ÁREA: Iniciação Científica
TÍTULO: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO PÓ DE GUARANÁ (Paullinia cupana) COMERCIALIZADO NA CIDADE DE ANÁPOLIS – GO
AUTORES: BARBOSA,CF;GOETZ,CM;MAIA,GC;WRUCK,E. (UNUCET-UEG)
RESUMO: Em razão do crescimento considerável do comércio de plantas medicinais, in natura e processadas, torna-se indispensável o controle de qualidade de produtos de grande aceitabilidade, a fim de preservar a saúde da população. Análises físico-químicas e microbiológicas foram feitas no pó de guaraná (Paullinia cupana) comercializado na cidade de Anápolis-GO. Todas as amostras apresentaram condições propícias ao desenvolvimento de fungos e bactérias e a ineficiência no estímulo do sistema nervoso central, por apresentarem apenas 1,5 % de concentração de cafeína, enquanto o valor mínimo sugerido pela Farmacopéia Brasileira de 1988 é de 5 %.
PALAVRAS CHAVES: guaraná em pó, fitoterápico, cafeina.
INTRODUÇÃO: Os produtos de origem vegetal utilizados como medicamentos necessitam do controle de qualidade tanto de suas matérias-primas quanto do produto tecnologicamente acabado. Estes princípios são necessários ao desenvolvimento científico e tecnológico dos fitoterápicos e asseguram a melhor aceitação da classe médica. A maior industrialização e comercialização de medicamentos naturais tornaram seu uso um problema de Saúde Pública. O aumento da demanda, associado à falta de fiscalização efetiva contribuem para a disponibilidade e acesso a produtos muitas vezes sem condições adequadas ao uso, sem garantia da qualidade, segurança e eficiência (BUGNO, 2005). Embora se tenha parâmetros específicos para a produção e comércio de fitoterápicos, a fraude e a má qualidade têm preocupado profissionais da área de saúde e a comunidade científica. A ausência de qualidade, a adulteração e a incorreta utilização, interferem na eficácia e até mesmo na segurança do produto, somando-se a isto um serviço de fiscalização não muito eficiente.
O guaraná é um fitoterápico muito utilizado como estimulante mental (ANVISA, 2006). Tende a facilitar o esforço mental e muscular, diminuindo a fadiga motora e psíquica dando sensação de conforto e bem-estar.
A garantia do uso seguro e eficaz de fitoterápicos envolve análises físico-químicas e microbiológicas de matérias-primas e do produto acabado, como etapa preliminar para alcançar um padrão de qualidade necessário a um medicamento (RIBEIRO, 2005).
Este trabalho tem o objetivo de verificar a qualidade do pó de guaraná comercializado na cidade de Anápolis-GO, utilizando procedimentos que estão descritos na Farmacopéia Brasileira 4ª edição.
MATERIAL E MÉTODOS: Fez-se uma pesquisa em todos os pontos de venda do pó de guaraná e, estatisticamente, selecionou-se os pontos de amostragem. Adquiriu-se uma média de 50 g de amostra (pó de guaraná) e submeteu-os a análises pré-determinadas. As análises físico-químicas para determinação de material estranho – foi feito o quarteamento da amostra e depois uma camada fina da amostra foi espalhada sobre uma superfície lisa e as impurezas separadas, a princípio a olho nu e depois com uma lente de aumento de 5 a 10 vezes, para determinar a porcentagem (p/p) de impurezas. (Farmacopéia Brasileira, 1988).
O teor de água pesando a amostra em pesa-filtro dessecado e tarado levado à estufa em uma temperatura de 100-105 °C até peso constante. As cinzas totais foram feitas pesando a amostra em cadinho dessecado e tarado e levado à mufla em temperatura não superior a 450 °C, até que todo carvão seja eliminado, depois foi colocada solução oxidante de nitrato de amônio, e incinerou novamente até peso constante. Ambos métodos são descritos pela Farmacopéia Brasileira, 1988.
