co. US 4072627 19780207, 4 p. (1978).
9)British pharmacopoeia, 5th, Strasbourg: Council of Europe, 1(1), 936 (1999).