ÁREA: Ambiental
TÍTULO: QUALIDADE QUÍMICA AMBIENTAL DE ÁGUAS FLÚVIO-ESTUARINAS DE DESPEJOS DE CURTUME (MICRORREGIÃO GUAJARINA, PA)
AUTORES: OLIVEIRA, R.L.S (UEPA) ; RIBEIRO, J.R. (UEPA) ; NUNES, L.R.S. (UEPA) ; QUEIROZ, E. M. (UEPA) ; SIQUEIRA, G.W (UEPA) ; LIMA, W.N. DE (UEPA)
RESUMO: Este estudo enfoca as condições físico-químicas e componentes químicos associados de águas flúvio-estuarinas sob impacto de despejos de curtume lançados no igarapé Piraíba (microrregião Guajarina, PA). Enquanto na estiagem dominam os efeitos da intrusão salina nesse sistema flúvio-estuarino, no período chuvoso aparecem resultados anômalos para o pH, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido, entre outras variáveis ambientais. Por sua vez, despejos de efluentes lançados na área de cabeceiras do igarapé mostram valores de pH variando de 3,2 a 7, oxigênio dissolvido de 0,0 a 2,6 mg L-1, DQO de 80 a 760 mg L-1, amônio até 10 mg L-1e Cr no resíduo sólido de curtume da ordem de 3%.
PALAVRAS CHAVES: microrregião guajarina(pa); igarapé piraíba; química ambiental
INTRODUÇÃO: A região metropolitana de Belém (PA) e adjacências desenvolvem-se em áreas continentais interiores e flúvio-estuarinas na assim denominada microrregião Guajarina. Sob suas características flúvio-estuarinas abrigam-se comunidades tradicionais, que subsistem do extrativismo, notadamente da pesca artesanal e a coleta de produtos da floresta remanescente. É nessa área fisiográfica que está localizada a microbacia do igarapé Piraíba, que lança suas águas no rio (ou “furo” do) Maguari, pertencente ao sistema flúvio-estuarino da baía de Guajará. Atingida por despejos de indústrias de curtume, as comunidades ali instaladas sofrem os efeitos da perda da qualidade ambiental com reflexos diretamente nos meios de subsistência. Este estudo enfoca um quadro das condições físico-químicas e componentes químicos associados nessas águas superficiais.
MATERIAL E MÉTODOS: Inserida no trecho de coordenadas geográficas 01000’ – 01032’ de latitude Sul e 48022’-48039’ de longitude Oeste de Greenwich, a microbacia do igarapé Piraíba está localizada na região metropolitana de Belém (PA), na microrregião Guajarina, e fazendo parte do sistema flúvio-estuarino da baía de Guajará. Foram realizadas excursões nos períodos chuvoso e estiagem de 2007 e chuvoso de 2008, tendo sido coletadas amostras de águas flúvio-estuarinas desde a baía de Marajó até a foz do Maguari e no trecho navegável do igarapé Piraíba (foz, meio curso e área de despejos de curtume); foram coletadas, ainda, amostras de efluentes, na tentativa de averiguar parâmetros e concentrações anômalas de seus componentes químicos dominantes. Procedeu-se registro fotográfico da paisagem, aparentemente, preservada, bem como de áreas sob impacto e das condições sócio-ambientais das populações envolvidas. Foram realizadas leituras de parâmetros ambientais, tais como temperatura, pH, condutividade elétrica, salinidade, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido e transparência das águas. Para as amostras de águas naturais, foram efetuadas leituras de cor aparente e turbidez e análises químicas para oxigênio consumido (permanganimetria), bicarbonato (volumetria de neutralização), cloreto (titulação mercurimétrica), sulfato (espectrometria de absorção, turbidimetria), ferro, fosfato, amônio e nitrato (todos, por espectrometria de absorção no visível), de acordo com APHA, AWWA, WPCF (1995). Para os efluentes, pH, oxigênio dissolvido (OD), demanda química de oxigênio (DQO) e dosagem de cloreto, sulfato, ferro, amônio, nitrato e crômio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos mostram influências da sazonalidade e da dinâmica de marés nesse sistema flúvio-estuariano. Enquanto na sua foz do Piraíba, no “furo” do Maguari, sob salinidade de 1,6, condutividade elétrica de 3.380 uS cm-1, pH de 7,2, sólidos totais dissolvidos de 1.341 mg L-1, cloreto de 1.049 mg L-1 e sulfato de 283 mg L-1, no seu meio curso, os valores decrescem suavemente para 1,3 (salinidade), 2.840 uS cm-1 (condutividade), 6,8 (pH), 1.125 mg L-1 (sólidos totais dissolvidos), 844 mg L-1 (cloreto) e 238 mg L-1 (sulfato), revelando uma intrusão salina gradativa com as marés de enchente semi-diurnas. Talvez ainda mais significativos para uma avaliação de impacto sejam os resultados obtidos no período chuvoso; enquanto no “furo” do Maguari e na foz do Piraíba, sob maré mínima, a condutividade elétrica cobre intervalos de 25 a 36 uS cm-1, na área de despejos de efluentes no Piraíba alcança 251 uS cm-1, valor este incompatível com o padrão local para o período chuvoso nessa área fisiográfica. Considerando que a indústria de curtume é notória por sua elevada capacidade poluidora de ambientes (Braile & Cavalcante, 1993; Jost, 1990), provocando odores nauseabundos de sulfeto livre, ocorrência de crômio potencialmente tóxico, matéria orgânica degradada de resíduos de sangue, urina, soro, produtos de decomposição de proteínas e resíduos diversos, julgou-se válido proceder coleta de efluentes em áreas de despejos, às proximidades de nascentes. Nas amostras de efluentes dispersos no ambiente, o pH atingiu de 3,2 a 7,0, OD variou de 0,0 a 2,6 mg L-1, DQO de 80 a 760 mg L-1, amônio abaixo de 10 mg L-1, nitrato de 3,0 a 12,0; no resíduo sólido de curtume, registrou-se concentração de Cr da ordem de 3%.
CONCLUSÕES: Deste modo, configura-se a necessidade de monitoramento mais constante na coleta de amostras de efluentes e mais sofisticado nos métodos analíticos utilizados. Por outro lado, os resultados analíticos para os efluentes mostram a necessidade de tratamento adequado para os despejos, evitando-se, tanto quanto possível, a contaminação para o meio ambiente.
AGRADECIMENTOS: À Propesp/UEPA pelas bolsas de IC e ao pessoal técnico dos laboratórios de Química-Pesquisa, Hidroquímica, Análise Química e Sedimentologia da UFPA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA, AWWA, WPCF 1995 Standard methods for the examination of water and wastewater. American Public Health Association e outras instituições, Washington, D.C. 1193p
BRAILE, P.M. & CAVALCANTE, J.E.W.A. 1993 Manual de tratamento de águas residuárias industriais. CETESB, S.Paulo.764p.
JOST, P.T. 1990 Tratamento de efluentes de curtume. Confederação Nacional da Indústria, Rio de Janeiro.