ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: ABORDAGEM EXPERIMENTAL EM LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA PARA O ENSINO MÉDIO
AUTORES: MOTA, A. J. R. (UVA) ; RIBEIRO, W. H. F. (UVA) ; RODRIGUES, F. H. A. (UVA) ; MESQUITA, J. M. (UVA)
RESUMO: A atividade experimental deve levar os estudantes a uma maior compreensão do conteúdo abordado e sua importância no ensino das ciências tem sido discutida nos últimos anos. O livro didático continua sendo o principal recurso educacional para muitos professores, e em muitos livros são encontradas sugestões de experimentos simples. Esta pesquisa pretendeu analisar sete livros quanto à presença ou ausência de atividades experimentais, facilidade de execução dos experimentos e a forma de abordagem do conceito. Os resultados mostram a existência de muitas propostas simples, sendo que na maioria há mais experimentos de natureza ilustrativa do que investigativa, além de pouca referência à contextualização do conhecimento.
PALAVRAS CHAVES: ensino de química; abordagem experimental; livros didáticos
INTRODUÇÃO: Um dos principais recursos do professor de química, no ensino fundamental e médio, é o livro didático, tanto como subsídio teórico quanto experimental. De um modo geral, o material didático para o ensino de Química no Brasil tende a apoiar-se em conteúdos que não estabelecem relações entre si, com a apresentação de conceitos acabados seguida de imediata cobrança aos alunos de sua compreensão por meio de exercícios que priorizam o cálculo numérico. Raramente enfocam-se atividades de natureza dissertativa e investigativa.
O fato de que a obtenção da verdadeira compreensão da ciência é facilitada pela investigação e observação é um ponto de vista amplamente difundido e aceito entre estudiosos e pesquisadores. Por intermédio da realização de experimentos, o educando compreende o caráter experimental da ciência e, como decorrência, passa a ser o próprio agente da aprendizagem, fato estritamente ligado ao seu esforço de aprender.
É comum no ensino de química a abordagem expositiva de conteúdos, conceitos e definições, o que a apresenta como uma ciência concluída e inquestionável (SOARES et al, 2001). De acordo com os PCNs “[...] o ensino deve buscar se contrapor ao ensino descontextualizado, compartimentado e baseado no acúmulo de informações propondo conhecimento escolar significativo, contextualizado, experimental e interdisciplinar” (BRASIL, 1999).
Pretendeu-se analisar sete livros didáticos de Química do nível médio, utilizados na rede pública e particular, quanto aos seguintes aspectos, direta ou indiretamente ligados à experimentação em Química:
a) presença/ausência de experimentos ilustrativos;
b) presença/ausência de experimentos investigativos;
c) facilidade de execução dos experimentos ilustrativos e investigativos propostos;
d) abordagem dos conceitos.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram selecionados sete livros, de cinco autores diferentes e usados como livro-texto em escolas públicas da cidade de Irauçuba-CE e em escolas particulares cearenses, sendo dois destes de volume único, dois do volume 1, dois do volume 2 e um do volume 3.
Estes livros foram analisados quanto à existência ou não de propostas de atividades experimentais e, quando presentes, as propostas foram classificadas como investigativas ou ilustrativas, e analisadas segundo a abordagem do conceito trabalhado e à exeqüibilidade.
Os resultados obtidos foram reunidos em tabelas apropriadas e expressados em gráficos para facilitar sua leitura e interpretação. Procurou-se representar os resultados por meio da porcentagem dos itens supracitados, de acordo com a freqüência dos experimentos propostos nos livros analisados.
Nos livros de volumes separados (1, 2 ou 3), foram verificados quantos capítulos apresentam, no total, e quantos experimentos contêm no decorrer dos capítulos. Feito isso, atribuiu-se uma porcentagem tanto para os experimentos ilustrativos quanto para os experimentos investigativos. Já para os livros de volume único, analisou-se, principalmente, a parte que se deseja comparar com os demais livros.
Vale ressaltar que o objetivo aqui não foi classificar os livros como "bons" ou "ruins" mas verificar, de modo geral, a possibilidade dos professores aplicarem os experimentos ali apresentados em suas aulas de química, tendo em vista a realidade de muitas escolas públicas brasileiras, com vistas à uma abordagem mais afinada com as propostas atuais de um ensino contextualizado e voltado para a formação do cidadão.
Para resguardar a imagem dos autores e de seus livros, os mesmo foram denominados pelas letras do alfabeto A, B, C, D, E, F, G.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Todos os livros analisados apresentam propostas de atividades experimentais do tipo ilustrativo ou investigativo, com maior ou em menor grau de dificuldade.
Os resultados apontam para um maior percentual, em seis dos livros analisados, de experimentos classificados como de média dificuldade de execução. Muitos desses experimentos não podem ser executados em sala de aula com materiais alternativos, requerendo uma infra-estrutura mínima de laboratório, o que não é ainda a realidade de muitas escolas públicas brasileiras. Por dificuldade de execução entendeu-se a inteligibilidade da proposta pelo professor do ensino médio, disponibilidade dos materiais (se podem ser adquiridos em supermercados, farmácias, oficinas mecânicas etc.) e complexidade ou facilidade na montagem e execução do experimento.
Em todos os livros verificou-se que a maioria das propostas tem natureza meramente ilustrativa e os experimentos propostos estão relacionados com conceitos já apresentados, levando os alunos a reforçarem os conteúdos abordados.
No que se refere à forma da abordagem dos conceitos, detectou-se que alguns livros trazem conceitos considerados ultrapassados ou em desuso no meio científico. Como exemplo, citam-se o uso do “equivalente-grama”, o conceito de “normalidade”, dentre outros que não são mais recomendados pela Intermational Union for Pure and Applied Chemistry (IUPAC). Também se observou o uso da unidade M (molar) ao invés de mol/L, conforme determina aquela entidade.
Para tornar aulas experimentais uma realidade nas escolas, sugere-se uma revisão e atualização dos livros didáticos ofertados ao ensino médio e a realização de planejamentos com os professores e a busca, na literatura, de propostas de experimentos exequiveis e com materiais de baixo custo e fácil aquisição.
CONCLUSÕES: A despeito de alguns pontos fracos, muitos livros oferecem relevante contribuição à experimentação científica. A maioria dos experimentos propostos nos livros analisados é meramente ilustrativa e se propõe a fixar conceitos já tratados na sala de aula. As aulas experimentais são um elemento motivador e propulsor da compreensão do conteúdo abordado, no ensino de química. Todavia, muitos dos experimentos propostos não podem ser realizados com a infra-estrutura de muitas das escolas brasileiras, o que aponta para a necessidade de se buscar propostas mais simples com material alternativo.
AGRADECIMENTOS: Ao Instituto de Estudos e Pesquisa do Vale do Acaraú-IVA e ao FECOP pelo apoio financeiro, e à escola pública, em Irauçuba-CE, que acolheu os autores deste.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília, DF. 1999.
BLÜNKE, R. A. Experimentação no Ensino de Física. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2002.
SOARES, M.H.F.B.; SILVA, M.V.B.; CAVALHEIRO, E.T.D. Aplicação de corantes naturais no Ensino Médio. Eclet. Quím. vol. 26 São Paulo 2001.