ÁREA: Ensino de Química
TÍTULO: Uso de atividade experimental para abordar tema ambiental como elemento de reflexão por professores e licenciandos de química da UFRN
AUTORES: CAMPOS, A.P.G. (UFRN) ; SILVA, M.G.L. (UFRN)
RESUMO: O uso de atividades experimentais na escola básica é permeado, entre outras, por diversas questões de natureza epistemológica e pedagógica relacionadas desde as concepções de Ciência, condições físicas e o preparo do professor. Este trabalho relata uma experiência vivenciada com professores e licenciandos sobre o uso de experimentos e os modelos de ensino. Utilizou-se como tema gerador a Chuva ácida em uma unidade didática que abordava os objetivos, conteúdos conceituais e procedimentais, uma atividade experimental incluindo etapas, material alternativo, cuidados de segurança e avaliação. Procurou-se conhecer as opiniões dos participantes com relação aos conteúdos conceituais e procedimentais, as dificuldades e potencialidades de utilização do experimento e sugestões de melhoria.
PALAVRAS CHAVES: atividade experimental, chuva ácida, formação de professores
INTRODUÇÃO: A proximidade com temas atuais na educação básica remete a uma preocupação ambiental e social (GUISOLFI, 2003). Os documentos legais no Brasil enfocam que o ensino de Química deverá estar baseado na contextualização e interdisciplinaridade (BRASIL, 1996). Autores sinalizam que as concepções dos professores sobre Ciência influenciam os modelos de ensino assumidos, mesmo que o discurso do docente seja outro (NÚÑEZ, RAMALHO, 2003; SILVA; NEVES, 2005). A dificuldade de preparar situações de aprendizagem fora da perspectiva tradicional é evidente em diferentes escolas. Entretanto, assumimos nesta pesquisa que a agência formadora deve assumir a responsabilidade em preparar os professores para enfrentar este desafio. Assim, nossa proposta é discutir uma atividade experimental simples e de baixo custo com professores de química em exercício na rede pública do RN e licenciandos procurando conhecer as dificuldades e limitações de tal atividade, os conteúdos envolvidos, sugestões de melhoria no próprio experimento. Para tanto, optamos pelo tema chuva ácida, ao considerar que a utilização de materiais diferentes fontes energéticas aliada a outros fatores alteram a biosfera resultando num acréscimo mensurável da concentração de gás carbônico na atmosfera. A chuva ácida é um fenômeno que ocorre nas grandes cidades devido à poluição causada pela emissão de óxidos na atmosfera. Este experimento demonstra formação de um dos óxidos responsáveis pela chuva ácida e ação deste sobre a vegetação (MAIA et al. 2005).
MATERIAL E MÉTODOS: Foi realizada uma seleção entre as diferentes propostas de atividades (MAIA et al. 2005; CARDOSO; FRANCO, 2002) que envolvam o tema gerador Chuva ácida tendo como eixo norteador as condições materiais do laboratório de Instrumentação para o Ensino de Química da UFRN. Após a seleção das atividades, testagem do experimento e adequação a realidade local, foi elaborado um folheto explicativo do experimento intitulado Simulando a Chuva ácida que incluía: objetivo, conteúdos conceituais e procedimentais, material, etapas da atividade, sugestão de avaliação, cuidados de segurança, referências. A atividade foi apresentada a professores de química da rede pública e a licenciandos durante dois cursos de extensão. Após a discussão do experimento foi aplicado um questionário com 4 perguntas abertas e realizada uma entrevista coletiva semi-estruturada. Os instrumentos abordavam pontos relacionados às dificuldades e potencialidades da atividade, os conteúdos conceituais e procedimentais e as sugestões de melhoria na atividade. A opção pela entrevista coletiva foi em decorrência do pouco tempo disponível para realizar uma entrevista individual. Para aproximar do objeto de estudo, em 2006 o experimento foi apresentado a 20 professores da rede pública. Em 2007 foram organizados 2 cursos: para 13 professores de diferentes municípios do RN (Mossoró, Nísia Floresta, Ceará-Mirim, Apodi, Caicó) e para 26 licenciandos em Química da UFRN. As respostas foram organizadas em tabelas, categorizadas e determinados os percentuais (BARDIN, 1977).