ÁREA: Iniciação Científica
TÍTULO: ESTUDO FITOQUÍMICO DA PIPER RENITENS(MIQ.)YUNCK
AUTORES: VALIM,E.C. (UNIR)
RESUMO: A Piper renitens (Miq.)Yunck é uma espécie pertencente à família das Piperaceae e foi apontada pela população indígena do povo Amondawa do interior de Rondônia como eficaz no tratamento de gripes e dores de cabeça.Na análise fitoquímica foram utilizadas os métodos de preparação de extrato bruto por percolação sob ação de álcool etílico 95%.Os resultados dos testes para classes de substâncias revelaram a presença de esteróides e terpenos.O estudo químico das folhas e talos da Piper renitens(Miq.)Yunck,levou ao isolamento de duas substâncias,denominadas em PREV-001,identificada como B-Sitosterol,com ponto de fusão 188°C-189°C e a PREV-002,identificada como Kaurano-16,17-diol, com ponto de fusão de 151°C.Foram utilizadas análises espectroscópicas de massas,1H-RMN,13C-RMN.
PALAVRAS CHAVES: piperaceae, terpenos, esteróides.
INTRODUÇÃO: Diante da enorme abundância de plantas com poder curativo, a região Amazônica é considerada a maior reserva de plantas medicinais do mundo, no entanto nos intensos estudos com plantas, apenas uma pequena porcentagem dessas espécies foram estudadas e comprovadas como eficientes fitoterápicos (Di STASI, 1996).
A importância da Amazônia não se restringe apenas às espécies vegetais, mas também a riqueza do conhecimento empírico acerca do uso terapêutico das plantas, que são originários do difícil acesso à assistência médica, baixo poder aquisitivo e pela influência dos povos da região.
Diversas plantas da família Piperaceae, encontradas na Amazônia destacam-se pelo seu uso no tratamento de diversas enfermidades, tendo uma ampla aplicação na medicina tradicional (Di STASI et al, 2003).
A Piper renitens (Miq.) Yunck é uma espécie encontrada em local de mata fechada, possui hábito arbustivo, é abundante na Amazônia em todas as estações do ano. O povo Amondawa vem usando esta espécie, a longos anos na cura de doenças, tais como: febre, gripe e dor de cabeça (ROVER, 2004). A tribo Amondawa é uma comunidade indígena pertencente ao grupo Uru-eu-uau-uau (SAMPAIO e SILVA, 1996), que utilizava a medicina popular para a cura de suas enfermidades, porém, com contato com o homem branco e com as enfermidades da região, essa cultura foi sendo devastada. Este fato fez com que a comunidade indígena dependesse cada vez mais da medicina não índia (ROVER, 2004).
Neste trabalho será realizado um estudo fitoquímico da Piper renitens (Miq.) Yunck, por apresentar importante atividade na medicina tradicional e é abundante na mata.
MATERIAL E MÉTODOS: A planta utilizada foi coletada, em mata fechada, na área indígena Uru eu uau uau, na tribo Amondawa, 45 Km de distância do município de Mirante da Serra, em Rondônia(Brasil). A identificação botânica de Piper renitens encontra-se no Herbário do INPA, sob registro nº 213523.
Na preparação do extrato etanólico utilizou-se 8,065 Kg de folhas e talos frescos da planta. Estes foram cortados e secos em estufa a 40-60°C, com circulação de ar, resultando em 1,360 Kg de material seco, equivalente a 16,86% de sua massa original. Após esta etapa o material foi submetido à extração através do método de percolação em EtOH 95% por 7 dias.O solvente foi evaporado em evaporador rotatório.
O extrato etanólico foi submetido a testes de classes de substâncias, como descrito em MERK (1972).
O procedimento do fracionamento do extrato bruto, bem como dos eluatos e suas frações, é baseado em FERRI (1996).A eluição do extrato bruto foi efetuada por gradiente de polaridade: 100%Hexano, 25%EtOAc/Hex, 50%EtOAc/Hex, 100%EtoAc, 100%Acetona. As frações foram coletadas em erlermeyers e posteriormente foram evaporadas, utilizando evaporador rotativo.
