ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: TOXICIDADE, DETERRÊNCIA E REPELÊNCIA DE EXTRATOS AQUOSOS DE Cabralea canjerana subsp. polytricha (A. JUSS.) PENN. (MELIACEAE) SOBRE A LAGARTA-DA-COUVE Ascia monuste orseis (GODART) (LEPDOPTERA: PIERIDAE)
AUTORES: MATA, R.F.F. (UFU) ; LOMÔNACO, C. (UFU)
RESUMO: RESUMO: Este trabalho avaliou a toxicidade, repelência e deterrência de extratos aquosos de sementes, folhas e frutos de Cabralea canjerana subsp. polytricha (Meliaceae) sobre Ascia monuste orseis (Lepdoptera) a lagarta da couve. Extratos a 3, 5 e 10%, foram obtidos por infusão e filtragem do material biológico seco triturado em água destilada. Foram testadas, em 30 repetições, diferenças entre controle e tratamentos na sobrevivência, longevidade e biomassa larval. O efeito repelente/deterrente foi avaliado em testes com e sem escolha de fonte alimentar. As larvas tratadas apresentaram alta mortalidade, evidenciando eficiente controle, que não permitiu a formação de pupas. Os extratos possuem efeito deterrente, mas a repelência somente foi observada para extrato de sementes a 10%.
PALAVRAS CHAVES: controle biológico, plantas inseticidas, inseticida natural
INTRODUÇÃO: INTRODUÇÃO: Extratos de algumas plantas das Famílias Rutaceae, Asteraceae, Annonaceae, Lamiaceae, Canellaceae e Meliaceae podem ser fontes de aleloquímicos que possuem propriedades tóxicas a insetos-praga (Saxena, 1989, Roel et al., 2000, Vendramim & Thomazini, 2001).
A família Meliaceae tem sido investigada por apresentar espécies como fontes de compostos inseticidas (Rodríguez, 1995, Hernández & Vendramim, 1997). Dentre as pesquisas realizadas, podem ser citados o uso de extratos da semente do nim (Azadirachta indica) A. Juss. sobre Spodoptera litura (Fabricius) (Lepdoptera: Noctuidae) (Mohapatra et al., 1995) e no controle do ácaro da mandioca, Mononychellus tanajoa (Bondar) (Acari: Tetranychidae) (Gonçalves et al., 2001) e extrato de folhas e ramos de Trichilia pallida Swartz sobre S. frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) (Roel et al., 2000).
O nim, de origem asiática, é considerado a mais importante planta inseticida, pois sua efetividade foi registrada para mais de 400 espécies de insetos (Penteado, 1999). O princípio ativo isolado das suas sementes é a azadiractina (Jacobson, 1989). O uso de A. indica no Brasil é limitado pela sua baixa disponibilidade, visto ser uma planta exótica. Faz-se, portanto, necessário encontrar espécies nativas que possuam propriedades tóxicas similares, para a obtenção de extratos com princípios ativos que tenham valor no manejo de pragas. Assim, a meliáceae Cabralea canjerana subsp. polytricha, pode ser considerada uma espécie promissora, visto pertencer à mesma família de A. indica.
Deste modo, o objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos tóxicos, deterrentes e repelentes de extratos aquosos a 3, 5 e 10% de folhas, frutos e sementes desta planta em larvas de Ascia monuste orseis, a lagarta da couve.
MATERIAL E MÉTODOS: MATERIAL E MÉTODOS: O pericarpo dos frutos, folhas e sementes foram secos em estufa (a 40ºC por 48h) e triturados. Os pós obtidos foram misturados à água destilada na proporção de 3, 5, 10 g por 100 ml. As suspensões foram mantidas por 24h e filtradas, sendo em seguida utilizadas em período inferior a 48h, a fim de se preservar todas as suas propriedades. Pedaços de folhas de couve de 25cm2 foram imersos nos extratos por 5 segundos e oferecidos às larvas (Guedes et al., 1995). As larvas foram acompanhadas durante todo o seu desenvolvimento, anotando-se diariamente o número de mortos e a biomassa aos 8 dias. As pupas foram pesadas 24h após sua formação. Foram realizadas 30 repetições para cada tratamento.
Para testar os efeitos repelente e deterrente foram realizados tratamentos (10 repetições) com e sem chances de escolha, utilizando 15 larvas de 24h de idade, colocadas em placas de Petri em posição eqüidistante a quadrados foliares de couve, de 25cm2. Foram avaliados, após 24h, o número de lagartas por quadrado foliar e a porcentagem de área consumida (Lara et al., 1999).
No experimento sem chances de escolha foram utilizadas três larvas de 9 dias sobre um quadrado foliar de 25cm2 tratado com água destilada (controle) ou extratos aquosos a 3, 5 e 10%, num total de 20 repetições para cada tratamento. Após 2h efetuou-se a avaliação da área consumida.
Os experimentos foram mantidos em câmara climatizada a 25ºC, 50% de UR e fotoperíodo de 12h. Foram utilizados os testes de Kruskal-Wallis e Tukey-type para verificar se havia diferenças significativas entre tratamentos na sobrevivência, longevidade e peso de larvas e o teste de Friedman para verificar diferenças no número de indivíduos e na área consumida nos experimentos com e sem chances de escolha (Zar, 1984).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: RESULTADOS E DISCUSSÃO: Houve 100% mortalidade das larvas nos tratamentos, em contraste com a sobrevivência de 87% das lagartas no controle (H=323,033; p<0,001). Larvas alimentadas com folhas tratadas não ultrapassaram os quatro dias de idade (H=884,507; p<0,001). O mesmo ocorreu com o peso médio das larvas nos tratamentos, que foi muito inferior ao das larvas do controle (H=861,924; p<0,001).
Extratos de sementes apresentaram efeito repelente, ao contrário de extratos de folhas e frutos. Entretanto, esta não foi intensa o suficiente para evitar o consumo foliar. Houve redução no consumo foliar pelas larvas submetidas ao extrato a 10% nos experimentos com chances de escolha. Quando as larvas não tiveram a opção de consumir folhas sem extratos, elas conseguiam se alimentar de folhas tratadas, porém com menor consumo, principalmente nas concentrações de 10 e 5% (H=77,506; p<0,001).
Os resultados confirmam a existência de compostos secundários em Cabralea canjerana subsp. polytricha, cujos princípios ativos, (limonóides e tripterpeno), poderiam ser utilizados no controle deste e de outros insetos-praga (Hernandez & Vendramim, 1998; Soares et al. 2004). Entretanto, outros estudos precisam ser feitos para se avaliar o efeito residual dos extratos e o comportamento dos mesmos em condições de campo. O sucesso no isolamento dos princípios ativos desta planta poderá trazer alternativas para o controle da lagarta da couve que atualmente tem sido feito no Brasil principalmente com uso de inseticidas como carbaril, deltametrina, paration metílico, permetrina e tricloform (Andrei, 1999).
CONCLUSÕES: CONCLUSÕES: Os extratos de frutos, sementes e folhas de Cabralea canjerana subsp. polytricha, nas concentrações de 3, 5 e 10%, afetaram negativamente o desenvolvimento larval de Ascia monuste orseis, causando mortalidade de 100% dos indivíduos, antes que os mesmos pudessem chegar à fase de pupa. Além disto, os extratos tornaram os substratos menos preferidos para a alimentação. Não foram detectados efeitos repelentes, nas concentrações testadas, que evitassem o consumo foliar.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BIBLIOGRAFIA:
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