ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: Discutindo a contextualização do estudo da estrutura atômica com professores e futuros professores de química

AUTORES: SANTOS, L.C. (UFRN) ; SILVA, M.G.L. (UFRN)

RESUMO: A contextualização pode ser entendida como o processo de criação de cenários para as formulações abstratas de Química às quais se aplicam na solução de situações-problema ou de exercícios. No ensino de Química, nem sempre é possível contextualizar conteúdos conceituais. Entre estes estão à fluorescência e estrutura atômica que, dado sua natureza, requerem dos estudantes a capacidade de abstração. Organizou-se uma atividade procurando contextualizar tais conteúdos discutindo com professores de química de escolas da rede pública do RN e licenciandos para identificar por meio de entrevista e questionário, as opiniões e sugestões com relação ao uso do experimento. Os resultados mostram que os participantes têm dificuldades de identificar os conteúdos conceituais presentes no experimento.

PALAVRAS CHAVES: contextualização, ensino de química, formação de professores

INTRODUÇÃO: A necessidade de contextualização da aprendizagem tem sido objeto de estudo de diferentes áreas disciplinares, como a Didática das Ciências Naturais, a Psicologia Cognitiva, a Sociologia do Cotidiano, entre outras (NÚÑEZ; RAMALHO, 2004). Os estudos nessa direção apontam para a importância dos estudantes atribuírem sentidos aos significados do conteúdo escolar. a escola como uma instituição educativa, constituindo, assim, um outro contexto no qual se produzem/reproduzem diferentes conhecimentos. O conhecimento escolar, geralmente, está fundamentado no conhecimento científico como uma versão adequada para o ensino e apresenta-se como produto (de forma abstrata), pronto para ser aplicado. No contexto escolar, as situações são apresentadas aos estudantes de forma pronta, homogênea, desconsiderando as suas motivações. O contexto escolar deve ser mediador do contexto de produção do conhecimento científico e do cotidiano (SILVA; NEVES, 2006). Sendo assim, o conteúdo que é objeto de estudo da escola deve ser aquele que possibilite aos estudantes a reconstrução e a ampliação dos conhecimentos pré-existentes (ZABALA, 1998), oportunizando situações para desenvolver a capacidade de transferir o conhecimento científico para situações reais, quando necessário, como elemento de significação e funcionalidade das aprendizagens. Para tanto é necessário que o professor de química criar cenários, entre as sugestões, um recurso didático é a História da Química e a experimentação. Um dos conteúdos conceituais é a estrutura atômica, um tema de difícil explicação na escola por precisar de um alto nível de abstração dos alunos. Como sugestão, propomos a utilização do experimento “Fluorescência e Estrutura Atômica” para criar cenário para trabalhar o modelo atômico.

MATERIAL E MÉTODOS: Realizamos um levantamento de experimentos passíveis de serem contextualizados nas aulas de ensino médio e fundamental. Foi selecionada a atividade intitulada “Fluorescência e Estrutura Atômica” (NERY; FERNANDEZ, 2004). Este, por sua vez, foi adaptado com material de baixo custo e adaptado as disponibilidades do laboratório de Instrumentação para o Ensino de Química da UFRN. Após esta adaptação foi elaborada um folheto incluindo o objetivo, os conteúdos conceituais e procedimentais; o material (reagentes e vidrarias); as etapas; sugestões de avaliação; cuidados de segurança e referências. O experimento foi apresentado e discutido em 2007 durante duas oficinas: uma para professores de química da rede pública e outra para licenciandos. Nestas oficinas foram discutidas algumas idéias gerais sobre contextualização e atividades experimentais e a seguir os participantes observaram a realização do experimento. Ao final da apresentação os participantes foram convidados a expor suas opiniões com relação ao experimento, as dificuldades para sua realização, as sugestões de mudanças e a possibilidade de ser usada em sala de aula. Para tanto, foi utilizado como instrumento para conhecer a opinião dos licencandos um questionário com quatro perguntas abertas. Na oficina com os professores utilizou-se uma entrevista coletiva semi-estruturada. A opção pela entrevista coletiva foi em decorrência da disponibilidade de tempo dos professores para participar da pesquisa. Ambos os instrumentos abordavam os mesmos pontos. As respostas foram organizadas em tabelas, categorizadas e determinados os percentuais das categorias. As respostas dos participantes não diferenciaram e, portanto, foram agrupadas neste trabalho para facilitar a apresentação dos mesmos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Participaram 26 licenciandos em Química da UFRN e 13 professores sendo 7 da capital do RN e 6 do interior (Mossoró, Nísia Floresta, Ceará-Mirim, Apodi e Caicó). Com relação às dificuldades de utilizar o experimento 70% sinalizaram o custo do equipamento de emissão de raios UVA. Este foi adaptado com uma lâmpada de emergência e o custo final foi R$50,00. Outra dificuldade (20%) foi o fato da radiação UVA ser prejudicial ao homem. Acreditamos que os participantes não entenderam a função da caixa fechada com a lâmpada. Outros 5% afirmaram que o conteúdo conceitual é de difícil entendimento pelos alunos. O que pode significar o não entendimento da proposta de contextualização. Outros 5% afirmaram não ter dificuldade. Com relação aos conteúdos conceituais envolvidos, 80% citou a estrutura atômica e 20% não respondeu. Os participantes não citaram conteúdos procedimentais ou ainda o uso da História da Química como recurso didático ou de outros possíveis cenários para a contextualização. Citaram como elevado nível de complexidade (40%) e, portanto de difícil entendimento, 40% entendeu como importante e acessível aos alunos e 20% não opinaram. A grande maioria disse que utilizaria a atividade experimental em sala de aula, 90%, e apenas 10% não utilizaria, por causa das dificuldades à realização do experimento e por não conseguir observar a potencialidade do uso do mesmo em aula. Como sugestão para melhoria da atividade experimental 45% sugeriu o uso de uma proteção na lâmpada que impedisse totalmente a propagação de raios UVA pelo ambiente, de maneira que só as substâncias pudessem receber a radiação, 15% sugeriram o uso de mais substâncias que apresentassem fluorescência à emissão UVA e 5% apontaram como possível mudança a diminuição do custo e 15% não opinaram.

CONCLUSÕES: Nas duas oficinas com professores de química da rede pública como com a dos licenciandos em Química da UFRN observou-se a dificuldade de reconhecer potencialidade da contextualização no uso de atividades experimentais. Ressalta-se o papel da agência formadora em preparar o profissional da docência. Isto é, em contribuir com propostas de criar cenários para discutir e realizar tais atividades na escola da educação básica.

AGRADECIMENTOS: Ao Programa de Educação Tutorial-MEC/SESU pelo apoio da bolsa, à FINPE e ao Museu Parque da Ciência do Rio Grande do Norte-UFRN

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 39 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
NERY, A. L. P.; FERNANDEZ C. Fluorescência e Estrutura Atômica: Experimentos Simples para abordar o Tema. Revista Química Nova na Escola, n.19, 2004.
NUÑEZ; I.B.; RAMALHO, B.L.(Orgs.) Fundamentos do ensino-aprendizagem das Ciências Naturais e da Matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre: Sulina, 2004.
SILVA, M.G.L.; NEVES, L.S. Instrumentação para o Ensino de Química I. Natal: EDUFRN. 2006.
ZABALA, Antoni. A Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998