ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Perfil Etnobotânico de Cleome spinasa Jacq e Pavonia varians Moric

AUTORES: LEAL, R. S. (UFRN) ; MELO, M. D. (UNP) ; MACIEL, M. A. M. (UFRN)

RESUMO: A família Malvaceae, constituída por mais de 100 gêneros, totaliza 2500 espécies. Dentre os gêneros destacam-se: Hibiscus (300), Sida (200) e Pavonia (150). No Brasil, as folhas da espécie Pavonia varians são utilizadas para combater infecções do aparelho digestivo, bem como inflamações de boca e garganta, tendo sido comprovado que este gênero é rico em alcalóides e saponinas. Atualmente, a família Brassicaceae, compreende aproximadamente 4000 espécies distribuídas em 400 gêneros, tendo resultado em função da fusão com a família Capparaceae, em um aumento significativo. Como exemplo, destaca-se a espécie medicinal Cleome spinosa Jacq. (rica em flavonóides) classificada até recentemente, como pertencente à família Capparaceae, tendo sido confirmado que pertence à família Brassicaceae.

PALAVRAS CHAVES: cleome spinasa, pavonia varians, etnobotânica

INTRODUÇÃO: A família Malvaceae se encontra distribuída em todo o mundo, dentre os seus gêneros mais numerosos destacam-se: Hibiscus (300), Sida (200), Pavonia (150), Abutilon (100), Nototriche (100), Cristaria (75) e Gossypiun (40). Vários estudos farmacológicos direcionados pelo uso etnobotânico, têm sido realizados com espécies desta família. No entanto, o levantamento bibliográfico da espécie Pavonia varians Moric (sinonímia: Pavonia cardiosepala Turcz) realizado entre os anos de 1950 e 2007, não acusou nenhum trabalho fitoquímico ou farmacológico que tenha sido realizado com esta planta, que também é conhecida pelos seguintes nomes vulgares: Cabeça de Boi, Malva-Grossa e Malva-folha-de-figo. A família Capparaceae amplamente reconhecida por estar relacionada com a família Brassicaceae, vem sendo questionada em função de muitas espécies terem sido erroneamente classificadas. Resultados recentes baseados em dados de DNA desenvolvidos em cloroplastos, permitiram comprovar a filogenia de Brassicaceae e Capparaceae. Estes estudos foram realizados tendo como base os critérios de monofilia (habitat, folhas, flores, estames e frutos) e permitiram o reconhecimento de ambas em uma só família (Brassicaceae) (HALL et al., 2002). A realização de análises filogenéticas usando morfologia e dados moleculares, indicaram que algumas espécies do gênero Cleome mostravam-se intimamente relacionadas com a família Brassicaceae, de modo que não havia certeza absoluta sobre a definição correta da família (RODMAN et al., 1998). A espécie Cleome spinosa Jacq. (Mussambé Branco e Mussambé de Espinhos), por exemplo, havia sido classificada como Capparaceae, e atualmente, definiu-se que pertence à família Brassicaceae (HALL et al., 2002).

MATERIAL E MÉTODOS: Amplo levantamento bibliográfico realizado com as espécies Cleome spinosa Jacq. Pavonia varians Moric em periódicos da CAPES e outras fontes científicas. Estudo analítico realizado com as espécies seguindo a metodologia segundo MATTOS (1997).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: No Brasil, as folhas e raízes de Cleome spinosa Jacq. são utilizadas na medicina tradicional, onde as folhas após maceração são aplicadas sobre a pele e agem como rubefacientes; em infusão, são estomáquicas e estimulantes do aparelho digestivo, e são eficazes na leucorréia. Externamente, utiliza-se o suco das folhas para a redução de otites supuradas e as raízes são eficazes no tratamento de bronquites asmáticas. No gênero Cleome destacam-se as seguintes classes de metabólitos: Alcalóides (DELAVEAU et al. 1973); Flavonóides (SHARAF et al., 1997; MAHMOUD et al., 2003); Fenoxicoumarina (RAMACHANDRAN, 1979); Diterpenos cembranos (COLLINS et al., 2004); Esteróides glicosídeos (SRIVASTAVA, 1982); Triterpenos dammaranos (AHMED et al., 2001) e Sais de amônio quaternários (MC LEAN et al., 1996). O levantamento bibliográfico de Cleome spinosa Jacq. (1950 até 2005) revelou apenas um estudo fitoquímico com isolamento de cembranos e flavonóides (COLLINS et al., 2004). Para a família Malvaceae, destacam-se os seguintes estudos científicos: estudos etnobotânico (KINGSTON et al., 2007) e farmacológico (SATYA et al. 2005) de P. odorata; fitoquímico (alcalóides e saponinas) de P. fruticosa (CORDOBA et al., 1995) e etnobotânico (tratamento do diabetes) de P. schiedeana (CETTO, 2005). No Brasil, as folhas de Pavonia varians Moric são utilizadas para combater infecções do aparelho digestivo, bem como inflamações de boca e garganta. As seguintes classes de metabólitos foram encontradas na família Malvaceae: Alcalóides (CORDÓBA et al., 1995); Betaínas (MCNEIL et al.,1999); Diterpenos (BHATT et al.,1983); Esteróides (GOYAL et al., 1988); Flavonóides (SILVA et al., 2006) e Saponinas (CORDÓBA et al., 1995).

CONCLUSÕES: Um amplo levantamento bibliográfico realizado com as espécies Cleome spinosa Jacq. Pavonia varians Moric revelou a importância etnobotânica destas espécies que encontram-se pouco exploradas em estudos fitofarmacológicos. Através de um estudo analítico (metodologia de MATTOS, 1997) detectamos nos extratos hidroalcoólicos de C. spinosa e P. varians, coletadas em Pitangi/RN, a possível presença dos seguintes metabólitos especiais: Flavonóides; Xantonas; Saponinas e Leucoantocianidinas. Tendo sido observado o seguinte diferencial: Alcalóides detectados para C. spinosa e Taninos, para P. varians.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao Programa Prodoc/CAPES.

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