ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia
TÍTULO: EFEITO DE COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS DE GERMÂNIO E ESTANHO SOBRE MACRÓFAGOS PERITONEAIS DE RATOS FÊMEAS WISTAR
AUTORES: BARBIÉRI, ROBERTO S. (FAMINAS; UNI) ; FONSECA, E. A. (UNINCOR) ; VIEIRA, C. A. (UNIFENAS; UN) ; ALVES, R. A. (UNIFENAS) ; PÓVOA, H. C. C. (FAMINAS) ; CARLOS DIAS, A. K. (UNINCOR)
RESUMO: Os macrófagos, por serem células de altíssimo poder fagocitário, podem ser consideradas como células da primeira linha de defesa do sistema imunológico em processos inflamatórios e no controle do surgimento de células tumorais. Assim, qualquer produto ingerido pelo organismo não deve ter efeito citotóxico sobre essas células. Tendo em conta que compostos organoestânicos têm sido utilizados sistematicamente como agentes biocidas sobre diversos microorganismos patogênicos e que compostos organogermânicos vêm encontrando amplas aplicações biotecnológicas, estuda-se neste trabalho o efeito de tricloreto de etilgermânio - EtGeCl3 -, cloreto de trifenilgermânio - Ph3GeCl -, cloreto de trimetilestanho - Me3SnCl - e cloreto de trietilestanho - Et3SnCl - sobre macrófagos peritoneais de ratos fêmea.
PALAVRAS CHAVES: macrófagos peritoneais; compostos organogermânicos; compostos organoestânicos.
INTRODUÇÃO: Vimos trabalhando sistematicamente com a síntese, caracterização e avaliação de propriedades microbicidas de novos compostos organoestânicos derivados de ácidos alfa-hidroxicarboxílicos, sendo que diversos desses compostos já foram por nós utilizados em testes para avaliação de suas propriedades microbicidas sobre importantes microorganismos, como fungos e bactérias (ARAÚJO et al., 2004; BARBIÉRI et al., 2006a).
No entanto, em decorrência da observação de danos ambientais de compostos organoestânicos, principalmente dos compostos tributilestânicos, que já têm seus usos proibidos em diversos países, estamos reorientando nossos estudos, pretendendo a síntese de novos compostos organogermânicos.
Assim, vimos realizando testes com compostos organogermânicos que têm significativas aplicações terapêuticas, sendo usados inclusive em humanos. Assim, em dissertações de mestra recentemente defendidas, já foram estudados os efeitos biocidas de alguns desses compostos sobre o fungo Mucor sp., as bactérias Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Klebisiela pneumoniae e Serratia marcescens e as leveduras Candida albicans, glabrata, parapsilosis e tropicalis, além de estudos com moluscos terrestres.
Tendo como base a premissa de que compostos com aplicações terapêuticas em humanos não devem interferir com o sistema imunológico dos mesmos, neste trabalho, de caráter exploratório, foram realizados testes para a avaliação da sobrevida de macrófagos peritoneais de ratos fêmeas Wistar em presença dos compostos cloreto de trimetilestanho, cloreto de trietilestanho, tricloreto de etilgermânio e cloreto de trifenilgermânio (BARBIÉRI et al., 2006b).
MATERIAL E MÉTODOS: Para a obtenção dos macrófagos foram utilizados ratos fêmeas Wistar (180 ± 10 g), mantidas em caixas plásticas, à temperatura de 22 ± 2 oC, com ciclos dia/noite de 12 em 12 horas, ração e água ad libitum. Após eutanásia, praticada com gás carbônico, foram injetados 10 mL de solução fisiológica estéril (NaCl 0,9%) a 5 ± 2 oC, e após massagem da região abdominal, o líquido peritoneal foi aspirado com seringa estéril e transferido para tubos de ensaio mantidos em gelo.
Para o ensaio da viabilidade celular, 0,1 mL das soluções em polietilenoglicol dos compostos organogermânicos e organoestânicos empregados neste trabalho, nas concentrações de 5,0; 10,0; 50,0 e 100 mg mL-1, foram adicionados a tubos contendo 0,9 mL da suspensão celular, resultando, assim, nas concentrações finais de 0,5; 1,0; 5,0 e 10, mg mL-1 para aqueles compostos. Os sistemas resultantes foram mantidos a 5 ± 2 oC por 1, 30 e 60 minutos. Após o tempo de incubação, alíquotas de 100,0 mL foram coradas com 100,0 mL da solução 0,01 mg mL-1 de Azul de Tripan e levadas ao microscópio óptico onde, para testar a viabilidade celular, foram contadas 100 células por campo da câmara de Neubauer. Foram consideradas células viáveis as células que não incorporaram o corante. Como controle, 100 mL da suspensão celular foram expostos somente ao solvente polietilenoglicol pelos mesmos períodos de observação.
