ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Avaliação "in vitro" de extratos botânicos contra a espécie Meloidogyne exigua Goeldi

AUTORES: NASCIMENTO, A.P. (UNILAVRAS) ; SILVA, R. C. (UNILAVRAS) ; CAMPOS, V. C. (UFLA)

RESUMO: Os fitonematóides acarretam perdas na produção agrícola de 12% em média, Meloidogyne exigua Goeldi se destaca, por estar disseminado em 45,4% dos cafeeiros em Minas Gerais. A busca de novas alternativas, visando ao controle de fitonematóides em substituição aos nematicidas convencionais é, hoje, uma preocupação mundial. O objetivo deste trabalho foi a avaliação in vitro de alguns extratos botânicos com poucos relatos na literatura, sobre a mortalidade de Meloidogyne exigua Goeldi. Os extratos foram preparados das seguintes espécies de plantas medicinais estudadas na Farmácia Escola Unilavras: Synadenium umbelata; Maytenus ilicifolia Reissek; Mikania glomerata Spreng; Casearia sylvestris L. Mikania glomerata Spreng) apresentou atividade frente a M. exigua, sendo este selecionado para purificação biomonitorado a fim de se conhecer tal substância antagônica ao referido nematóide.

PALAVRAS CHAVES: meloidogyne exigua goeldi; extratos botânicos; avaliação in vitro

INTRODUÇÃO: Os fitonematóides acarretam perdas na produção agrícola de 12% em média, o que corresponde à cerca de 100 bilhões de dólares por ano em todo o mundo e dentre as cerca de 15 mil espécies descritas no mundo, Meloidogyne exigua Goeldi se destaca, por está disseminado em 45,4% dos cafeeiros do estado de Minas Gerais (Salgado & Campos, 2003). Dados encontrados na literatura revelaram que tanto os nematicidas originais como seus produtos de oxidação são intensamente lixiviados por meio do perfil do solo, podendo atingir os lençóis freáticos e eventualmente contaminar poços e minas de água (Zaki et al. 1982), havendo ainda a possibilidade de intoxicação dos aplicadores e deixar resíduos em alimentos, o que faz surgir estudos de substâncias menos prejudiciais ao homem e meio ambiente. A busca de novas alternativas, visando ao controle de fitonematóides em substituição aos nematicidas convencionais é, hoje, uma preocupação mundial, sendo que diversos produtos naturais obtidos de diferentes espécies vegetais, com propriedades nematicidas ou nematostáticas, têm sido isolados e caracterizados quimicamente e alguns se têm mostrado promissores para utilização na prática. (Gommers, 1981). Dentre estes produtos, os extratos botânicos merecem destaque por apresentarem algumas vantagens sobre pesticidas convencionais para controle de nematóides. São menos tóxicos do que os compostos sintéticos por serem menos concentrados, além disso, sofrem biodegradação rápida e podem possuir múltiplos modos de ação, com amplo espectro de uso e ação eletiva dentro de cada classe de praga, o que resulta em menor probabilidade de desenvolvimento de resistência pelo nematóide (Quarles, 1992). Em decorrência do exposto, o objetivo deste trabalho foi a avaliação “in vitro” de alguns extratos botânicos com poucos relatos na literatura, sobre a mortalidade de Meloidogyne exigua Goeldi.

