ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Biodisponibilização de Anacardium occidentale pelo uso de nanoformulações do tipo microemulsão

AUTORES: ANJOS, G. C. (UFRN) ; ALMEIDA, C. C. (UFRN) ; MACIEL, M. A. M. (UFRN) ; ESTEVES, A. (UFRRJ) ; ECHEVARRIA, A. (UFRRJ)

RESUMO: Muitos são os usos etnofamacológicos associados ao caju (Anacardium occidentale), dentre eles destacam-se os usos antidiarréico, antihemorrágico e antiinflamatório, sendo seu fruto um importante alimento. Neste trabalho, a biodisponibilização das cascas desta espécie vegetal, se deu com o uso de nanoformulações do tipo microemulsão, que tiveram suas eficácias avaliadas via avaliação da ação antioxidante da fração polar obtidas destas cascas, rica em tanino. Tendo sido observado ação antioxidativa significativa (CE50 = 39,27±1,07 g/mL para o sistema FT-SME-1 e CE50 = 42,20±5,20 g/mL para o sistema FT-SME-4).

PALAVRAS CHAVES: anacardium occidentale, microemulsão, atividade antioxidativa

INTRODUÇÃO: A espécie Anacardium occidentale (Anacardiaceae) popularmente conhecida como caju, é nativa das regiões norte e nordeste do Brasil. A Amazônia parece ter sido o berço de diferentes espécies do gênero Anacardium que se irradiou para o resto do mundo. E o cajueiro, seu representante mais conhecido, é uma árvore rústica, espontânea e nativa da zona arenosa litorânea de campos e dunas, que vai do nordeste até o baixo Amazonas (SILVA; TASSARA, 1996). Os indígenas de fala tupi, habitantes autoctones do nordeste do Brasil, já conheciam muito bem o caju e faziam dele um de seus mais completos e importantes alimentos (SILVA; TASSARA, 1996). Muitos são os usos etnofamacológicos associados ao caju, dentre eles encontram-se: adstringente, antidiabético, antidiarréico, anti-hemorrágico, antiinflamatório, antireumático, antitérmico, antiulcerogênico, diurético e vermífugo, onde são utilizados cascas do caule, casca da castanha, ramos, pendúculos, raiz, folhas, frutos, semente e óleo (GONÇALVES, 2005). Este trabalho atualiza o perfil etnofarmacológico desta espécie, com destaque para a sua biodisponibilização via utilização de nanoformulações do tipo microemulsão.

MATERIAL E MÉTODOS: Cascas do caule de Anacardium occidentale foram coletadas em Natal (RN) e a identificação botânica da espécie foi realizada pela botânica Maria Iracema Bezerra Loiola. Uma exsicata foi preparada e depositada no herbário da UFRN. O material vegetal (1,3 g) foi submetido à extração via percolação, com MeOH. O extrato MeOH (62,28 g) foi submetido a um procedimento cromatográfico (gel de sílica) fornecendo uma fração polar [eluída em MeOH /H2O (8:2)] rica em taninos (FT), que após liofilização foi solubilizada em sistemas microemulsionados (SME), obtendo-se FT-SME-1 e FT-MSE-4. Os sistemas contendo FT, foram submetidos a análises que avaliaram a ação antioxidante desta planta. As microemulsões testadas foram preparadas utilizando a mistura Tween 80 e Span 20 (3:1) e miristato de isopropila, de acordo com metodologia previamente publicada (Gomes et al., 2006). Na avaliação da atividade antioxidante utilizou-se como fonte de radical livre o DPPH (2,2-difenil-picril-hidrazila) (MENSOR et al., 2001). As soluções estoque foram preparadas em metanol na concentração de 1 mg/mL. O ensaio foi realizado em microplacas de 96 poços, no volume total de 100 L. Foram feitas diluições de FT-SME-1 e FT-SME-4 para as concentrações de 710, 71, 7,1 e 0,71 g/mL, que foram adicionadas às microplacas, juntamente com uma solução 0,3 mM de DPPH (em metanol). Após o tempo de 30 minutos de repouso no escuro, foi feita a leitura das microplacas em leitora Elisa a 490 nm. Foram realizados 3 ensaios independentes, todos em triplicata. O percentual antioxidante (%AA) foi calculado a partir da equação: %AA= 100- [(Aa – Ab)/ Ac x 100], onde: Aa = abs. da amostra com DPPH; Ab = abs. do branco e Ac = abs. do controle. Os valores de EC50 foram determinados por regressão linear.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O líquido da castanha de caju de Anacardium occidentale são o alvo maior de interesse etnofarmacológico, bem como comercial. Metabólitos especiais (ácidos anacárdicos, cardanóis, cardóis e fenóis alquílicos) extraídos do líquido desta castanha, apresentaram atividade antioxidante (TREVISAN, 2006). Diversos metabólitos presentes nas plantas têm apresentado atividade antioxidante, sendo cada vez mais reconhecidos como importantes agentes na captura de radicais livres (cuja formação ocorre espontaneamente em diferentes etapas do metabolismo, onde processos oxidativos estão envolvidos) que estão diretamente relacionados ao processo de envelhecimento e às doenças degenerativas, dentre elas, o câncer. Nanoformulações vêm sendo utilizadas como sistemas de liberação de fármacos objetivando o aumento da biodisponibilidade de fármacos, que está correlacionado com a solubilização de substâncias pouco solúveis, bem como com a diminuição da dose administrada, garantindo além de vantagens econômicas, a diminuição de efeitos adversos (KAWAKAMI et al., 2002). Neste contexto, devido à grande insolubilidade de FT os sistemas microemulsionados foram utilizados para solubilização desta fração, objetivando ampliar sua biodisponibilidade (GOMES et al., 2006). Os resultados da avaliação da ação antioxidante mostraram-se muito positivos, tendo sido obtido o valor de CE50 = 39,27±1,07 g/mL para o sistema FT-SME-1 e CE50 = 42,20±5,20 g/mL para FT-SMET-4. De acordo com o esperado, estes resultados indicam que a atividade antioxidante da fração FT rica em taninos. Em relação aos sistemas testados SME-1 e SME-4 não foi observada interferência significativa na atividade avaliada.

