ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Estudo Comparativo dos Teores de Metais Traço e Coliformes em Ostras e Sedimentos de Três Estuários do Estado do ES

AUTORES: SILVA, L. B. (UFES) ; JESUS, H. C. (UFES) ; SANTANA, E. J. (UFES) ; CEOTTO, C. S. (UFES) ; DIAS CARNEIRO, M.T.W. (UFES) ; NETO, R.R. (UFES) ; CASSINI, S.T.A. (UFES)

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo estudar a poluição dos manguezais do estuário dos Rios Piraquê-açu e Piraquê-Mirim em Aracruz-ES e do Rio Perocão em Guarapari-ES, onde poucos trabalhos de poluição ambiental foram realizados, e comparar estes sistemas com o da Baía de Vitória-ES, mais bem estudado. Realizou-se duas campanhas amostrais em 2007, onde águas, ostras e sedimentos foram coletados para análise de metais e coliformes. Os teores obtidos foram comparados com os da literatura e legislação vigente. Pôde-se observar uma elevada poluição microbiológica nos estuários de Vitória e Guarapari, quando comparados ao de Aracruz. Maiores teores de Zn foram encontrados em ostras de Vitória. Os valores encontrados para sedimentos encontram-se na maioria abaixo dos sugeridos pelas legislações.



PALAVRAS CHAVES: metais traço, coliformes, sedimento, ostra

INTRODUÇÃO: Uma das grandes preocupações ecológicas atuais refere-se ao impacto ambiental causado pela liberação antrópica de metais pesados nos diversos ambientes naturais e, de maior importância, naqueles de maior interação com populações humanas. Alguns animais marinhos, sobretudo os bivalves, são utilizados como indicadores de poluição, pois sofrem o processo de bioacumulação e concentram em seus tecidos metais pesados e outros poluentes presentes no ambiente (Phillips, 1977). Neste trabalho, foram utilizadas ostras de mangue (Crassostrea rhizophorae), que acumulam poluentes várias ordens de grandeza maiores que as águas, além de possuírem outras características adequadas, como fácil coleta, tamanho razoável, longo tempo de vida e sedentarismo. Além de ostras, foram analisadas amostras de sedimentos, que agem como compartimento de acumulação de espécies poluentes, devido às altas capacidades de sorção e acumulação associadas (Föstner, 1981 e Carvalho, 1992). Tal investigação ambiental tem importância social no sentido de garantir a qualidade dos ecossistemas estudados, a fim de se evitar problemas patogênicos (p.ex., cólera, botulismo e febre tifóide) associados à presença de coliformes fecais em mariscos, de forma bem mais acentuada do que o contato primário do indivíduo com a água. Também a presença de metais em altas concentrações em mariscos pode causar danos à saúde, como problemas gastrointestinais, neurológicos e doenças crônicas (Bonadonna,1990). Além do mais pode contribuir para a preservação dos ecossistemas aquáticos, que possuem importância paisagística, ambiental e extrativista para as populações ribeirinhas e turismo local. As análises de metais foram feitas utilizando-se a técnica de absorção atômica com chama (Zn) e forno de grafite (As, Cd, Cu e Pb).

MATERIAL E MÉTODOS: Foram realizadas em 2007 duas campanhas com 6 pontos de amostragem em cada um dos três estuários estudados, com coleta de águas, ostras e sedimentos superficiais, medição de parâmetros físico-químicos nas águas, e análise de metais e de coliformes. No laboratório, o excesso de água dos tecidos das ostras foi previamente eliminado, com posterior homogeneização dos tecidos em um mixer. Para extração dos metais nas ostras utilizou-se o método adaptado USEPA 3051 (USEPA, 2007b), consistindo na abertura de 4 g da amostra composta das ostras com 10 mL de HNO3 supra-puro em bomba fechada de teflon, aquecida a 110 ºC por 2 h em bloco digestor. A solução final foi diluída e filtrada em papel de filtro quantitativo para balão volumétrico de 50 mL, completada com água de osmose reversa.
A amostra bruta de sedimento foi peneirada em tela de nylon com malha de 2 mm, para retirada de resíduos maiores. A fração < 2mm foi centrifugada, o sobrenadante descartado e a parte sólida obtida secada em estufa a 60 ºC por 48 horas, com posterior homogeneização.
Para avaliação dos metais nos sedimentos utilizou-se o método adaptado USEPA 3050B (USEPA, 2007a), consistindo na abertura de 0,5 g da amostra em chapa elétrica, com 10 mL de HNO3 supra-puro por 45 minutos, com a posterior adição de 3 mL de HCL supra-puro por 15 minutos e 3 mL de H2O2 por 5 minutos. As soluções finais foram diluídas e filtradas em papel de filtro quantitativo para balões volumétricos de 50 mL, e completados com água de osmose reversa. Para a análise de coliformes em todas as amostras, utilizou-se o método cromogênico – Colilert.
Foi também avaliado nos sedimentos secos o teor de matéria orgânica volátil (MOV), por aquecimento de 1 g de amostra em cadinho de porcelana a 550°C em forno elétrico por 4 horas.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: As ostras de Vitória encontram-se severamente contaminadas com zinco em comparação aos dois outros estuários menos impactados (ver Tabela 1). Os outros metais encontram-se abaixo dos valores máximos permitidos (VMP) por legislação (Mercosul/GMC 102-94, Anvisa 685). O alto teor de Zn em Crassostrea rhizophorae em Vitória aponta para uma forte contaminação deste metal neste estuário e sua importância como elemento essencial ao bivalve na formação de dezenas de enzimas e proteínas (idem para o cobre, Jesus, 2003). Com relação aos sedimentos, os teores de Zn nas amostras originais foram também maiores para o estuário Vitória, o que reforça o input deste metal no ambiente. Parece haver um teor maior de As nos dois estuários menos contaminados (Tabela 2). Algumas amostras de sedimentos foram peneiradas para obtenção da fração silte/argila (<0,063 mm), acarretando em concentrações maiores, como esperado (Jesus, 2004). Os teores de todas as amostras estão abaixo da legislação (Conama 344). Considerando os padrões de qualidade de águas (Conama 357 e RDC 12 do MS), podemos observar que as regiões da Baía de Vitória e do Rio Perocão estão severamente contaminadas por coliformes, proveniente dos esgotos liberados nos estuários. Já a região dos Rios Piraquê-Açu/Mirim apresenta um menor teor de coliformes, o que confirma a hipótese desta ser uma região menos impactada que as demais. Com relação às ostras e aos sedimentos, observa-se contaminação microbiológica semelhante à das águas, ou seja, maiores teores no estuário de Vitória e do rio Perocão quando comparados ao estuário do rio Piraquê-açu. Não foram observadas importantes variações sazonais e temporais para metais e coliformes nas amostras dos três estuários estudados.