MATERIAL E MÉTODOS: Para o presente trabalho foram coletadas folhas das seguintes espécies de plantas medicinais estudadas na Farmácia-Escola Verde Vida situada no campus do Centro Universitário de Lavras Synadenium umbelata; Maytenus ilicifolia Reissek; Mikania glomerata Spreng; Casearia sylvestris L. Após serem secas em estufas, as folhas foram moídas e submetidas a maceração em metanol P.A. por 48 h. Filtraram-se as suspensões resultantes em algodão e colocaram-se os resíduos obtidos em mais metanol. As fases metanólicas obtidas nas duas filtrações foram reunidas e, em seguida, concentradas em evaporador rotatório até secura e então liofilizada por um período de 48 horas. Do resíduo obtido, 2 mg foram solubilizados em 1 mL de Tween 80 [monooleato de polioxietileno (20) sorbitan] a 1% (g/mL), para ser usado no teste in vitro com M. exigua. Ovos de M. exigua foram obtidos de raízes de cafeeiros (Coffea arabica L.) pela técnica de Hussey & Barker (1973), modificada por Boneti & Ferraz (1981). Os ovos obtidos foram colocados em uma câmera de eclosão formada por um funil de fundo fechado acoplado com uma peneira, sem aeração para evitar contaminação. Os J2 eram obtidos a cada 24 horas. Em placas do tipo elisa previamente lavadas com detergente e água, água destilada e álcool, foram colocados 20 microlitros da suspensão de J2 com aproximadamente 20 indivíduos e 100 microlitros das soluções dos extratos a serem avaliados. As placas foram lacradas com filmes de PVC, e armazenadas em estufas do tipo B.O.D a 28º C. Empregou-se como testemunha solução aquosa de Tween 80 a 1% (g/mL). Consideraram-se indivíduos mortos àqueles que permaneciam sem movimento após a adição de duas gotas da solução de NaOH a 0.1 M.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos extratos vegetais avaliados in vitro frente a M. exigua, Mikania glomerata Spreng apresentou maior mortalidade, depois de submetidos a 24 horas de avaliação, conforme a tabela abaixo. Há relatos na literatura que extratos da referida espécie apresentaram atividades antiinflamatórias em ratos, como descrito por Oliveira et al. (1985). Através de estudos fitoquímicos das folhas de Mikania glomerata, foi capaz de isolar e identificar substâncias provenientes do metabolismo secundário, tais como ácido caurenóico, ácido cinamolglandiflóroco e cumarina (1,2-benzopirano), sendo este ultima a substância majoritária Oliveira et al. (1985); Leite et al., (1993).
Pereira et al. (1994) estudaram a atividade antiofídica da cumarina extraída da Mikania glomerata Spreng frente ao veneno da jararaca (Bothrops jararaca) em animais. A sobrevivência foi avaliada em 6, 24, 48 horas, apresentando uma taxa de 80, 50, 40% de sobrevivência em relação à testemunha. Os valores de mortalidade dos extratos vegetais empregados nos testes in vitro frente a M. exigu foram: Synadenium umbelata 22,50%; Maytenus ilicifolia Reissek 25,50%; Mikania glomerata Spreng 80,75% e Casearia sylvestris L 17,00% , o Tween( testemunha) 9,55%.
A alta mortalidade de J2 de M. exígua no extrato de Mikania glomerata Spreng, muito provavelmente se deve a cumarina (1,2-benzopirano) substância majoritária. Não há muitos estudos relacionando tal mortalidade de nematóides com a cumarina. O referido extrato passará por processos cromatográficos biomonitorados, a fim de se purificar e isolar o composto que esta apresentando atividade, e numa próxima etapa, serão avaliados em casa de vegetação para se investigar a possibilidade dos extratos evitarem a penetração dos nematóides em raízes de cafeeiro, nas mesmas condições dos nematicidas convencionais.


CONCLUSÕES: Dos extratos vegetais avaliados, apenas um (Mikania glomerata Spreng) apresentou atividade frente a M. exigua, sendo este selecionado para purificação biomonitorado a fim de se conhecer tal substância antagônica ao referido nematóide.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GOMMERS, F.J. Biochemical interactions between nematodes and plants their relevance to control. Helminthological Abstracts, Series B, Plant Nematology 50:9-24. 1981.

OLIVEIRA, F.; OGA, S.; AKISUE, G.; AKISUE, M. K. Parâmetros físicos e químicos e efeito antiedema dos extratos fluidos de guaco (Mikania glomerata Sprengel) e de guaco de mato (Mikania laevigata Schutz Bip. ex Baker). An. Farm. Quim., São Paulo, v.25, n.1/2, p.50-54, 1985.

LEITE, M. G. R.; SOUZA, C. L.; SILVA, M. A. M.; MOREIRA, L. K. A.; MATOS, F. J. A.; VIANA, G. S. B. Estudo farmacológico comparativo de Mikania glomerata Sprengel (guaco), Justicia pectoralis Jacq (anador) e Torresea cearensis (cumaru). Rev. Bras. Farm., Rio de Janeiro, v.74, n.1, p.12-15, 1993.

CUNHA, F.R , Oliveira, D.F , Campos, V.P. Extratos Vegetais com Propriedades Nematicidas e Purificação do Princípio Ativo do Extrato de Leucaena leucocephala. Revista Fitopatologia Brasileira, julho-agosto 2003

ZAKI, M.H.; MORAN, D.; HARRIS, D. Pesticide in groundwater. The aldicarb story in Suffolk Country. American Journal of Public Health, New York, v.72, p.1319-1395, 1982.

QUARLES, W. Botanical pesticides from Chenopodium? IPM Practitioner, v.14, p.1-11, 1992.

SALGADO, S.M.L.; CAMPOS, V.P. Eclosão e mortalidade de Meloidogyne exigua em extratos e em produtos naturais. Fitopatologia Brasileira, v.28, p.166-170, 2003.