Para a identificação e quantificação de cafeína usou-se o método de análise Goetz, CM, 1997, que consiste em extrair a cafeína com ácido sulfúrico à quente, filtrar e extrair com clorofórmio em funil de separação. Secar em evaporador rotativo e determinar a cafeína no espectrofotômetro em absorbância 272 nm
Para a determinação do número total de bactérias e fungos, usou-se o método de contagem em placa que apresentaram crescimento visível, em 4 dias, em ágar caseína-soja a 30-35 ºC e em 7 dias, em agar Sabouraud-dextrose a 20-25 ºC conforme a Farmacopéia Brasileira, 1988.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: As amostras observadas a olho nu não apresentaram consideráveis impurezas. Quando submetidas à lente de aumento, a presença de casquilhos de coloração pardo-negra era marcante nas amostras 4, 5, 7, 8 e 9. Sob o microscópico todas as amostras apresentaram pequenas impurezas como células maiores de paredes espessas e dispostas em paliçadas (Farmacopéia Brasileira, 1988), com maior destaque às amostras 4, 7 e 8.
Através da análise de água observou-se que todas as amostras apresentam teor superior ao limite máximo, 9,5% (Farmacopéia Brasileira, 2003). As amostras 3 e 5, aparentemente menos coesas, apresentaram maior teor de água.
Na determinação de cinzas totais, as amostras 1, 3 e 9 destacaram-se das demais, pois apresentaram valores superiores ao limite máximo, 3% (Farmacopéia Brasileira, 2003).
Os resultados obtidos nas análises de impureza, teor de água e de cinzas – dispostos na Figura 1 - são associados ao processamento incorreto do pó de guaraná e à adulterações que o produto pode sofrer, devido ao aumento da demanda associado à falta de fiscalização de medicamentos naturais (BUGNO, 2005).
Na quantificação da cafeína observou-se que todas as amostras apresentaram quantidade média de 1,5% desse metabólito, enquanto deveriam apresentar mínimo de 5% (Farmacopéia Brasileira, 2003). A concentração de princípios ativos e, conseqüentemente, a eficácia dos medicamentos fitoterápicos dependem, naturalmente, do controle genético e de fatores externos como a temperatura, umidade, luminosidade, método de coleta, entre outros (CALIXTO, 2001).
Todas as amostras foram eficientes ao desenvolvimento de microorganismos. A amostra 1 mostrou-se imprópria devido ao desenvolvimento de bactérias e as amostras 2 e 4 apresentaram grande quantidade de fungos.
CONCLUSÕES: As análises físico-químicas e microbiológicas feitas nas amostras selecionadas de pó de guaraná na cidade de Anápolis-GO possibilitaram concluir que esse produto não é imprópria ao consumo, uma vez que todas as amostras apresentaram quantidades insignificativas de cafeína, substância ativa nesse fitoterápico, e ainda propiciaram o desenvolvimento de microorganismos. Todos os resultados obtidos podem ser justificados pelo processamento inadequado do guaraná e por ter sofrido possíveis adulterações entre o fornecedor da região norte, onde a planta é nativa, e revendedor na região centro-oeste.
AGRADECIMENTOS: A Deus pela sabedoria e paciência, aos professores Emerson e Jivago e aos técnicos dos Laboratórios de Química e Biologia pelo apoio e auxílio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANVISA. Anvisa Regulamenta Medicamentos Fitoterápicos. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/250200.htm>. Acessado em: 23/01/2006.
BUGNO, Adriana et al. Avaliação da contaminação microbiana em drogas vegetais. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. V. 41, nº 4, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-93322005000400012&Ing=en&nrm=iso>. Acessado em: 09/08/2006.
CALIXTO, João Batista. Medicamentos Fitoterápicos. In: YUNES, Rosendo Augusto e CALIXTO, João Batista. Plantas Medicinais: sob a ótica da Química Medicinal Moderna. 1ª ed. Santa Catarina: Editora Universitária, 2001. capítulo 7, p. 298-312.
Farmacopéia Brasileira. 4ª ed. São Paulo: Atheneu, 1988.
Farmacopéia Brasileira. 4ª ed. São Paulo: Atheneu, 2003. parte II, quinto fascículo, série 236.
RIBEIRO, Paula Arielle Mendes et al. Controle de Qualidade Físico-Químico de Matérias-Primas Vegetais. Revista Eletrônica de Farmácia Suplemento. V. 2 (2), p. 176-9, 2005. ISSN 1808-0804. Disponível em: <www.farmacia.ufg.br/revista/_pdf/vol2_2_supl/resumos/ref_v2_2_supl-2005_p176-179%20Ribeiro.pdf>. Acessado em: 13/02/2006.