ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Atividade antibacteriana de espécies da família Lamiaceae
AUTORES: NOGUEIRA, M.S. (UFJF) ; FABRI, R.L. (UFJF) ; SCIO, E. (UFJF)
RESUMO: A resistência de microrganismos patogênicos aos antibióticos torna notória a necessidade de encontrar novas substâncias com atividade antimicrobiana. Dessa forma, os objetivos desse trabalho foram avaliar a atividade antibacteriana, in vitro, de espécies de Lamiaceae usadas popularmente no tratamento de infecções, como O. gratissimum, L. sibiricus, R. officinalis e O. basilicum, utilizando os métodos de diluição em ágar e diluição em caldo, e realizar o estudo fitoquímico dos extratos. Todos os extratos apresentaram atividade antibacteriana para pelo menos uma cepa, justificando a abordagem etnofamacológica na busca de novos compostos bioativos.
PALAVRAS CHAVES: atividade antimicrobiana, lamiaceae, análise fitoquímica
INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, a freqüência de resistência microbiana e a associação desta resistência com doenças infecciosas graves têm aumentado de forma progressiva (JONES, 2001). Muitos microrganismos têm desenvolvido resistência tanto contra os já bem estabelecidos antibióticos de uso convencional, quanto contra os antibióticos de última geração, causando graves problemas de saúde pública e prejuízos econômicos (AUSTIN et al., 1999; PRATES & BLOCH-JÚNIOR, 2001; JONES, 2001). Além disso, os antibióticos muitas vezes estão associados com alguns efeitos adversos que incluem hipersensibilidade, imunossupressão e reações alérgicas (AHMAD et al., 1998). Esse fato torna imperativo o desenvolvimento de novas drogas que sejam capazes de lidar efetivamente com as estratégias de adaptação que esses organismos elaboram, em face de todo o tipo de situação adversa.
Isso torna necessária a busca por antimicrobianos de outras fontes, incluindo as plantas (AHMAD, BEG, 2001). Diversas plantas têm sido utilizadas com fins profiláticos e curativos de infecções e há relatos populares de que algumas espécies da família Lamiaceae são comumente usadas na medicina popular como antimicrobiano, anti-séptico, no tratamento de infecções do trato respiratório, dermatoses e feridas (FENNER, 2006).
Dessa forma, os objetivos desse estudo foram avaliar a atividade antibacteriana, in vitro, dos extratos metanólicos de quatro espécies da família Lamiaceae - Ocimum gratissimum L., Ocimum basilicum L., Leonurus sibiricus L. e Rosmarinus officinalis L. - e realizar um estudo fitoquímico comparativo dos extratos.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram utilizados extratos metanólicos das folhas de Ocimum gratissimum L., Leonurus sibiricus L., Rosmarinus officinalis L. e Ocimum basilicum L.. A atividade antibacteriana foi avaliada para sete cepas de bactérias: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Salmonella tythimurium, Shighella sonnei, Klebsiella pneumonia, Escherichia coli e Bacillus cereus.
Foi realizado o teste de diluição em ágar de acordo com procedimentos descritos na literatura (PEREZ et al., 1990; AHMAD et al., 1998). Cem mcL de cada inóculo diluído em salina (100000 CFU/ml) foram semeados na superfície de placas de Petri contendo ágar Mueller-Hinton. Orifícios de 6 mm de diâmetro foram feitos no ágar e preenchidos com 50 mcl de cada extrato diluído previamente em DMSO para uma concentração final de 100 mg/mL. Discos de papel com cloranfenicol foram usados como controle positivo. As placas foram incubadas a 37°C por 24 h. A atividade antibacteriana foi estimada pela medida do diâmetro da zona de inibição. Todos os testes foram realizados em duplicatas. Para os extratos ativos foi feito o ensaio de susceptibilidade em microdiluição em caldo usando o método descrito pela NCCLS para determinação da CIM (NCCLS, 2002). Soluções estoque de extratos foram diluídas de 5,0 a 0,003 mg/ml. Oitenta ml dessas soluções foram transferidos para microplacas, que já continham 100 mcl de meio. Para completar o volume final de 200 mcl foram adicionados 20 mcl de inóculo (1000000 CFU/ml, de acordo com a escala de McFarland) diluídos em salina. As placas foram incubadas a 37°C por 24h. Cloranfenicol foi usado como composto de referência com concentrações de 500 a 0,24 mcg/ml. A CIM foi calculada como a menor diluição que apresenta completa inibição do crescimento da cepa testada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados da atividade antibacteriana (Tabela 1) demonstraram que todos os extratos apresentaram atividade contra as cepas de P. aeruginosa, B. cereus, S. sonnei, S. typhimurium e que apenas o extrato de R.officinalis foi ativo sobre E. coli (CIM = 5 mg/ml). As cepas de S. aureus e K. pneumoniae foram sensíveis somente aos extratos de O. gratissimum e R. officinalis. B. Cereus demonstrou maior sensibilidade aos extratos de L. sibiricus (CIM = 0,625 mg/ml) e R. officinalis (CIM= 0,039 mg/ml). Considerando-se a ampla gama de patogenias causadas por estes microrganismos, sobretudo S. aureus e P. aeruginosa, causadores de infecções cutâneas, urinárias e respiratórias, pneumonias, meningites, endocardites, e diversos outros tipos de infecção, a atividade inibitória observada neste estudo preliminar sugere novas alternativas de substâncias de origem vegetal para a utilização terapêutica.
Os resultados da análise fitoquímica demonstraram que todas a espécies de plantas apresentam taninos e flavonóides (Tabela 2). A inibição do crescimento dos microorganismos testados pode estar relacionada com os constituintes presentes em cada extrato. Estudos anteriores mostraram que extratos bioativos apresentaram em sua constituição flavonóides, taninos e alcalóides. Alcalóides com atividade antimicrobiana tem seu modo de ação atribuído à capacidade que possuem de interagir com DNA (PHILLIPSON, O'NEILL, 1989) e a ação antimicrobiana de compostos fenólicos pode ser devido a capacidade desses de inativar adesinas e enzimas de microorganismos, e de se complexar com polissacarídeos (YA et al.,1998).
CONCLUSÕES: Todas as plantas apresentaram alguma atividade antimicrobiana, o que confirma seu uso popular e justifica a abordagem etnofamacológica na busca de novos compostos bioativos.
AGRADECIMENTOS: Os autores são gratos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade Federal de Juiz de Fora(UFJF) por suporte financeiro.
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