A purificação dos eluatos, bem como as substâncias isoladas, foram realizadas por cromatografia em coluna. O diâmetro da coluna cromatográfica e os solventes utilizados nos processos de cromatografia em coluna dependeram da quantidade de material utilizado no processo e a polaridade do mesmo. As frações coletadas foram analisadas por CCD (Cromatografia de Camada Delgada) e reveladas por exposição à luz ultravioleta (UV) e/ou por pulverização com revelador universal, a fim de revelar as substâncias adsorvidas na mesma. Após análise, as frações foram comparadas e reunidas seguindo o critério de semelhança do perfil cromatográfico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A realização dos testes para classes de substâncias é de suma importância, para um entendimento dos estudos químicos. Pelo teste com o extrato etanólico foi observado a presença de terpenos e esteróides.
O primeiro passo para o estudo químico da P. renitens (Miq.) Yunck foi a obtenção dos eluatos através da coluna filtrante do extrato etanólico por grau de polaridade, obtendo as frações: 1-10(100%Hex), 11-39(25%EtoAc/Hex), 40-59 (50%EtoAc/Hex ), 60-68(100%EtoAc), 69-80(100%Acetona).
Dos eluatos obtidos da coluna filtrante, realizou-se coluna cromatográfica do eluato 25%EtOAc:hex (11-39), devido a esta possuir odor agradável, aspecto oleaginoso e coloração amarelo claro. Após repetidos fracionamentos desse eluato, foi fornecida uma substância cristalina, de coloração branca, de massa 12,00mg, com ponto de fusão (p.f.) 188°C-189°C, a qual recebeu o nome de PR-EV01. Por ter características físicas semelhantes (formação de cristais e ponto de fusão) a alguns fitoesteróides conhecidos, fez-se uma comparação com vários perfis cromatográficos existentes em vários bancos de dados e na literatura, e pode ser observado que este comportamento possuía semelhança à um β-Sitosterol.
Além do fracionamento do eluato 25%EtOAc:Hex, foi realizado também o fracionamento do eluato 50%EtOAc:Hex, pois o mesmo possuía um odor agradável e coloração verde claro. Após repetidos fracionamentos desse eluato, foi fornecida uma substância cristalina, de coloração branca, de massa 8,00mg, com ponto de fusão (p.f.) 151°C, a qual recebeu o nome de PR-EV02.Para essa substância foram realizadas análises espectroscópicas de massas,1H-RMN,13C-RMN. Após elucidação estrutural verificou-se que a substância condiz com o Kaurano-16,17-diol.
CONCLUSÕES: Os estudos fitoquímicos e farmacológicos das plantas da Tribo Amondawa terão prosseguimento a fim de constatar a veracidade das informações que, se confirmadas, as plantas poderão ser utilizadas como matéria-prima na obtenção de fármacos.
A família Piperaceae e a espécie Piper têm sido bastante estudadas e a eficiência de muitas têm sido confirmadas ao longo desses estudos.
Nessa pesquisa primária se fez o estudo químico para a identificação dos componentes fixos da planta,para uma posterior realização de testes farmacológicos visando uma possibilidade de resultados promissores.
AGRADECIMENTOS: À minha orientadora Dr.Mariangela Soares Azevedo,ao Dr.Valdir Alves Facundo e ao CNPQ pela bolsa de iniciação científica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Di STASI, L.C. Plantas Medicinais: arte e ciências – Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: UNESP. 1996. p.09-14
Di STASI, L. C. ; LIMA, C. A. H. ; MARIOT, A.; PORTILHO, W. G. ; REIS, M.S. Piperales medicinais. In: L. C. Di Stasi; C. A. Hiruma Lima. Plantas medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. 1 ed. São Paulo: Fundação Editora Unesp, 2003, v. impres, p. 120-138.
FERRI, P. H. Química de produtos naturais: métodos gerais. In: DI STASI, L.C. (Org.) Plantas Medicinais: arte e ciências – Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: UNESP. 1996. 230p
ROVER,M., Estudo etnobotânico e fitoquímico das plantas medicinais da tribo Amondawa. Porto Velho:UNIR,2004. Dissertação (conclusão de curso), Universidade Federal de Rondônia, 2004.
SAMPAIO, W.B.A. e SILVA, V. (1998). Os Povos Indígenas de Rondônia: contribuição para a compreensão de Sua Cultura e de Sua História. 2º ed, Porto Velho-Ro: Ed. UFRO.
MERCK, E. Reactivos de coloración para cr omatografía en capa fina y en papel.
Darmstadt alemania, 1972.