A validade do ensaio se dará quando o controle apresentar acima de 70% de células viáveis, tendo em que os macrófagos, por serem sensíveis às variações ambientais, podem morrer naturalmente e, abaixo desse porcentual, seria praticamente impossível caracterizar a razão da morte celular.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: No desenvolvimento do presente trabalho foi verificado que o melhor meio para dissolver os compostos organogermânicos cloreto de trifenilgermânio - Ph3GeCl -, tricloreto de etilgermânio - EtGeCl3 -, bem como os compostos organoestânicos cloreto de trimetilestanho - Me3SnCl - e cloreto de trietilestanho - Et3SnCl - utilizados nos experimentos, foi o polietilenoglicol, o qual é comumente utilizado em farmácias magistrais para o preparo de soluções orais.
Nas concentrações de 0,5; 1,0; 5,0 e 10,0 mg mL-1, todos os compostos estudados tiveram algum tipo de efeito citotóxico sobre os macrófagos peritoneais de ratos fêmeas Wistar, exceto pelo compostos Ph3GeCl, na concentração de 0,5 mg mL-1, e Et3SnCl, nas concentrações de 0,5; 1,0 e 5,0 mg mL-1.
Em relação ao composto organogermânico EtGeCl3, seu efeito citotóxico sobre os macrófagos peritoneais foi praticamente o mesmo em todas as concentrações estudadas, provocando a morte de 30 a 33% das células presentes no meio.
Quanto ao composto organogermânico Ph3GeCl, o efeito citotóxico sobre os macrófagos peritoneais só ocorre a partir da concentração de 1,0 mg mL-1, sendo significativa, no entanto, na concentração de 10,0 mg mL-1, na qual são eliminadas 70% das células do meio.
Passando aos compostos organoestânicos, o composto Me3SnCl apresenta baixo efeito citotóxico nas concentrações de 0,5 e 1,0 mg mL-1, nas quais provoca a morte de menos de 10% das células presentes, enquanto nas concentrações de 5,0 e 10,0 mg mL-1, a eliminação das células é superior a 80%.
Para o composto organoestânico Et3SnCl, não foram observados efeitos citotóxicos aos macrófagos peritoneais nas concentrações de 0,5; 1,0 e 5,0 mg mL-1, o qual, na concentração de 10,0 mg mL-1, causa a morte de mais de 90% das células presentes no meio.
CONCLUSÕES: Em caráter exploratório, demonstra-se ser possível utilizar internamente os compostos organometálicos estudados em testes terapêuticos com seres vivos, pelos menos em ratos Wistar, pela observação de que para todos eles, exceto p EtGeCl3, existem concentrações nas quais a citotoxicidade dos mesmos para os macrófagos peritoneais fica abaixo de 10%, podendo ser até nula, mantendo ótimo nível de macrófagos viáveis no meio, e que deve-se continuar a pesquisa, principalmente pela possibilidade de uso dos compostos organogermânicos, cuja atividade terapêutica em amplo campo tem sido evidenciada na literatura.
AGRADECIMENTOS: À FAMINAS e à UninCor pelos apoios concedidos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ARAÚJO, Edelcio T. de; MELO, Walclée de C.; GUERREIRO, Mário C.; BARBIÉRI, Roberto S.; ABREU, Celeste Maria P. d. Efeito biocida de mandelatos organoestânicos sobre Fusarium oxysporum f. sp. cubense. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 28, n. 1, p. 34-41, jan./fev., 2004.
BARBIÉRI, Roberto S.; LIMA, Elysio P. de; SILVA, Samuel F. da.; CARLOS DIAS, Allan Kardec; CARDOSO, Maria das Graças; TERRA; Vilma R. Síntese e caracterização de um novo composto obtido pela reação de hidreto de trifenilestanho e ácido (±)-mandélico sobre o fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 30, n. 3, p. 467-473, maio/jun., 2006a.
M. F.; FONSECA, E. A. Atividade microbicida de compostos organogermânicos sobre as bactérias Klebsiela pneumoniae e Serratia Marcescens. CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, XLVI. Anais... ABQ, Salvador, 2006b.