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Após a realização do experimento foi aplicado o questionário e retomadas algumas questões da entrevista. Com relação às dificuldades observou-se que 80% dos professores ressaltaram a categoria “segurança” afirmando que a combustão do enxofre é tóxica, já os licenciandos (70%) ressaltaram a obtenção dos reagentes (no caso o enxofre e o indicador). Com relação aos conteúdos que foi dado maior ênfase aos conceituais. O que pode indicar que não há uma discussão sobre as tipologias de conteúdos (ZABALA, 1998). A sugestão dos professores foi com relação à categoria “manuseio” do kit experimental apresentado (tamanho das embalagens que continham enxofre, arame, cone). Um ponto que merece destaque é o fato da participação dos licenciandos durante a realização do experimento foi mais expressiva do que com os professores. Isto é, houve uma maior interação talvez pelo fato de na agência formadora existir poucas atividades que promovem formas de “como trabalhar na escola”. O que pode indicar também com relação aos professores é que o tema não desperte tanto interesse considerando o grande destaque em livros didáticos com inúmeras atividades apresentadas. Na categoria “conteúdos” foi dada maior ênfase aos conceituais, sendo os mais citados pelos licenciandos: ácidos, bases, nomenclatura, reações químicas, equilíbrio químico, indicadores, poluição, óxidos, balanceamento, gases, pH. Com relação à possibilidade de uso na escola, tanto professores como licenciandos afirmaram que utilizariam, pois é “atrativo e atual”, retrata o cotidiano, de fácil compreensão, mas utilizariam como “demonstração” devido ao manuseio do enxofre. Os termos atrativo e cotidiano revelaram uma visão tradicional de organização de atividades comprobatórias ou ilustrativas de um dado conceito.
CONCLUSÕES: Por meio da realização desse curso de extensão e da aplicação do instrumento de pesquisa, foi possível constatar que o interesse de participação dos alunos licenciandos é bem maior que o dos professores de química da rede pública, apesar de ambos ainda mostrarem bastante dificuldade. Quanto à utilização de experimentos como ferramenta do professor sala de aula observamos que mesmo com atividades muito divulgadas nos livros didáticos e outros meios os professores e licenciandos ainda não conseguem discutir os diferentes conteúdos envolvidos.
AGRADECIMENTOS: Aos participantes da pesquisa, ao Programa de Educação Tutorial (PET), a FINEP pelos recursos financeiros e ao Museu Parque da Ciência do RN-UFRN
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC. 1996.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
GUISOLFI,R.M.S. Contextualizando aprendizagens em química na formação escolar. Revista Química Nova na Escola, São Paulo, n.18, p. 26-30, 2003.
MÉNDEZ, M.M.A. La ciencia de lo cotidiano. Revista Eureka sobre enseñanza y divulgación de las Ciencias, Cadiz, v.1, n. 2, p. 109-121, 2004.
MAIA, D. et al. Chuva Ácida: Um Experimento para Introduzir Conceitos de Equilíbrio Químico e Acidez no Ensino Médio. Revista Química Nova na Escola. n. 21, 2005.
NUÑEZ; I.B.; RAMALHO, B.L.(Orgs.) Fundamentos do ensino-aprendizagem das Ciências Naturais e da Matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre: Sulina, 2004.
SILVA, M.G.L.; NEVES, L.S. Instrumentação para o Ensino de Química I. Natal: EDUFRN. 2006.
CARDOSO, A.; FRANCO, A. Algumas Reações do Enxofre de Importância Ambiental. Revista Química Nova na Escola, n. 15, 2002.
ZABALA, Antoni. A Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998