CONCLUSÕES: As microemulsões se destacam por apresentarem microdomínios de diferentes polaridades no seio de uma solução unifásica que permite a solubilização de fármacos hidrossolúveis e lipossolúveis, separadamente ou ao mesmo tempo (LEE et al., 2003). Em geral, fármacos lipofílicos tendem a se localizar no interior de microemulsões do tipo O/A (ou seja, na região hidrofóbica das moléculas do tensoativo que formam a camada interfacial) ou na fase contínua oleosa no caso de microemulsões do tipo A/O (rica em óleo). A fração polar FT foi melhor solubilizada no sistema SME-1 (tipo O/A).

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq e ao Programa Prodoc/CAPES.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GOMES, F.E.S; ANJOS, G.C.; DANTAS, T.N.C.; MACIEL, M.A.M.; ESTEVES, A.; ECHEVARRIA, A. 2006. Obtenção de nanoformulações do tipo microemulsão objetivando a biodisponibilização de Anacardium occidentale e sua eficiência como agente antioxidante. Revista Fitos 2: 82-88.
GONÇALVES, J.L.S.; LOPES, R.C.; OLIVEIRA, D.B.; COSTA, S.S.; MIRANDA, M.M.F.S.; ROMANOS, M.T.V.; SANTOS, N.S.O.; WIGG, M.D. 2005. In vitro anti-rotavirus activity of some medicinal plants used in Brazil against diarrhea. Journal of Ethnopharmacology 99: 403-407.
KAWAKAMI, K.; YOSHIKAWA, T.; MOROTO, Y.; KANAOKA, E.; TAKAHASHI, K.; NISHIHARA, Y.; MASUDA, K. 2002. Microemulsion formulation for enhanced absorption of poorly soluble drugs. I. Prescription design, Journal of Controlled Release 81: 65-74.
LEE, P.J.; LANGER, R.; SHASTRI, V.P. 2003. Novel microemulsion enhancer formulation for simultaneous transdermal delivery of hydrophilic and hydrophobic drugs. Pharmaceutical Research 20: 7-27.
MENSOR, L.L.; MENEZES, F.S.; LEITÃO, G.G.; REIS, A.S.; SANTOS, T.C.; COUBE, C.S.; LEITÃO, S.G. 2001. Screening of Brazilian plant extracts for antioxidant activity by the use of DPPH free radical method. Phytoterapy Research 15:127-130.
SILVA, S.; TASSARA, H. Frutas no Brasil. 4.ed. São Paulo: Empresa das Artes, 1996.
TREVISAN, M.T.S; PFUNDSTEIN, B.; HAUBNER, R.; WUERTELE, G.; SPIEGELHALDER, B.; BARTSCH, H.; OWEN, R.W. 2006. Characterization of alkyl phenols in cashew (Anacardium occidentale) products and assay of their antioxidant capacity. Food and Chemical Toxicology 44: 188-197.