CONCLUSÕES: O sistema estuarino dos rios Piraquê-açu e Piraquê-Mirim está menos impactado que os demais (Baía de Vitória e rio Perocão) devido à menor carga de esgotos in natura lançada naquele estuário. Com exceção das altas concentrações de Zn encontradas em Vitória, não se observou relevante contaminação de metais pesados nas ostras dos três estuários estudados. Observou-se relevantes concentrações de alguns metais nos sedimentos do estuário do rio Piraquê-açu/Mirim, em comparação ao da Baía de Vitória e do rio Perocão, podendo indicar uma origem autigênica e assim maior disponibilidade no ambiente.

AGRADECIMENTOS: À Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Fapes, à Universidade Federal do Espírito Santo e ao Dr. Norbert Miekeley do DQUI/PUC-RIO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA, M.S.– portaria nº 685 de 27/08/1998

Bonadonna, L. (1990) Accumulation Power of Sone Bivalve Molluscs. Dissertação de Mestrado. Laboratório de Igiene Ambientale, Istituto Superiore di Sanitá – Roma.

Carvalho, E.V.; Lacerda, L. D. (1992). Ciência e Cultura, 44, 184.

CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente – MMA, Brasília, Resolução nº 357 de
17/03/2005.

CONAMA- MMA, Resolução nº 344 de 25 de Março de 2004.

CONAMA- MMA, Resolução nº 274 de 29 de Novembro de 2000.

Föstner, U. G.; Wittmann, G. T. W. (1981). Metal Pollution in the Aquatic Environmental, Springer-Verlag: Berlin,.

Jesus, H.C.; Fernandes, L.F.L; Zandonade, E.; Anjos Jr., E.E.; Gonçalves, R.F.; Marques, F.C.; Reis, L.A.; Romano, C.T.; Teixeira, R.D.; Santos Sad, C.M. (2003). Avaliação da contaminação por metais pesados em caranguejos e sedimentos de áreas de manguezal do sistema estuarino de Vitória - ES. Relatório Técnico -Projeto Facitec/PMV-ES, contrato n° 4985717/2001, 40 p. Disponível em: hhttp://www.cce.ufes.br/dqui/químicaanalitica/
Arquivos/relat%F3rio%20Projeto%20Caranguejo.pdf

Jesus, H.C.; Costa, E.A.; Zandonade, E.; Gonçalves, S.M. (2004). Distribuição de metais pesados em sedimentos do sistema estuarino da ilha de Vitória-ES. Química Nova 27, 3, 378-386.

Phillips, D. J. H. (1977). The use of biological indicator organisms to monitor trace metal pollution in marine and estuarine environments – a review. Environ. Pollut., 13, 281-317.


USEPA (2007a) Method 3050b: Acid digestion of sediments, sludges and soils. Disponível em: http://www.epa.gov/sw-846/pdfs/3050b.pdf. Acessado em: 23/10/2006.

USEPA (2007b) Method 3051: Microwave assisted acid digestion of sediments, sludges, soils and oils. Disponível em: http://www.epa.gov/epaoswer/hazwaste/test/pdfs/ 3051.pdf. Acessado em: 23/10/2006.